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Análise: Planalto prioriza entregas sociais para driblar crise de imagem com alta de impostos
O núcleo-duro do governo espera destravar, com apoio dos ministros da área social, uma agenda robusta de anúncios de urgência para contrapor a percepção de piora na economia e evitar que medidas impopulares tomem a dianteira do debate político em Brasília.
“Databomba” e impostos para jogos eletrônicos
O entendimento consolidado no QG lulista é o de que o pacote anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a despeito dos esforços para poupar o bolso do consumidor, alimenta um ciclo tóxico para a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Além do “Databomba”, apelido dado por petistas ao efeito do aumento do preço do combustível nas taxas de aprovação presidencial, as iniciativas do titular da Fazenda tangenciam temas áridos como a elevação da carga tributária — depois da taxação de exportação de óleo cru, Haddad promete criar agora um imposto para jogos eletrônicos e apostas, segmento que movimenta cifras bilionárias.
O comando do PT, que foi peremptoriamente contrário ao fim dos subsídios à gasolina, e a Casa Civil, também alinhada às preocupações da direção petista, movem suas peças no sentido de oferecer um respiro com notícias positivas para o chefe do Executivo surfar antes dos 100 primeiros dias de administração.
O pomposo relançamento do Bolsa Família na quinta-feira (2), é apenas o ponto de partida dessa ofensiva popular de Lula.
A ideia é reproduzir o bem-sucedido modelo do Minha Casa, Minha Vida, cuja retomada deu alívio ao presidente, permitindo uma linha direta com sua base social e ampla visibilidade no noticiário, com fartas imagens de proximidade com o povo.
O que é o “Água para Todos”
A gestação deste plano passa pela mesa de Miriam Belchior, ex-ministra do Planejamento e número 2 da Casa Civil hoje. Ela dirige um time de técnicos que esteve na linha de frente do PAC, vitrine de gestões anteriores de Lula.
O provável ponto de partida da ofensiva é o “Água para Todos”, programa que promove a implantação de cisternas para famílias de baixa renda residentes na zona rural e sem acesso à rede pública de abastecimento, em especial nas regiões Norte e Nordeste.
A versão turbinada do programa vem à tona no mesmo momento em que Jair Bolsonaro (PL) volta a tratar do tema, divulgando um documentário sobre a chegada das águas do Rio São Francisco ao sertão nordestino.
Medidas serão apresentadas em eventos dos 100 dias
Tecnicamente, a mobilização vem sendo tratada como pacote de “transversalidade”, conectando ações de cunho social que são empreendidas em vários ministérios.
Na visão do grupo que coordena as atividades, o Bolsa Família é o carro-chefe da pauta de fortalecimento da proteção social e dinamização do mercado de trabalho.
O Planalto também planeja usar os eventos dos 100 dias para empacotar essas medidas e apresentá-las como referenciais da nova gestão, resgatando marcas bem percebidas pelo eleitorado durante o governo petista (2003-2016).
E cita entre os destaques a política de valorização do salário mínimo, a retomada de 14 mil obras paralisadas, do Minha Casa Minha Vida, com foco no atendimento das faixas mais vulneráveis da população, e a reinstalação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.
FÁBIO ZAMBELI – Analista-chefe em São Paulo. Jornalista com 28 anos de experiência em cobertura política e dos Três Poderes em São Paulo e Brasília. Foi repórter e editor da Folha de S. Paulo e diretor de inteligência e atendimento na área pública da FSB Comunicação.
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