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Análise: Com menor impacto digital, 7 de Setembro tem organização mais tradicional
A preparação para o 7 de Setembro é o sinal mais claro até agora de uma mudança de ênfase da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) em relação às redes sociais. É um movimento que aponta para um rearranjo delicado das forças que cercam o presidente. Enquanto o entorno presidencial não demonstra nenhuma preocupação com o tamanho do público em Brasília, Copacabana, no Rio de Janeiro, e até na avenida Paulista, em São Paulo, nas redes e nos grupos de WhatsApp e Telegram há uma movimentação muito menor que no ano passado.
O recado fica claro: não é mais a mobilização orgânica de apoiadores que está no centro da estratégia da campanha presidencial. As redes continuam importantes e servem de escudo para ofensivas de propaganda rival ou para denúncias, mas seu papel é cada vez mais confinado à comunicação, ao alinhamento de mensagem e expectativas. A organização dos atos de campanha foi tomada pelas estruturas partidárias, que têm feito a articulação por cima com igrejas e entidades.
Um marco dessa virada foi o primeiro ato oficial da campanha, em juiz de fora. Nas redes, houve grande movimentação prévia em torno da mística do retorno do presidente ao local em que sofreu o atentado. A máquina digital comandada por Carlos Bolsonaro recebeu o reforço de influencers políticos locais, como o vereador bolsonaristas Nikolas Ferreira, de Belo Horizonte.
E, mesmo assim, o público decepcionou. Isso irritou o presidente e exigiu o uso de ângulos criativos nas filmagens. O episódio reforçou o movimento dos últimos meses de tratar o 7 de Setembro como uma operação logística. Ainda mais após a escolha de Copacabana como palco principal.
O entorno do Rio, embora populoso, não possui o cinturão de cidades de classe média que cerca São Paulo. E o transporte público é precário. Boa parte da movimentação nos grupos fluminenses têm sido de caráter prático: horários de vans e ônibus, divisão de pontos de partida entre candidatos a deputado, orientações a fiéis sobre locais de concentração.
Um movimento parecido, mas mais orgânico, acontece entre os organizadores do ato na Paulista. Conforme apurou o analista-chefe JOTA Fábio Zambeli, o presidente vai monitorar o tamanho do ato em São Paulo para decidir se parte para lá depois do discurso no Rio. Quatro ou cinco quarteirões da Paulista cheios de apoiadores já seriam uma demonstração de força suficiente, com boas imagens para as redes, mas os candidatos locais tentam mobilizar uma lotação ainda maior.
É importante destacar que ao mesmo tempo em que as redes perdem a centralidade de organização dos atos de campanha, elas continuam sendo o fórum de gestação e teste das mensagens de Bolsonaro. E os dias que antecedem o 7 de setembro mostram, mais uma vez, um presidente disposto a falar para sua base mais fiel e, a partir dela, projetar uma imagem de força que se contraponha à desvantagem nas pesquisas e a medidas institucionais de contenção do seu poder.
Há neste ano menor expectativa entre os apoiadores de um ato objetivo de força, como chegou a haver ano passado. Os ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) têm sido deslocados da Corte em si para um duelo ainda mais individualizado com Alexandre de Moraes, em seu papel duplo de relator do inquérito dos atos antidemocráticos e de presidente do TSE.
A operação contra empresários bolsonaristas por mensagens no WhatsApp deram fôlego ao discurso de que a defesa da liberdade é feita por Bolsonaro e que a censura e o autoritarismo vêm da Justiça. A ação da Justiça Eleitoral na casa de Sérgio Moro no último fim de semana acabou por aproximar um pouco mais o discurso do ex-juiz e do atual presidente, fortalecendo a aproximação das últimas semanas entre eles. Pode ser a senha para reunificar os lava-jatistas aos atos de rua comandados por Bolsonaro.
A celebração em si do bicentenário da Independência foi perdendo força nas redes bolsonaristas depois do pequeno impacto da vinda do coração de Dom Pedro I. Também conta, no geral, a escolha da mídia e das empresas de quase ignorarem a data, pela associação óbvia com o governo. Com um desfile militar em meio a milhares de apoiadores e a defesa da liberdade, Bolsonaro sinaliza um ato seu e para os seus, mostrando o Exército ao seu lado, imagens que para ele desmentem qualquer Datafolha e a insubmissão ao TSE e a Alexandre de Moraes.
E a sua associação ao patriotismo, ao verde-amarelo, contra o vermelho do PT. O bônus esperado pela campanha é uma visita “surpresa” a São Paulo, de preferência ao lado de Tarcísio de Freitas. E, para um bom post, meia Paulista basta.
Por Iago Bolivar, jornalista e consultor digital, é colunista do Jota.
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