Análise: Crises abalam recuperação de Bolsonaro; Lula tenta retomar comando da pauta

Presidente se desgasta com salário mínimo e caso Jefferson. PT aposta em movimento de expansão de intenções de voto com ‘efeito Simone’

O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em campanha no segundo turno. Foto: Agência O Globo
O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em campanha no segundo turno. Foto: Agência O Globo

Em busca de uma inédita virada no segundo turno, o presidente Jair Bolsonaro (PL) inicia a semana decisiva da eleição 2022 enfrentando reveses expressivos no discurso político e uma estabilização na curva de crescimento que vinha experimentando nos últimos 10 dias.

Em contrapartida, o líder nas pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), começa a capitalizar o efeito prático da adesão de corpo e alma de Simone Tebet (MDB) à sua candidatura nas intenções de voto.

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O QG bolsonarista administra dois flancos negativos simultaneamente: 1) as consequências do debate sobre o reajuste do salário mínimo e das aposentadorias, que veio à tona após a divulgação de um plano de Paulo Guedes que previa a desindexação dos benefícios da inflação; 2) o impacto do caso Roberto Jefferson, que abala um movimento de reconciliação do presidente com o eleitorado mais moderado, que o apoiou em 2018 contra o PT.

Ainda demonstrando dificuldade em lidar com as duas frentes hostis ao projeto de reeleição, o comitê de campanha do presidente precisará de um índice de sucesso quase total nas apostas que faz para os últimos dias de disputa — desde o debate na TV Globo, marcado para sexta-feira, até uma torcida pela abstenção maior entre os eleitores da base social petista.

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Além disso, dependerá ainda mais do reforço da mobilização de governadores e prefeitos aliados, especialmente para ampliar a vantagem em São Paulo e reverter o quadro do primeiro turno em Minas Gerais — onde Bolsonaro perdeu por 500 mil votos.

“Na melhor das hipóteses, perdemos um dia ou dois. E isso é uma eternidade para quem precisa virar o jogo em tempo recorde”, afirma ao JOTA uma fonte graúda do QG bolsonarista.

Efeito Janones

No outro lado do ‘front eleitoral’, a campanha de Lula, que vinha demonstrando apreensão com o avanço bolsonarista, acredita ter retomado o comando da pauta eleitoral no momento crucial da corrida presidencial.

Parte do êxito desse processo é atribuída à guerrilha digital liderada pelo deputado André Janones, um dos entusiastas da retórica de desconstrução da agenda Guedes quanto ao poder de compra dos salários da população mais pobre e dos aposentados, base tradicional bolsonarista.

Janones, que vinha sendo objeto de ressalvas internamente no QG petista, pressionou Lula a responder rapidamente com novas promessas de reajuste real do mínimo e das aposentadorias. Isso antes da reação de Bolsonaro, que demorou dois dias e foi lida como insuficiente pela própria campanha do presidente, como relatou na sexta-feira a newsletter Risco Político.

O diagnóstico é o de que a mobilização de redes intitulada “Bolsonaro, não mexa no meu salário”, idealizada por Janones, ganhou tração exatamente no instante em que o Planalto era errático na sua estratégia de contraposição ao tema.

Agora, ainda que exista um clima de otimismo no QG lulista, faltando cinco dias para a decisão, o objetivo dos assessores do ex-presidente é expandir os apoios e as atividades de articulação com setores organizados da sociedade civil que cristalizem a ideia de um movimento suprapartidário contra Bolsonaro.

As aparições de Lula com economistas liberais e candidatos ao ministério, em caso de vitória, também devem aumentar. Nesse contexto, a disposição de Henrique Meirelles em discursar no ato dos juristas e se apresentar com as credenciais para assumir cargo numa eventual terceira gestão do petista vem sendo observada pela campanha de Lula como uma sinalização útil e como aceno final ao centro, embora não se trate de convite formal ao ex-presidente do BC e ex-ministro da Fazenda de Michel Temer.

Por Fábio Zambeli, analista-chefe em São Paulo. Jornalista com 28 anos de experiência em cobertura política e dos Três Poderes em São Paulo e Brasília. Foi repórter e editor da Folha de S. Paulo e diretor de inteligência e atendimento na área pública da FSB Comunicação.

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