Análise: Lula empodera Gleisi no PT e oficializa ‘alter ego’ do Planalto na pauta econômica

Em busca de unidade interna, presidente avaliza ex-ministra no comando do partido até 2025

Presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann - Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil/José Cruz/Agência Brasil
Presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann - Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil/José Cruz/Agência Brasil

Com a renovação do mandato de Gleisi Hoffmann no comando do PT até 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva evita disputas internas e chancela a autoridade política da ex-ministra, hoje uma das figuras mais influentes do Planalto, mesmo não tendo cargo no governo.

O que é o PT hoje

O partido do presidente, que está em processo de reconstrução nacional após recuperar o poder, hoje gerencia 10 ministérios, incluindo os dos núcleo-duro, terá um papel diferente do desempenhado nas duas primeiras gestões de Lula, quando foi dirigido por José Genoino e Ricardo Berzoini.

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À diferença desses colegas, Gleisi participou ativamente da montagem da Esplanada, mantém assento cativo nas negociações que envolvem outros partidos aliados e de oposição e os expoentes do centrão no Congresso Nacional, onde exercerá o controle das pautas mais importantes, e se firma com porta-voz das demandas políticas de Lula na seara econômica — funcionando como espécie de alter ego desenvolvimentista do Planalto para temas sensíveis aos agentes financeiros, como a autonomia do Banco Central (BC), as metas de inflação, as privatizações e as reformas.

Não significa que o discurso ideológico da presidente do PT prevalece nas ações do governo, mas fica assegurada a ela a dianteira para a mobilização da base social de Lula.

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Multitarefas

A deputada reeleita com votação recorde no Paraná é vista como uma sombra na Casa Civil, pasta que ocupou durante a gestão de Dilma Rousseff.

Lula espera também que ela arbitre pendengas comuns entre próceres do PT que ocupam postos de relevo no governo, como Fernando Haddad, titular da Fazenda; Aloizio Mercadante, presidente do BNDES; e Rui Costa, da Casa Civil.

Foi dela, por exemplo, o voto de minerva na decisão tomada pelo Planalto de estender os subsídios aos combustíveis, medida combatida por Haddad na transição.

É nela também que residem as expectativas de Lula de preservar o partido em sua terceira passagem pelo Planalto com uma inédita unidade. Sempre envolto em rivalidades históricas de alas, o PT agora trata Lula como um “mito político” e Gleisi como “intocável”, exatamente pela delegação dada pelo presidente da República. Não há ânimo interno para contestá-los, pelo menos enquanto dura a “lua de mel” com a volta ao poder.

Interlocutores petistas ouvidos pelo JOTA avaliam que Gleisi é uma aposta de segurança e extremamente leal a Lula, que poderá inclusive supervisionar os movimentos do ex-ministro José Dirceu, que emplacou seu filho Zeca na liderança da legenda na Câmara.

Homem-forte da primeira gestão lulista, Dirceu tem trânsito em todas os segmentos do PT e vem operando politicamente no Congresso, tendo sido ativo na composição que reelegeu Arthur Lira (PP-AL) à Mesa da Câmara.

Onde pega

Um dos postos-chave para a nova fase do PT é o controle da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. O indicado para a função é outro ex-presidente do partido, o deputado Rui Falcão.

O fórum é vital para delimitar as chances de avanço das proposituras que interessam ao Executivo, embora Falcão venha reafirmando que a competência para determinar a pauta do colegiado seja de Lira.

A ideia debatida por ora nas instâncias partidárias é abrir espaço para que a CCJ reproduza em larga escala o modelo de assembleias, audiências públicas e consultas a organismos da sociedade civil como maneira de oferecer protagonismo à agenda ideológica que sustentou a vitória eleitoral de Lula, esfriando o ímpeto da pautas de valores e costumes preconizada pela maioria de centro-direita, mais alinhada ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

FÁBIO ZAMBELI – Analista-chefe em São Paulo. Jornalista com 28 anos de experiência em cobertura política e dos Três Poderes em São Paulo e Brasília. Foi repórter e editor da Folha de S. Paulo e diretor de inteligência e atendimento na área pública da FSB Comunicação.

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