Análise: Campanha de Lula usa polêmica do “dinheiro vivo” para contra-atacar Bolsonaro
Após desempenho ruim em debate na seara da corrupção, PT tenta colar no presidente suspeitas contra sua família, diz Fábio Graner, do JOTA
Depois de duas semanas na defensiva, a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) planeja atacar, numa tentativa de manter ou aumentar a taxa de rejeição do rival direto Jair Bolsonaro. O primeiro campo escolhido pelo ex-presidente para o confronto é o da corrupção. A guinada na comunicação deve ser debatida nesta terça-feira (6) em reunião do QG de partidos que integram a coligação lulista.
Auxiliares do petista avaliam que a conduta errática de Lula no primeiro debate na TV quando questionado sobre o assunto por Bolsonaro teve efeito negativo sobre indecisos e eleitores de outros candidatos de centro.
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Diante desse diagnóstico, estrategistas lulistas monitoraram durante uma semana os temas mais sensíveis ao bolsonarismo na seara ética e decidiram encampar a tese do “dinheiro vivo”, que obteve alcance fora das bolhas políticas.
A campanha petista produz peças explorando a reportagem do Portal UOL, que apontou a aquisição de 51 imóveis por familiares de Bolsonaro supostamente com pagamentos em espécie, o que denotaria dúvida sobre a origem dos recursos.
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Risco calculado
O terreno das acusações de corrupção é movediço para Lula, que foi preso pela operação Lava-Jato e conviveu com escândalos de largas dimensões em seus mandatos, como o Mensalão e o Petrolão.
Operadores políticos do PT acreditam, contudo, que Bolsonaro não pode ser poupado e liberado de dar explicações durante a campanha pelas denúncias de malfeitos do seu entorno familiar. “Deixar o presidente confortável para atacar não me parece a melhor estratégia. Precisamos mostrar ao eleitor que ele também tem problemas e contradições graves nessa área. Não é disputa do bem contra o mal, como ele quer”, afirma ao JOTA uma fonte credenciada da campanha lulista.
O que a equipe de Lula deseja, contudo, é evitar que Bolsonaro tenha sucesso em sua tentativa de expandir a rejeição de Lula até 2 de outubro sem que também exista uma intensificação do desgaste da imagem do presidente. “É uma eleição em que o menos rejeitado vencerá. Não podemos ficar paralisados. Temos de atuar no campo da desconstrução também”, completa essa fonte.
Lavajatismo
No front bolsonarista, a nova investida de Lula reforça a ideia de aproximação da campanha com o eleitorado lavajatista, que apoiou a eleição do presidente em 2018, mas hoje está dividido, sobretudo após a saída do ex-juiz Sergio Moro da disputa.
Emissários de Bolsonaro e Moro têm conversado nas últimas semanas com vistas a um entendimento que poderia ser oficializado em eventual segundo turno.
Com a ofensiva de Lula sobre os imóveis adquiridos pela família Bolsonaro, há quem defenda no QG bolsonarista uma aceleração nas tratativas, o que serviria para trazer ao centro do debate eleitoral os casos do tríplex do Guarujá e do sítio em Atibaia, que ganharam repercussão nacional e serviram para compor o quadro que levou à condenação de Lula em duas instâncias, antes de o STF apontar erro de forma e devolvê-los à estaca zero, liberado o ex-presidente para concorrer ao Planalto.