Análise: Lula promete a aliados agir para aprovar PEC e fechar primeiras indicações ao governo

Presidente eleito volta a Brasília para desatar nós da transição; tendência é mais pragmatismo e menos barulho político, diz Fábio Zambeli, do JOTA

Alckmin é vice-presidente e ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio de Lula (Foto: Reprodução/Twitter/@ricardostuckert)
Alckmin é vice-presidente e ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio de Lula (Foto: Reprodução/Twitter/@ricardostuckert)

Com a aguardada volta a Brasília, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva deixará momentaneamente o campo da retórica, que tem lhe causado dissabores na economia, para o da prática.

O petista, após viagem ao Egito e a Portugal, tem anunciado a interlocutores que mergulhará nas tratativas em torno da PEC que abre espaço para o pagamento de programas sociais em 2023. Também promete se dedicar à formação de sua equipe, ainda sem um desenho claro e nomes fortes politicamente para dividir com ele a responsabilidade das medidas iniciais da sua terceira gestão.

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As providências de transição, hoje a cargo do vice eleito Geraldo Alckmin, do coordenador do programa de governo, Aloizio Mercadante, e da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, serão compartilhadas com Lula, a quem caberá unificar o discurso e fechar questão sobre os prazos, valores e ritos da proposta de emenda constitucional com líderes do Congresso incumbidos de avaliar a demanda do governo eleito.

Auxiliares que atuam no gabinete do Centro Cultural Banco do Brasil criticam o excesso de porta-vozes sem validação lulista para o tema. Congressistas fazem a mesma ponderação e se queixam de que não existe hoje por parte do time de Lula uma mensagem clara sobre a espinha dorsal da PEC e os itens que seriam ‘inegociáveis’.

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“O Congresso tem interesse em votar e ajudar, mas é preciso que tenhamos uma referência para iniciar as tratativas com as bancadas. Entender o que é passível de negociação e o que não é. Do jeito que querem, está claro que não passa”, afirma um dirigente partidário do Centrão ao JOTA.

Assessores de Lula já admitem que o prazo de quatro anos solicitado para a excepcionalidade do Bolsa Família no teto de gastos é “inexequível”, pois melindra o capital político dos próprios parlamentares.

Outro ponto que deve ser retirado do texto é a liberação de R$ 22 bilhões de receitas fora da regra fiscal vigente para investimentos públicos.

O valor reivindicado do “waiver” para o próximo ano, contudo, ainda é tema de conversas. Integrantes do QG transitório defendem que a cifra de R$ 175 bilhões é necessária para viabilizar o programa nos patamares prometidos na campanha.

Em busca de um valor intermediário entre o que o governo eleito quer e o que o Congresso considera viável, Lula terá que se envolver no diálogo, afirmam seus auxiliares.

No entendimento desses interlocutores, somente o presidente eleito teria cacife para conduzir uma negociação política mais ampla, envolvendo temas caros ao centrão, como a recondução de Arthur Lira (PP-AL) à presidência da Câmara e a manutenção das emendas de relator, assunto amplamente combatido pelo PT durante a corrida presidencial.

Incertezas e riscos

Sob recomendação médica para evitar excessos com a voz após retirada de lesões na laringe, Lula pode ganhar mais tempo para anunciar os primeiros ministros, mas a pressão para a divulgação pelo menos da equipe econômica ganhou proporções dramáticas, segundo aliados do petista.

A incerteza sobre a configuração das pastas do Planejamento e da Fazenda, com o favoritismo de um político do PT para o cargo mais relevante da Esplanada, seguirá contaminando a percepção de risco, mesmo com o enxugamento da PEC.

Fontes do JOTA seguem afirmando que o favorito para a Fazenda é Fernando Haddad. Acompanhando Lula no recente roteiro internacional, o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação foi encarregado de telefonar a Ilan Goldfajn para avalizar sua indicação ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e parabenizá-lo pela vitória na eleição.

O gesto foi interpretado como um sinal de que Haddad cresce na confiança de Lula para o posto.

Quem esteve com o presidente eleito nos últimos dias relata que ele “sentiu o solavanco” do mercado na quinta-feira passada, quando suas declarações sobre a cotação do dólar e o pregão da Bolsa impactaram negativamente nos ativos e na percepção de investidores.

Falando menos e procurando suavizar suas falas sobre responsabilidade fiscal x responsabilidade social, o petista pretende atravessar o período turbulento de transição com mais pragmatismo e menos revanchismo, dizem essas fontes.

(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)
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