Entenda caso de fraude em cartão de vacinas de Bolsonaro que resultou em operação da PF

A Polícia Federal deflagrou na manhã desta quarta-feira (3) a operação Venire, que apura um esquema de falsificação no cartão de vacinas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O caso envolve aliados próximos do ex-mandatário, como o ajudante de ordens e tenente-coronel Mauro Cid Barbosa, preso pela PF nesta manhã. Além de Mauro Cid, outras cinco pessoas, entre elas assessores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e pelo menos um nome ligado à prefeitura de Duque de Caxias, foram retidas.
A investigação mira um suposto esquema de fraude em certificados da vacina de covid-19. Bolsonaro teria sido um dos beneficiados. Ele foi alvo de mandado de busca e apreensão. A PF apreendeu o aparelho celular do ex-presidente na casa dele no bairro do Jardim Botânico, em Brasília (DF).
Quem autorizou a operação Venire?
Ao todo, foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão e seis mandados de prisão preventiva, em Brasília e no Rio de Janeiro.
A operação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no inquérito das “milícias digitais”, que investiga ataques online a membros da Corte, além da ação de grupos bolsonaristas nas redes.
Quem foi preso pela PF na operação contra Bolsonaro?
O principal aliado do ex-presidente preso na operação foi o ajudante de ordens Mauro Cid Barbosa. Ele também é investigado em outros casos que miram Bolsonaro, como o das joias milionárias que o ex-presidente ganhou de presente de autoridades da Arábia Saudita.
Também foi preso Max Guilherme Machado de Moura, que é segurança de Bolsonaro e foi sargento do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Outro nome alvo da PF foi Sergio Cordeiro, militar do Exército, que também atuou na proteção pessoal do ex-presidente.
O secretário municipal de Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos Brecha, está entre os detidos na operação da PF. Ele teria autorizado o cadastro de duas doses da vacina contra a covid-19 Pfizer na cartão de vacinação de Bolsonaro.
Também estão entre os presos Luis Marcos dos Reis e Ailton Gonçalves Moraes Barros.
Quando o cartão de vacina de Bolsonaro foi falsificado?
Segundo a PF, as inserções falsas no cartão de vacina do ex-presidente ocorreram entre novembro de 2021 e dezembro de 2022. As falsificações teriam permitido que os investigados emitissem os respectivos certificados de vacinação e os utilizassem para “burlarem as restrições sanitárias vigentes imposta pelos poderes públicos (Brasil e Estados Unidos) destinadas a impedir a propagação de doença contagiosa, no caso, a pandemia de covid-19”.
“A apuração indica que o objetivo do grupo seria manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid-19”, afirmou a PF.
De acordo com a corporação, os fatos investigados configuram, em tese, crimes de infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores.
O que diz Bolsonaro sobre falsificação em sua cartão de vacina?
Em resposta à operação da PF, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que não alterou o seu cartão de vacinação. Ao mesmo tempo, ele afirma que não tomou a vacina contra a covid-19, confirmando que as duas doses da vacina da Pfizer foram falsificadas no cartão.
“Não existe adulteração da minha parte. Não existe. Não tomei a vacina, nunca neguei isso”, disse o ex-presidente a jornalistas na frente da residência dele. “Realmente fico surpreso pela busca e apreensão. Acho que todo mundo é igual, todo mundo é cidadão”, completou. Bolsonaro nunca negou, mas também não confirmou se recebeu as injeções de imunizantes contra a doença.
Segundo ele, a PF estava fazendo a busca e apreensão “na casa de um ex-presidente para criar um fato” político. Bolsonaro também relatou que a esposa dele, Michelle Bolsonaro, tomou a vacina nos Estados Unidos.
Conforme apuração da TV Globo, além do cartão de Bolsonaro, a filha do ex-presidente também teve seu documento de vacinação adulterado ilegalmente.
“[Já] a minha fila Laura, por quem eu respondo, que atualmente tem 12 anos, também não tomou a vacina”, confirmou o ex-presidente.
Celular de Bolsonaro é apreendido
Bolsonaro ainda relatou que seu telefone celular foi apreendido pela PF na manhã desta quarta-feira, durante a operação da PF, que cumpriu mandados de busca e apreensão em uma residência do ex-presidente em Brasília.
Além do ex-presidente, a Michelle Bolsonaro também teve o celular apreendido, em um primeiro momento. A PF, contudo, após obter a senha de Michelle, fornecida pela própria ex-primeira-dama, e acessar o dispositivo, decidiu por não apreendê-lo. Michelle não foi um dos alvos da operação Venire.
“Meu telefone não tem senha. Não tenho nada a esconder sobre nada”, comentou Bolsonaro. O celular do ex-presidente vai passar por uma perícia.
Aliados e advogado defendem Bolsonaro
O advogado de Jair Bolsonaro, Marcelo Luiz Ávila de Bessa, afirmou nesta quarta-feira que considera a operação de busca e apreensão algo “precipitado e arbitrário”. Mas o advogado também disse que ainda não teve acesso ao inquérito do caso.
“Nós não temos maiores informações de por que fizeram esse ato, que considero precipitado e arbitrário. Após termos acesso ao inquérito, daremos novas informações”, disse Bessa a jornalistas na frente da casa de Bolsonaro.
Já o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse, por meio de sua conta no Twitter, que o ex-presidente Jair Bolsonaro é uma “pessoa correta, íntegra, que melhorou o país e procurava sempre seguir a Lei”.
“Confiamos que todas as dúvidas da Justiça serão esclarecidas e que ficará provado que Bolsonaro não cometeu ilegalidades”, tuitou Costa Neto.
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