Comunicado do BC une governo e deve resgatar discussão sobre mudança na meta de inflação

Risco de subida de juros amplia esforço de Lula para ‘terceirizar’ culpa por baixo crescimento

Reunião com ministros e o presidente Lula | Crédito: Ricardo Stuckert/PR
Reunião com ministros e o presidente Lula | Crédito: Ricardo Stuckert/PR

O governo avaliou como duro o tom utilizado pelo Banco Central para justificar a manutenção da taxa de juros em 13,75%, e a expectativa no Planalto é de que a ofensiva de Lula contra Roberto Campos Neto volte a escalar nos próximos dias.

Na equipe econômica, a leitura é de que o comunicado não trouxe qualquer sinalização de corte da Selic no curto prazo, na contramão da aposta do ministro Fernando Haddad em meio às negociações sobre o novo marco fiscal. O trecho do documento que classifica de incerteza os termos da nova regra desagradou a Fazenda porque teriam sido discutidos com a autoridade monetária, mesmo sem o anúncio oficial.

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A percepção de que o comunicado não apenas sinaliza corte, como abre a janela para subir a taxa de juros, caso a inflação não caia, resgata ainda a discussão sobre a alteração na meta de inflação — fixada em 3,25% para 2023 e 3% em 2024 —, pois o governo tem maioria no Conselho Monetário Nacional.

Se a pressão da ala mais expansionista do governo, puxada pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, já era mais do que esperada, a avaliação negativa entre ministros que estavam trabalhando nos bastidores para construir pontes com Campos Neto, caso de Haddad e Alexandre Padilha, deve fortalecer a narrativa política ruidosa no curto prazo. Ou seja: diante do risco de deterioração econômica com reflexos diretos na popularidade de Lula, interessa ao Planalto insistir na ‘terceirização’ da crise, ou seja, de que o Banco Central seria o responsável pelo cenário.

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Por outro lado, se equipe econômica já esperava a manutenção da Selic depois de ver ruir o plano de divulgação antecipada do arcabouço fiscal, as declarações críticas com foco no tom do comunicado do BC, e não exatamente à decisão, oferecem credenciais à Haddad para seguir a linha do governo de forma coesa sem novos choques com a ala mais expansionista.

“Campos Neto está vencendo o braço de força. Aí, quando estiver claro que a economia vai parar, que não tem pressão política, vai começar a baixar”, resumiu um petista ao JOTA.

Jogo jogado

A ‘união’ do governo no desconforto com a decisão precisa ser considerada também do ponto de vista da tensão evidente entre os dois grupos internos, simbolizados em Haddad, de um lado, e Rui Costa, do outro.

A Fazenda viu as digitais do ministro da Casa Civil no vazamento dos nomes de Rodolfo Fróes e Rodrigo Monteiro para as diretorias da autoridade monetária. Como o indicado para a Diretoria de Política Monetária é próximo do secretário executivo da Fazenda, Gabriel Galípolo, há uma visão de que a escolha ‘prepara o terreno’ para a escolha que Lula terá de fazer para comandar o BC em 2024, com o fim do mandato de Campos Neto.

O anúncio antes do Copom irritou a equipe econômica, e ao ser perguntado sobre o assunto após o comunicado do BC, Haddad evitou confirmar, dizendo que levou a Lula seis sugestões.

O vaivém das variáveis

Instituições

É cada dia mais improvável que Arthur Lira e Rodrigo Pacheco cheguem a um acordo sobre o rito de análise de MPs no Congresso. O governo lavou as mãos e comprou a tese de que, sem consenso, a Constituição deverá ser seguida com retomada de comissões mistas. Mas, teme que uma eventual decisão do STF possa tumultuar ainda mais a relação com Arthur Lira.

Economia

Planejamento reduziu a estimativa de deficit público para 2023, de R$ 228,1 bilhões para R$ 107,6 bilhões, ou 1% do PIB, de acordo com o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do primeiro bimestre. A nova estimativa está em linha com o pacote de ajuste fiscal anunciado em janeiro, que visava a encerrar o ano com um deficit de R$ 90-100 bilhões.

Redes sociais

Plano do PCC contra Moro reativou mensagens ligando PT ao crime organizado e deu ao senador o segundo dia seguido de protagonismo. Moro dissera ontem que a vida de sua família ficava em risco com as falas de Lula sobre vingança contra ele. Hoje, o próprio Bolsonaro associou o caso ao atentado que sofreu e à morte de Celso Daniel. Mensagem de Dino de que o governo defende até adversários teve pouca tração.

Conjuntura internacional

Nos EUA, o mercado reagiu melhor à decisão do Fed de subir os juros em 0,25 do que as declarações da secretária do Tesouro de que o socorro aos depósitos de bancos em crise pode ter limites. Decisão do Fed indica sinal de que o combate à inflação segue como prioridade e que os riscos de uma crise bancária sistêmica foram reduzidos, mas podem ter efeitos de esfriar a economia.

Por Bárbara Baião, analista de Política em Brasília, e Iago Bolivar, jornalista e consultor digital.

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