Análise: Em aceno para 2023, Pacheco assume defesa do TSE e constrange Lira e Bolsonaro

De olho em novo mandato como presidente do Senado, mineiro se alinha ao Judiciário na defesa das urnas e acena a Lula, diz Fábio Zambeli, do JOTA

Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado (Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado)
Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado (Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado)

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), optou por demarcar posição em relação ao colega da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e se alinhou politicamente ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no embate travado com o presidente Jair Bolsonaro (PL) em torno da segurança das urnas eletrônicas.

Pacheco, que chegou a ser cotado como pré-candidato, usou discurso de abertura dos trabalhos na Casa para enviar mensagem ao Planalto, ao Judiciário e, especialmente, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas de intenção de voto.

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Em campanha por novo mandato à frente da Mesa Diretora, o senador mineiro acena à configuração do Senado a partir da renovação de um terço das cadeiras, em 2023, já mirando possível apoio do petista em caso de vitória nas urnas.

Pacheco calculou as expressões usadas em sua fala, de modo a registrar sua confiança no sistema eleitoral e seu compromisso em empossar o eleito “pelo voto popular” em 1º de janeiro.

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“Faço um apelo a todos os cidadãos, a todos os segmentos da sociedade e a todas as autoridades públicas no sentido da pacificação de ânimos, no sentido do cultivo da razoabilidade e da civilidade. Dirijo-o especialmente aos agentes do Estado e aos candidatos nas eleições que se aproximam”, declarou o senador, em recado indireto a Bolsonaro.

A reação do presidente do Senado ocorre na semana em que o STF e o TSE retomaram as atividades pós-recesso com pronunciamentos articulados de cobrança por pacificação na campanha e validação do sistema eleitoral, hoje fortemente contestado por Bolsonaro, seus apoiadores e parte das Forças Armadas.

Ao se solidarizar com Edson Fachin e Alexandre de Moraes, hoje na chefia da Corte eleitoral, Pacheco procura se distinguir de Lira, expoente do centrão, que tem se recusado a fazer manifestações públicas em defesa do sistema eleitoral.

A exceção foi uma espécie de desabafo feito pelo deputado na convenção do seu partido em que disse, ao lado de Bolsonaro, que não precisaria soltar nota oficial defendendo o TSE.

Ponto futuro

De olho no redesenho de poder no Legislativo a partir de 2023, o senador gostaria de ser lembrado pelo respaldo institucional ao pleito, sobretudo se Lula for o vencedor, já que trabalha para liderar uma coalizão que abarcaria PSD, MDB, União Brasil e outras siglas do campo do centro para seguir na presidência por mais um mandato.

Influenciou na decisão de Pacheco o relato que chegou até ele na manhã desta quarta-feira (3/8) dando conta de que Bolsonaro havia desmarcado sua ida à Fiesp no próximo dia 11, data em que será apresentado um documento endossado por entidades, acadêmicos e representantes da sociedade civil em defesa da democracia e das urnas eletrônicas.

Na avaliação de operadores políticos do senador, o discurso alinhado ao Judiciário ajudaria a fragilizar a narrativa bolsonarista de que contaria com o respaldo, ainda que parcial, do Legislativo em sua ofensiva para contestação do resultado eleitoral.

Melhor prevenir

Ainda na esteira da tensão de setores da esquerda com o 7 de Setembro, seis partidos de oposição ingressaram com uma ação de inconstitucionalidade no STF contra a possibilidade de convocação de forças policiais dos estados feitas pelo governo federal ou Forças Armadas. A ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 997 foi distribuída ao ministro Dias Toffoli.

A investida é uma resposta ao discurso de Bolsonaro, que sinalizou que pretende misturar as paradas militares previstas para o Dia da Independência com as manifestações que vem convocando em favor do seu governo e contra o STF.

(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)
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