Análise: Ofensiva econômica de Bolsonaro deixa Lula em encruzilhada no discurso do auxílio
Ex-presidente tenta explorar caráter eleitoreiro do pacote social do governo, mas teme confusão na base mais fiel do Nordeste, diz Fábio Zambeli, do JOTA
A perspectiva de melhora dos índices de intenção de voto do presidente Jair Bolsonaro (PL) diante das novas medidas que induzem o eleitorado a perceber uma recuperação da economia deixa a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas, numa espécie de encruzilhada. Auxiliares do ex-presidente, que vinham apostando nas comparações de indicadores com as gestões anteriores do petista e no silêncio diante da nova rodada de benefícios sociais que está saindo do forno, agora entendem que é chegada a hora de enfrentar o pacote social, tachando-o de “temporário” e “eleitoreiro”.
O problema é que Lula, embora demonstre enorme preocupação com os efeitos do novo auxílio, do vale-gás e dos vouchers para categorias específicas, não esconde o receio de elevar o tom das críticas e ser apontado pelo rival como “inimigo dos mais pobres”, sua base eleitoral mais fiel.
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A tentativa de calibrar o discurso e minimizar danos vem sendo testada pelo ex-presidente nas ocasiões em que se expõe ao empresariado, como no evento da última terça-feira (9/8)0 na Fiesp.
O petista abriu seu pronunciamento advertindo a plateia, formada por industriais, sobre o que chamou de “maior programa de transferência de dinheiro em campanhas desde o Império”, viabilizado pela PEC das Bondades.
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Integrantes da cúpula da Fiesp, que acaba de endossar manifesto pela democracia, enxergaram a fala de Lula como um sinal tácito de que a campanha petista está apreensiva com os resultados eleitorais do conjunto de iniciativas que começou a chegar às contas dos beneficiários nesta terça-feira.
O Nordeste, onde Bolsonaro sofre o pior revés para Lula nas pesquisas, lidera o ranking de contemplados, com 8,5 milhões de famílias.
A Região Sudeste, em que deve ser travada uma batalha decisiva pelo eleitorado entre os dois principais candidatos, aparece na sequência, com 5,2 milhões de famílias beneficiadas.
Na divisão por estados, a Bahia tem o maior número de beneficiários. São 2,25 milhões de famílias. Na sequência, aparecem São Paulo (2,19 milhões), Pernambuco (1,44 milhão), Minas Gerais (1,43 milhão), Rio de Janeiro (1,34 milhão) e Ceará (1,31 milhão).
Eleitorado feminino
Todos esses dados, contudo, devem ser revisados para cima, visto que ao menos 2 milhões de novos contemplados tendem a entrar na folha de pagamento federal, com destaque para famílias que residem nas regiões metropolitanas e que passaram a atender aos requisitos básicos para acessar os recursos do auxílio.
Não à toa, a ordem no QG lulista é assegurar as condições no programa de governo para a manutenção do auxílio de R$ 600 “a todo custo”, ou quem sabe, discutir um redesenho do programa que permita pagamentos ainda mais robustos.
Os cálculos mais otimistas do entorno bolsonarista apostam que apenas o incremento no programa pode render uma oscilação de 4,5% nas pesquisas a partir do fim do mês. A lógica é que Bolsonaro ganharia cerca de 2,8 milhões de votos no contingente total de eleitores, além de converter apoio em cima do eleitorado lulista em aproximadamente 2 milhões de votos.
Desse contingente, a aposta do centrão é de que pelo menos 3,8% do avanço de Bolsonaro se daria sobre um eleitorado feminino, já que 85% das famílias cadastraras tem mulheres à frente do cadastro.