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Eleições na Argentina: 3 candidatos prometem pôr o país nos eixos; conheça as propostas
Neste domingo (22), os argentinos vão às urnas das 8h às 18h (horário de Brasília). No páreo das Eleições 2023 na Argentina estão três candidatos: Javier Milei, candidato considerado de extrema-direita, Patrícia Bullrich, candidata de centro-direita e Sergio Massa, de esquerda. Os três têm visões diferentes sobre como resolver a inflação, o câmbio e o déficit, que são os principais problemas da economia argentina. A Inteligência Financeira fez um levantamento sobre o que cada um deles propõe para tentar conquistar o eleitor na reta final do pleito. Acompanhe:
Quem é Javier Milei, favorito nas eleições da Argentina
Javier Milei é o ponto fora da curva nas eleições na Argentina. Apesar de ser relativamente desconhecido em relação aos outros dois candidatos, o economista de extrema-direita argentino arrematou as primárias com mais de 30% dos votos.
Para analistas ouvidos pela Inteligência Financeira, Milei é considerado “uma certeza” no provável segundo turno nas eleições da Argentina. Seu adversário político, contudo, não está definido: Bullrich e Massa travam disputa mais acirrada pelo segundo lugar nas pesquisas, com Massa à frente por enquanto.
‘Dolarização’, fim do BC: as propostas de Milei na Economia
Entre as propostas de Javier Milei para a economia da Argentina está a ‘dolarização’ do país. Milei quer substituir o peso argentino pelo dólar americano como moeda comum no dia a dia da população. Isso implica em acabar com as diversas divisas cambiais da Argentina, que ficou famosa pelos 17 tipos de dólar usados no país para shows ou turismo.
De acordo com Milei, a moeda local seria mais fraca do que o dólar, o que motivaria argentinos a terem mais poder de compra local.
Mas essa proposta é questionada por especialistas em economia entrevistados pela reportagem. De acordo com Roberto Uebel, economista e professor de Relações Internacionais da ESPM, a dolarização da Argentina é “uma ideia impossível” de ser posta em prática.
Apesar de muitas famílias argentinas terem reservas em dólar para fins de poupança, o peso continua sendo “um dos pilares” da economia, argumenta Uebel. Além disso, o turismo no país “pode sofrer impactos graves”.
“Quem terá a gestão sobre o dólar, como fará essas operações? Hoje um setor que perderia tração com a dolarização da economia argentina é o turismo, inclusive de brasileiros”, diz. “Se de fato Milei mudar a moeda oficial, que brasileiro vai viajar para a Argentina quando pode ir para os EUA?”, prossegue.
A dolarização da economia da Argentina, é, senão impossível, uma ideia que “faz pouco sentido”. Esta é a avaliação do economista argentino Roberto Luis Troster.
“Para dolarizar, você precisa de dólares. E a Argentina não tem nenhum.”
Roberto Luis Troster, economista
O especialista afirma que o país precisa da injeção de mais dólares “ou terá um choque de liquidez” com a dolarização. O que significa uma corrida aos bancos. Mas existem exemplos bem-sucedidos, nota Troster, como é o caso do Panamá.
Extinção do banco central da Argentina
Outra proposta de Milei é a extinção da autoridade monetária da Argentina, parte de sua iniciativa de corte de gastos na máquina estatal.
Carlos Herrera, estrategista-chefe da Condor Insider, avalia a proposta como “sensata” com a dolarização. “Afinal, se a economia for em dólar, por que precisaria de uma autoridade monetária?”, afirma. Ele cita novamente o Panamá, que não possui uma autoridade monetária.
Mas para Troster, a ideia é pior que a de dolarização. “Primeiro porque você precisa de uma autoridade monetária e ponto. Seja com euro, dólar ou até criptomoeda, o banco central faz mais do que emitir moeda. Essa proposta mostra um desconhecimento de política monetária e das instituições políticas”, comenta.
Uebel, da ESPM, enxerga na proposta de abolir o banco central argentino a pitada “populista” de Javier Milei. “É um recurso populista. Ele (Milei) usa isso para ganhar tração da mídia e atrair a atenção daquele eleitorado cansado de soluções tradicionais”, diz.
Sergio Massa, de esquerda, propõe ‘mais do mesmo’
Atual ministro da Economia da Argentina e braço direito do presidente Alberto Fernández, o economista Sergio Massa é o candidato peronista-kirchnerista (esquerda) das eleições. Massa propõe manter a intervenção do Estado na economia e o diálogo contínuo com órgãos internacionais em busca de financiamento da dívida do país.
Contudo, o atual ministro da Fazenda representa “mais do mesmo”: uma fórmula que levou a Argentina ao peso desvalorizado e à inflação nas alturas. “Ele quer negociar ainda mais com o FMI e andar de lado”, comenta Roberto Luis Troster.
Massa vem focando mais na reta final da campanha na promessa de “Casa Comum e Casa Própria”. A ideia do candidato peronista é de desenvolver uma linha de crédito de habitação com aumento real acima da inflação.
Além disso, ele propõe acabar com o limite para pensionistas por invalidez e maiores subsídios para as pequenas e médias empresas.
Quanto à inflação, o site oficial do bloco Todos pela União, de Massa, afirma que o candidato “tem um plano de curto, médio e longo prazo sendo implementado”.
A equipe de Massa crê em um aumento no fluxo de dólares no ano que vem pelas exportações de lítio e pelo investimento no duto de gás natural no campo Vaca Muerta, projeto que envolve o Brasil.
Patricia Bullrich, de centro-direita, tem menos chances
Candidata do maior bloco político nas eleições e ex-ministra do ex-presidente Maurício Macri, Patricia Bullrich, mais ao centro, tem propostas liberais para resolver os problemas da Argentina.
Em seu site oficial de campanha, Bullrich propõe estabelecer “um novo regime cambial” na Argentina. A ideia é exportar e importar livremente em dólar sem o lastro de ações do mercado financeiro.
Ela ainda planeja zerar o déficit do governo central, proposta parecida com a de Fernando Haddad no Brasil. Além disso, Bullrich quer “colocar o dólar de volta em circulação” para que haja valorização do peso, “saindo da poupança para os investimentos”.
“Bullrich segue muito a cartilha do Macri, de trazer o setor privado como locomotiva da economia, mas com o Estado como fiduciador”, diz Uebel.
Entre os três candidatos, Patricia Bullrich “é a mais moderada”, afirma Troster. Mas a candidata de centro-direita “não tem o mesmo carisma” de Milei ou Massa.
“O discurso é parecido com a centro-direita típica dos países latinos, de carteirinha. Ela é uma política tradicional, de família aristocrática e com 30 anos de carreira”, diz Herrera, da Condor.
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