O que esperar do discurso de Bolsonaro na assembleia da ONU?
Campanha vive suspense sobre o tom que será abordado pelo presidente
A equipe da campanha de Jair Bolsonaro (PL) vive um suspense à espera do discurso do presidente da República na abertura da 77ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira (20), em Nova York.
O objetivo dos estrategistas do presidente, que está vindo de uma tumultuada passagem pela Inglaterra, onde foi assistir o funeral da Rainha Elizabeth II, é fazer com que o discurso sirva de peça de propaganda para mostrar um Bolsonaro “estadista” e preocupado com os rumos do Brasil, a duas semanas da eleição.
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Esse foi inclusive tema de debate nos últimos dias no núcleo político da campanha, que agora adotou como prioridade convencer os indecisos e “bolsonaristas arrependidos” a dar mais uma chance ao presidente.
Mas Bolsonaro não só não garantiu que fará o papel que essa ala espera dele, como preparou dois discursos: um com teor mais abrangente e tratando de temas que o bolsonarismo considera de estado – como a preservação da Amazônia, defendendo as políticas do governo no enfrentamento do desmatamento na floresta, além do papel do Brasil na crise de alimentos em meio à guerra da Ucrânia.
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No discurso beligerante, o atual ocupante do Palácio do Planalto vai adotar o tom raivoso, retomando os ataques infundados às urnas eletrônicas e ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas agora em escala global diante de uma plateia mundial.
A versão radical para a ONU foi encomendada pelo presidente à ala ideológica do governo, da qual participam o coronel Mauro Cesar Barbosa Cid e o assessor internacional do Palácio, Felipe Martins.
O avanço de Lula nas pesquisas eleitorais e a constatação de que o radicalismo de Bolsonaro afastava um tipo de eleitor que ainda precisa ser conquistado fizeram com que ele tentasse adotar um tom moderado. Na semana passada, por exemplo, Bolsonaro disse a um podcast voltado para o público evangélico que se arrependeu de falas insensíveis sobre a pandemia: “Eu dei uma aloprada, perdi a linha”, admitiu.
As sondagens internas mostram que essa mudança de atitude teve um efeito positivo para Bolsonaro, e por isso a ala mais política – da qual fazem parte os ministros do Centrão, Ciro Nogueira e Fábio Faria, além do presidente da Câmara, Arthur Lira, e o estrategista digital Sérgio Lima – passou a defender que ele module o discurso.
Isso não significa, por exemplo, que o presidente não tenha que atacar Lula, pelo contrário. Ataques ao petista são bem vindos, até porque ajudam a reforçar a sua rejeição.
O que não tem sido bem aceito pelos eleitores e a campanha tenta evitar são ataques ao sistema eleitoral e à segurança das urnas eletrônicas. Para o núcleo político do bolsonarismo, esse tipo de discurso afasta justamente o eleitorado que Bolsonaro precisa atrair.
Por isso, antes de o presidente partir em viagem oficial, alguns de seus auxiliares tentaram convencê-lo de que o melhor seria não usar o discurso mais pesado e se concentrar no texto do “estadista”.
Apesar do empenho desses interlocutores na argumentação, porém, tudo o que o presidente respondeu foi: “tá bom”.
O resultado é que o discurso acontece daqui a pouco em Nova York – e, como tantas outras coisas nesta corrida eleitoral, qualquer erro estratégico pode cobrar um preço alto.
Acertar o tom, portanto, é ainda mais vital. Mas Bolsonaro não se comporta como alguém em consistente rabeira nas pesquisas, e sim como quem está na frente – e prestes a ganhar no primeiro turno.
O medo dos estrategistas de campanha é que tamanha confiança faça o presidente achar que pode pegar pesado num discurso com repercussão planetária.
Contudo, o núcleo duro da campanha sabe que com Bolsonaro não adianta falar. Resta apenas esperar para saber qual o rumo que ele adotará diante dos 130 chefes de estado e de governo. Enquanto isso, os assessores prendem a respiração, e torcem para que Bolsonaro não dinamite suas chances eleitorais diante de todo o planeta.