Em última live como presidente, Bolsonaro chora, condena atos terroristas e fala sobre governo Lula

Presidente afirmou que 'nada justifica' tentativa de explosão de bomba nos arredores de aeroporto em Brasília

A dois dias de deixar o poder, o presidente Jair Bolsonaro fez nesta sexta-feira um pronunciamento de quase uma hora nas redes sociais. Ao longo da transmissão, ele se defendeu de críticas, chorou, falou pela primeira vez do governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e condenou atos terroristas em Brasília. Apoiadores de Bolsonaro foram alvos de uma operação da Polícia Federal após incendiarem veículos e tentarem explodir uma bomba nos arredores do aeroporto de Brasília.

“Nada justifica, aqui em Brasília, essa tentativa de um ato terrorista, aqui na região do aeroporto de Brasília. Nada justifica. Um elemento, que foi pego, graças a Deus, com ideias que não coadunam com qualquer cidadão”, disse Bolsonaro.

Após sofrer a sua primeira derrota nas urnas, Bolsonaro ficou a maior parte do tempo recluso no Palácio do Alvorada e evitou fazer declarações públicas. Dois dias depois da eleição, o presidente fez um breve pronunciamento no Palácio da Alvorada, agradecendo os votos e comentando protestos de apoiadores, mas sem mencionar a derrota. No dia seguinte, divulgou um vídeo em redes sociais solicitando que manifestantes liberassem rodovias.

37 dias sem fazer declarações

Depois disso, ficou 37 dias sem fazer declarações, até que realizou um discurso para apoiadores no Alvorada, no dia 9. Desde então, permaneceu em silêncio até a transmissão desta sexta; 0

O presidente afirmou que “foi difícil ficar dois meses calado”. Nos últimos dias, o mandatário foi pressionado por aliados a fazer um pronunciamento público aos seus apoiadores antes de deixar o cargo e se posicionar como o principal líder da oposição.

Para não passar a faixa presidencial a Lula, Bolsonaro deverá viajar nesta sexta-feira para os Estados Unidos, onde deverá ficar ao menos um mês. Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) já está à disposição do presidente em Brasília.

Prestação de contas

Durante a transmissão, o presidente afirmou que queria fazer uma prestação de contas e comentar sobre o “momento político atual”. Pela primeira vez, falou sobre o governo Lula, dizendo que pessoas que apoiaram o petista se arrependeram.

O que eu vejo desse governo que está previsto para assumir domingo? É um governo que começa capenga. Já com muitas reações. A gente vê gente que votou para o lado de lá e se arrependeu, dado o que está acontecendo — afirmou Bolsonaro.

O presidente disse, no entanto, que não é o momento de “jogar a toalha” na oposição política ao governo Lula. Aliados defendem que Bolsonaro atue como líder da oposição nos próximos anos, e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, já defendeu que ele se candidate novamente à Presidência em 2026.
“O quadro que nós temos à frente agora, a partir de 1º de janeiro, não é bom. Não é por isso que a gente vai jogar a toalha, deixar de fazer oposição, deixar de criticar. Deixar de conversar com os seus vizinhos, agora com muito mais propriedade, com muito mais conhecimento”, disse.

Após o final da transmissão, dois dos apoiadores do presidente que estavam presentes em frente ao Palácio da Alvorada reclamaram do pronunciamento. Um deles, mais exaltado, chamou o presidente de “covarde”.

Dúvidas, sem provas, sobre o resultado eleitoral

Na live, Bolsonaro lançou dúvidas, sem provas, sobre o resultado eleitoral e relembrou que o seu partido, o PL, moveu uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O processo, no entanto, foi arquivado por falta de provas após decisão do ministro Alexandre de Moraes, presidente da Corte, que aplicou à legenda uma multa de R$ 22,9 milhões.

“Tivemos também ali certas medidas adotadas pela Justiça Eleitoral que ninguém conseguia entender. Fui proibido de fazer live em casa. Tivemos problemas. Foi uma campanha imparcial? Obviamente que foi parcial”, afirmou Bolsonaro, que já é alvo de uma investigação no TSE por questionar, sem provas, o resultado das eleições.

Ao longo da campanha e atrás das pesquisas eleitorais, Bolsonaro intensificou críticas ao TSE e às urnas eletrônicas. O presidente e seus aliados, porém, nunca conseguiram provar as acusações contra o sistema eleitoral. O pleito foi acompanhado por diversas organizações da sociedade civil e, pela primeira vez, também pelas Forças Armadas. Nenhum deles encontrou qualquer indício de fraude.

Um relatório feito pelo Exército com base em uma apuração em uma amostra das urnas também não apontou qualquer divergência nos resultados. O Tribunal de Contas da União (TCU) também não encontrou nenhuma discrepância na análise feita nos boletins de urna do primeiro e do segundo turno das eleições deste ano. Os auditores do tribunal compararam as informações dos boletins de urna com os dados divulgados pelo TSE. Segundo o tribunal, cerca de 5,8 milhões de informações foram comparadas e nenhuma divergência foi encontrada.

Por Daniel Guillino, Dimitrius Dantas e Jussara Soares — Brasília

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