ANÁLISE: Por que suspeita sobre Bolsonaro vazar informações para Milton Ribeiro não deve ter consequências jurídicas?

Outros casos de suspeita de corrupção e de interferência na PF envolvendo o presidente não avançaram na Justiça, diz Felipe Recondo, do JOTA

Presidente Jair Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR)
Presidente Jair Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR)

A suspeita de que o presidente Jair Bolsonaro (PL) vazou informações para Milton Ribeiro sobre a operação da Polícia Federal que investigava o ex-ministro da Educação provocou mais desgastes políticos para o presidente no grupo em que ele já está desgastado. A prisão de Ribeiro e a reação imediata de Bolsonaro trouxeram prejuízos políticos para o presidente, mas a nova suspeita de que ele teria avisado seu ex-ministro das chances de uma operação não devem ter consequências jurídicas. E o passado recente mostra isso.

Os áudios foram amplamente divulgados pela imprensa nesta sexta-feira (24) e fizeram com que o Ministério Público Federal (MPF) pedisse uma investigação sobre a possível interferência do presidente no caso de Ribeiro. O caso deverá chegar ao gabinete da ministra Cármen Lúcia, que deve dar andamento ao caso. Entretanto, é sempre necessário lembrar que a investigação, para avançar, precisa da atuação da Procuradoria Geral da República (PGR). E sem a iniciativa de Augusto Aras, nenhuma denúncia ou acusação avançaria.

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A imprensa noticiará o passo a passo dessa investigação. As decisões da ministra Cármen Lúcia, os pedidos de prova e mesmo a eventual paralisia do processo no Ministério Público. Mas essas notícias não afetarão a resiliência eleitoral de Bolsonaro e, a esta altura do mandato, depois de tantas outras suspeitas, provavelmente terá o mesmo destino das demais: o arquivo.

Vale lembrar que quando o então ministro da Justiça Sergio Moro deixou o cargo, acusando o presidente de interferência na Polícia Federal, falou-se em bala de prata contra o presidente. Algo que nunca apareceu. A investigação não foi a lugar algum. E Bolsonaro surgiu, na fita com o registro da fatídica reunião ministerial em que falou do assunto, assumindo abertamente que trocava o comando da corporação porque queria obter informações. Não queria ser pego de surpresa.

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Também é bom lembrar que muitos apostavam que a denúncia do deputado Luiz Miranda (Republicanos-DF) na CPI da Covid-19 geraria consequências políticas e jurídicas drásticas para Bolsonaro. Até agora, no entanto, não houve nenhuma consequência. Augusto Aras até agora não deu destino ao relatório da CPI.

É fato que a prisão de Milton Ribeiro provoca desgaste para o presidente e também cria um certo ruído com um grupo dos evangélicos, que o apoia. Também é evidente que as suspeitas de obstrução às investigações, com o vazamento de informações para o investigado, precisam ser apuradas. Mas os exemplos não indicam que este caso será diferente dos demais.

(Por Felipe Recondo, diretor de conteúdo do JOTA em Brasília)
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