Câmara aprova corte de ICMS de combustíveis, energia, comunicações e transporte coletivo
O impacto sobre os preços e a inflação dependerá da alíquota cobrada em cada estado
A Câmara dos Deputados concluiu nesta quarta-feira a aprovação do projeto de lei que corta o ICMS sobre combustíveis, energia elétrica, gás natural, comunicações e transporte coletivo. Todas as emendas apresentadas com sugestões de alterações no texto foram rejeitadas pelo plenário da Casa. Antes, o texto-base do projeto foi aprovado, por 403 votos a 10.
A proposta segue para apreciação do Senado e o deputado Danilo Forte (União-CE), autor do projeto, acredita em uma votação célere na Casa comandada por Rodrigo Pacheco (PSD-MG) apesar da resistência dos estados.
Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS
“Tenho certeza que todos acreditam na efetividade dessa lei, muito embora os discursos tenham sido bem antagônicos, porque todos votaram a favor. Ninguém quis correr o risco de votar contra a redução do imposto, de votar contra a redução do IPCA, de votar contra a possibilidade de tornar essencial coisas que são corriqueiras na vida de qualquer brasileiro. Aqui ninguém vota com a intenção de não fazer o bem para a população, principalmente num processo inflacionário que é mundial, principalmente num problema de energia e de combustíveis que é mundial, principalmente quando há possibilidade da falta de óleo diesel pela paralisação da comercialização do refino da Rússia, ocasionado pela guerra da Rússia e da Ucrânia”, disse o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), antes de concluir a votação da última emenda.
O impacto sobre os preços e a inflação dependerá da alíquota cobrada por cada Estado sobre cada um desses serviços, mas a expectativa dos governistas é de uma redução da gasolina, do botijão de gás e da conta de luz às vésperas da eleição de outubro.
Últimas em Política
Governadores e prefeitos tentarão impedir a aprovação da proposta no Senado, mas ameaçam também recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) alegando que a proposta é inconstitucional por ferir o pacto federativo. Nas contas da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), a perda de arrecadação será de R$ 65 bilhões por ano. O Comitê Nacional dos Secretários Estaduais da Fazenda (Comsefaz) estima queda de receita entre R$ 64,2 bilhões e R$ 83,5 bilhões.
Em seu pronunciamento ao final da sessão, Lira disse que não cabe à Câmara afrontar governadores e prefeitos. Ele lembrou que, ao longo das negociações, parlamentares de reuniram com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, com o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, com integrantes do Ministério da Economia, da Secretaria de Governo e da Casa Civil, discutindo número fornecidos pela Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz).
“Se alguém afrontou o Poder Legislativo foi o Consefaz e o Confaz quando não cumpriu o PLP 11, que está judicializado no Supremo. Uma lei que votamos aqui para fazer o imposto ad rem fixo dos últimos 60 meses. Não cumpriu, não teve a humildade de dar parcela de contribuição para o processo inflacionário do Brasil e da nossa população”, afirmou Lira.
O projeto classifica combustíveis, energia elétrica, transporte coletivo, gás natural e comunicações como serviços essenciais, o que proíbe os Estados de cobrarem alíquota de ICMS superior a padrão, que varia de 17% a 18%, dependendo de cada local. Hoje, esses serviços podem ser classificados como supérfluos e, por isso, taxados com alíquota maior — em alguns Estados, o ICMS chega a até 34% para a gasolina.
O impacto no preço para o consumidor dependerá da alíquota cobrada hoje em cada Estado — e, obviamente, da aprovação e sanção do projeto. Segundo o relator, deputado Elmar Nascimento (União-BA), a estimativa do Ministério da Economia é que a gasolina caia R$ 0,70 por litro. Já o diesel terá redução muito pequena, de apenas 1%. No caso da conta de luz, dependerá do volume de consumo de cada contribuinte e da alíquota do Estado, mas, adicionalmente, o projeto proibiu a cobrança de ICMS sobre os encargos setoriais, a transmissão e distribuição de energia.
Para o Comsefaz, o impacto do projeto será o prejuízo aos serviços públicos, sem resolver o problema. Em nota técnica, a entidade destacou que o ICMS sobre os combustíveis está congelado desde novembro de 2021, com perda de arrecadação de R$ 37 bilhões, mas o preço do diesel subiu 47%, “restando claro que o ICMS não é o vilão pela alta do produto”. “Caso o projeto seja aprovado pelo Congresso, haveria considerável prejuízo à manutenção dos serviços públicos essenciais à população, especialmente aquela mais necessitada, além de trazer mais insegurança ao sistema tributário nacional pela fragilidade do texto proposto, que aponta para evidente inconstitucionalidade”, diz.
A oposição disse que o problema é a política de preço da Petrobras no governo Bolsonaro e que o projeto até pode reduzi-los no curto prazo, mas que logo aumentarão. “Não é reduzindo a arrecadação dos Estados, consequentemente reduzindo o dinheiro para educação e saúde, e mantendo o lucro para os acionistas privados da Petrobras, que vamos garantir a redução no preço no médio prazo e nem melhorar a vida das pessoas”, afirmou o deputado Ênio Verri (PT-PR).
Nascimento (União-BA) concordou com mudanças na política de preços da Petrobras, mas defendeu que o corte de impostos ajudará a população e que os Estados já estão com os cofres cheios . “A política de paridade da Petrobras é outra coisa, que precisa e deve ser discutida. Se a gente deixar de cortar esses impostos e vier o aumento, aí a situação estaria mais crítica para a população”, afirmou. Ele incluiu trava de que o governo federal terá que compensar os Estados em 2022 se houver perda de arrecadação do ICMS acima de 5%.
Antes de encerrar a sessão, Lira anunciou que a Câmara votará na próxima semana projetos voltados a energia elétrica, como o projeto que “irá praticamenteanular responsavelmente, sem precisar quebrar contratos, o aumento que foi dado pela Aneel”.
Ele também indicou que deve colocar para apreciação do plenário a proposta que pretende impedir a incidência do ICMS sobre os adicionais cobrados dos consumidores na fatura de energia elétrica por conta das bandeiras tarifárias.
O presidente da Câmara destacou ainda que líderes fecharam acordo para apreciar a proposta que prevê que a Petrobras informe a composição de preço dos combustíveis. Ainda não há uma data para a análise do texto. “Isso não pode ser segredo de estado. Não deve não ter transparência”.