Análise: Lula reforça luta de classes na economia e Moraes rechaça “anistia” a bolsonaristas

Disputa de narrativas com Guedes sinaliza força do vetor ideológico na nova gestão, diz Fábio Zambeli, do JOTA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Armando Franca/AP)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Armando Franca/AP)

No dia da diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva, as equipes do presidente eleito e de Jair Bolsonaro intensificaram a guerra de narrativas na economia. Em paralelo, os discursos da solenidade realizada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) evidenciam a extensão do clima de palanque.

A convergência entre os dois episódios está na temática que embala a disputa entre lulistas e bolsonaristas, tangenciando a luta de classes.

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Enquanto o petista procura demarcar posição na transição, reiterando a retórica de “destruição nacional” e prometendo colocar os pobres no orçamento e os ricos no Imposto de Renda, a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, passou a recorrer aos números para reforçar a tese de que o quadro fiscal está favorável.

“Será o primeiro governo que encerra o mandato com endividamento em queda. Governos anteriores ampliaram a relação dívida/PIB em quase 20 pontos do PIB sem enfrentar pandemias ou guerras”, sustenta o ministério da Economia, em nota distribuída por sua assessoria para contrapor a tese do “estado quebrado”.

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A equipe de transição respondeu a Guedes, sustentando que o atual governo não só quebrou o Estado, como o fez ‘comprometendo serviços essenciais e investimentos públicos fundamentais’.

A nota distribuída pelo PT enfatiza os conceitos do discurso de Lula no TSE. “Para o andar de cima, o Estado não está quebrado. Para os que mais precisam, há um verdadeiro apagão fiscal, que compromete os serviços públicos essenciais aos mais pobres e que não assegura o mínimo para a sobrevivência”, relata o texto do time de Aloizio Mercadante, responsável pela sistematização dos trabalhos do gabinete instalado no Centro Cultural Banco do Brasil.

‘Terceiro turno’

Ao contrário do que se esperava do evento de diplomação, os movimentos políticos de Brasília indicam que a eleição não acabou.

A despeito do cumprimento do protocolo de transição, ou seja, o reconhecimento das condições legais para a posse de Lula, o ambiente ainda é de “terceiro turno”. É fato que estão dadas as condições institucionais para a mudança de governo e passagem da faixa presidencial em 1º de janeiro.

Mas os efeitos da disputa presidencial mais acirrada pós-redemocratização vão seguir contaminando a saída de Bolsonaro e o ingresso de Lula no Planalto para cumprir seu terceiro mandato.

O petista não dá sinais de que abandonará a retórica da “herança maldita”, já usada por ele em outros momentos históricos e, dificilmente, fará gestos de conciliação nacional. O tom predominante na equipe de transição é de revanche e Lula está imerso na cápsula ideológica que tem prevalecido nos grupos temáticos criados para diagnosticar o quadro orçamentário e as políticas públicas legadas pelo atual governo.

Ele tem sido aconselhado a adotar um tom diferente, sobretudo diante da instabilidade no Ministério da Defesa. Indicado para a Pasta, José Múcio Monteiro é um dos futuros auxiliares que mais tem argumentado com Lula sobre a necessidade de dialogar com o conjunto da sociedade civil, deixando o processo eleitoral para trás e mirando a construção da governabilidade para além da maioria legislativa.

Pra bom entendedor…

A mensagem de que a eleição terá “cauda longa”, ou seja, seguirá rondando o processo político brasileiro, encontra eco na própria Justiça Eleitoral.

O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, usou a cerimônia de diplomação para sinalizar que não toparia qualquer entendimento com os apoiadores de Bolsonaro e com o próprio chefe do Executivo.

O ministro prometeu identificar e responsabilizar quem fez ataques à democracia durante a campanha. A mensagem é dirigida não apenas ao grupo mais próximo do presidente, mas também terá repercussão entre os bolsonaristas que insistem em manter acampamento em frente a quartéis para pedir intervenção militar, instrumento não previsto na Constituição, e não aceitam o resultado das urnas.

(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)
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