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Bolsonaro diz a empresários que não pode interferir no preço dos combustíveis
Em encontro com empresários e políticos na segunda-feira no Rio de Janeiro, o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a dizer que não pode interferir na alta de preços dos combustíveis. Convidados disseram ao Valor, na saída do evento, que Bolsonaro voltou a atribuir o problema ao contexto internacional, sobretudo à guerra na Ucrânia, e evitou mencionar a crise no comando da Petrobras. O almoço organizado pelo grupo Voto aconteceu em hotel na orla de Copacabana, na Zona Sul da cidade.
“Ele [Bolsonaro] falou que não adianta dizer que é culpa do governo, porque há uma crise internacional e isso não depende dele. Ele disse que não tem como interferir [nos preços dos combustíveis]”, disse um dos empresários a um grupo de jornalistas na porta do hotel. Ao que um dos repórteres retrucou: “porque, então, trocar o presidente da Petrobras?”, o empresário ficou atônito e se despediu aos risos.
Antes do almoço, discursaram, nesta ordem, os ministros do meio ambiente, Joaquim Leite, e da Economia, Paulo Guedes, além do ex-ministro da defesa Walter Braga Netto, que deixou o cargo para concorrer às eleições de outubro, possivelmente como vice de Bolsonaro. O presidente falou por último, encerrando o evento.
“Foram discursos mais objetivos, uma espécie de prestação de contas do que foi feito até aqui”, disse outro convidado. O ministro Paulo Guedes teria enumerado uma série de avanços, como a melhora do quadro fiscal do país, a introdução do serviço de transferência bancária Pix e prometeu, para o futuro, reduções no imposto de renda da pessoa jurídica, o que foi bem recebido pela plateia.
Guedes teria dito, ainda, que as contas saneadas do governo federal lhe permitem promover programas de investimento em grande escala.
Já a fala de Bolsonaro teria sido pautada no discurso anti-corrupção. Entre outros assuntos, ele teria voltado à carga contra a estratégia de governos petistas na condução do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ele teria repetido o discurso de que o BNDES privilegiou grandes grupos empresariais e foi usado politicamente para financiar projetos em países então governados pela esquerda.
A palavra Petrobras só foi mencionada uma única vez, para assinalar a redução da dívida da empresa sob o governo Bolsonaro. A empresa chegou ao fim do ano passado com uma dívida abaixo dos US$ 60 bilhões, conforme planejado por sua diretoria para 2022. Em anos anteriores, a dívida bruta da companhia chegou a níveis recordes, de US$ 160 bilhões, conforme relatado em comunicado da própria empresa.
Sobre a troca no comando da petroleira, nenhuma palavra. Nem no encontro com empresários e nem durante a agenda anterior, uma solenidade no santuário do Cristo Redentor. Bolsonaro chegou a se aproximar de jornalistas para dizer, em tom de ironia, que “amava cada um deles”. Ao ser imediatamente questionado sobre o futuro da Petrobras, o presidente não respondeu e deixou o local.
O silêncio se estendeu a toda a comitiva. O ministro Paulo Guedes foi evasivo ao sair do almoço com empresários. Quando questionado por um repórter se poderia dar uma luz sobre o futuro da Petrobras, ele respondeu de forma seca e enigmática que “estava sem a luz”. Sabe-se, nos bastidores, que Guedes tem tido pouca influência nas discussões sobre a indicação da União para a sucessão no comando da estatal.
Ele se opunha, por exemplo, ao nome do consultor Adriano Pires para a presidência da empresa. Pires chegou a ser indicado por Bolsonaro, mas desistiu da empreitada nesta segunda-feira, após suspeita de conflito de interesse apontadas pelo Ministério Público Federal e desconforto de grupos de acionistas da própria Petrobras.
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