Bloqueio em rodovias acende alerta ao mercado, mas não deve pressionar Ibovespa, dizem analistas

Mercado não precifica bloqueios em estradas, mas aguarda pronunciamento de Bolsonaro e acende alerta

Caminhoneiros bolsonaristas fecham o a acesso à BR 101 na altura de Itaboraí (Imagem: Gabriel de Paiva\ Agência O Globo)
Caminhoneiros bolsonaristas fecham o a acesso à BR 101 na altura de Itaboraí (Imagem: Gabriel de Paiva\ Agência O Globo)

O bloqueio de rodovias por caminhoneiros e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro que não aceitam a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições não deve desencorajar o investidor na Bolsa de Valores. Por mais que seja um fator negativo e que gera estresse no curto prazo, o mercado confia em uma resolução rápida para as paralisações no transporte rodoviário ainda hoje, motivada pelo pronunciamento de Bolsonaro aceitando a derrota no domingo.

As paralisações, que começaram na madrugada de domingo e já duram mais de 24 horas, atingem 22 estados e mais o Distrito Federal. A expectativa é de que agentes de segurança deem um fim aos bloqueios.

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Mercado aguarda declaração de Bolsonaro

Luccas Fiorelli, sócio da HCI Invest, diz que o movimento dos caminhoneiros e apoiadores de Bolsonaro não deve precificar ativos no Ibovespa, pelo menos por enquanto. O executivo explica que a declaração do presidente de aceitar a derrota para Lula deve desidratar as paralisações.

“Acreditamos que assim que o presidente se pronunciar, esse movimento [de interdições nas estradas] deve se enfraquecer”, disse Fiorelli à Inteligência Financeira. “Pelo lado institucional, seria muito ruim [para a bolsa] um avanço desse tipo. Não é um ponto para deixar de lado, mas a partir do pronunciamento de Bolsonaro, as coisas devem melhorar.”

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O sócio da HCI Invest explica que o apetite do investidor estrangeiro pela bolsa brasileira está alto, corroborado pela entrada de capital vindo observada ontem por gestores e analistas. O Ibovespa fechou em alta, enquanto o dólar comercial teve queda de 2,5%.

O motivo seria uma preferência do estrangeiro por Lula, na avaliação de Fiorelli. Por enquanto, o mercado se limitou a monitorar a situação nas estradas, voltando os olhos para a formação da equipe econômica do presidente eleito e em quem será responsável por organizar a transição de governo.

Movimento não precifica ações

Marcelo Oliveira, cofundador da Quantzed, também diz que as interdição das rodovias ainda não faz preço na bolsa que poderia acalmar os ânimos e descontinuar o movimento.

“Por enquanto o mercado ainda não deu muita importância, digerindo ainda a eleição numa esperança de acabar assim que Bolsonaro fizer um discurso aceitando a vitória de Lula. Mas se as paralisações se estenderem e forem bem organizadas, acredito que vai fazer preço negativamente na bolsa”, afirma.

Já o sócio da Davos Investimentos, Marcelo Boragini, aponta que o investidor está aguarda o pronunciamento do presidente para tomar decisões — quais os ativos a serem negociados. “Esta greve é um movimento de cunho político. Ela já liga o sinal de alerta contra o desabastecimento, porque pode comprometer a entrega de gasolina, carnes e serviços de saúde”.

Setores de varejo e do agronegócio expressaram preocupação com as obstruções de vias. O movimento de paralisação tem causado mal-estar entre empresários que apoiam Bolsonaro, como João Galassi, presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados).

Efeitos de longo prazo

Ubirajá Silva, gestor da Galapagos Capital, faz coro aos especialistas. Ele pontua que as manifestações de hoje não tem apoio suficiente para gerar impactos no mercado porque não deve ser duradoura, diferente de quando caminhoneiros paralisaram atividades em 2018, durante o governo Temer, quando houve desabastecimento de combustíveis, medicamentos e alimentos em supermercados.

“Me parece uma manifestação sem muito apoio, mesmo dentro da classe dos caminhoneiros. Alguns órgãos dentro da classe estão criticando esse bloqueio, e creio que ele não deve durar por muito tempo”, afirma o gestor. “Caso contrário, pensando na bolsa, os bloqueios podem acabar impactando em ativos e empresas. Os setores que mais sofrem na largada são os de varejo e de supermercado. Segundamente, pode afetar toda a cadeia de produção. Os insumos deixam de chegar na indústria”, acrescentou.

A longo prazo, caso a paralisação se estenda, a volatilidade provocada pela falta de insumos pode afetar ações da Usiminas (USIM5) e outras empresas dos setores de energia, montadoras e siderúrgicas.

Bloqueio em rodovias afeta a inflação?

A inflação também pode piorar se os bloqueios não se encerrarem logo. “Se durar muito tempo, muitos produtos perecíveis devem estragar, gerando impacto na linha de produção”, diz Ubiraja. Ele reforça que o mercado espera que os bloqueios sejam dissipados.

Fábio Guarda, sócio da Galapagos, diz que hoje o Ibovespa está devolvendo a performance negativa da semana passada, o chamado “profit taking” frente à valorização de ontem. Para ele, o movimento dos caminhoneiros traz “uma certa instabilidade ao mercado”, que procura fugir do risco. As paralisações, na avaliação do gestor, ainda estariam “atrasando a real frente ao dólar”.

“Era para estarmos andando muito mais, mas dado este factóide [paralisações] e ontem a performance do Brasil foi muito boa, o saldo continua positivo. Mesmo porque acredito que esta situação não perdura”, comentou Fábio à IF.

Leonardo Trevisan, professor da Economia da ESPM, diz que é provável que as paralisações pressionem a inflação. “O ponto central será a duração deste evento. Essa situação terá impacto na distribuição de mercadorias. O maior problema será dos combustíveis, sempre o maior ponto de estrangulamento”, diz o economista.

A corrida por abastecimento em postos pode jogar pressão sobre os preços de gasolina, mas um aumento da inflação depende da duração das obstruções — quanto maior, pior.

PRF mostra 276 pontos de interdição

No início desta tarde, a Polícia Rodoviária Federal mostrou que apoiadores de Bolsonaro atualmente interditaram 276 pontos em rodovias e estradas brasileiras. A PRF dividiu as regiões em que ocorrem as paralisações. São, segundo levantamentos da corporação, 42 pontos de concentração; 136 de interdição; 89 de bloqueios em rodovias.

Ainda de acordo com a PRF, não foram criadas novas obstruções das estradas a partir das 23h de ontem. Policias e agentes de segurança conseguiram dispersar 306 ocorrências em estradas causadas por apoiadores do presidente. O ápice de bloqueios foi ontem à noite. “Dia 31, às 10h, começamos a nos reunir e traçar um plano de ação coordenado”, disse Djairlon Moura, diretor de operações da PRF, em coletiva. “Desde às 15 horas de ontem estávamos com nosso plano pronto e informado às superintendências, para, nas primeiras horas, começarmos nossa atuação”, complementou Territo. Ele disse que, em duas horas, a PRF mobilizou agentes em diversos pontos e, em seguida, começou com uma ação coordenada.

Até o momento, a paralisação parcial ou total de vias de transporte atinge 22 estados e mais o Distrito Federal. A PRF aponta que as Unidades Federativas com maior número de obstruções é Santa Catarina (SC), seguida de Pará (PA) e Mato Grosso (MT).

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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