Entenda o caso que resultou na prisão de Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação de Bolsonaro
Esquema contaria ainda com a participação de dois pastores evangélicos sem cargos públicos: Gilmar Santos e Arilton Moura, também presos
Preso na manhã desta quarta-feira durante uma operação da Polícia Federal, o ex-ministro da Educação e ex-reitor do Mackenzie Milton Ribeiro é suspeito de estar envolvido num esquema irregular de liberação de dinheiro da pasta a prefeituras. O esquema contaria ainda com a participação de dois pastores evangélicos sem cargos públicos: Gilmar Santos e Arilton Moura, também presos.
Santos é presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil e lidera o Ministério Cristo para Todos, em Goiânia. Moura atua como auxiliar de Santos e assessor da Convenção presidida pelo colega.
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O envolvimento de personagens ligados a denominações evangélicas perpassa todo o caso. A dupla Santos e Moura teria conseguido acesso ao ministério por influência do deputado federal João Campos (Republicanos-GO), um dos líderes da bancada evangélica e pastor da Assembleia de Deus Ministério Vila Nova.
Ribeiro, que é pastor presbiteriano, chegou ao cago de ministro por indicação e sob a proteção da primeira-dama Michelle Bolsonaro, evangélica, e de André Mendonça, também evangélico, ex-advogado-geral da União e atual ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
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O caso do balcão de negócios coordenado pela dupla de pastores no ministério foi revelado pelo jornal “O Estado de S. Paulo” em março.
Conforme as reportagens, um grupo de prefeitos de municípios pequenos reclamava da existência de um esquema de cobrança de propinas em troca da liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), ligado ao Ministério da Educação.
De acordo com os relatos, a verba pública era liberada com mais facilidade quando os gestores eram indicados pelos religiosos e por parlamentares do chamado Centrão – partidos sem identificação ideológica clara e que hoje apoiam Jair Bolsonaro.
Sem cargo ou designação formal do Ministério da Educação, a dupla Santos e Moura negociava liberação de verbas com prefeituras pequenas para a construção de escolas, creches e quadras esportivas, entre outras coisas.
O caso mudou de patamar quando, em meio a escalada de denúncias, foi revelado que o presidente Jair Bolsonaro já havia recebido Santos e Moura em pelo menos duas ocasiões.
E atingiu temperatura máxima quando o jornal “Folha de S.Paulo” revelou um áudio em que o então ministro Milton Ribeiro admitia que o governo dava prioridade na liberação de verbas às prefeituras que tratavam diretamente com a dupla de pastores.
“A minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, afirma Ribeiro na gravação.
Ele disse ainda que retribuição pela verba liberada poderia ser feita mediante a construção de igrejas no município contemplado. E que isso era “um pedido especial” do próprio Bolsonaro.
Em meio à repercussão do escândalo, Bolsonaro afirmou que confiava em Ribeiro e colocaria “a cara no fogo” pelo então ministro. “O Milton, coisa rara eu falar aqui, eu boto a minha cara no fogo pelo Milton; minha cara toda no fogo pelo Milton”, disse Bolsonaro. Ribeiro caiu mesmo assim.
Ribeiro pediu demissão sob a alegação de que estava saindo para preservar o governo Bolsonaro.
A saída também foi marcada pela revelação de mais um episódio deletério. No momento da despedida, Ribeiro reconheceu numa rede social que autorizou a impressão de exemplares da Bíblia com a sua imagem, o que depois se transformaria em doações em um evento evangélico. Descobriu-se depois que as bíblias ilustradas com a foto do então ministro teriam sido distribuídas num evento do próprio ministério da Educação no Pará.
As reportagens sobre o caso continuaram. Ao jornal “O Estado de S. Paulo”, o prefeito de Luis Domingues (MA), Gilberto Braga (PSDB), afirmou que um dos pastores com trânsito no ministério pediu R$ 15 mil e um quilo de ouro para autorizar uma liberação de recursos para o seu município.
Na sequência, o prefeito de Piracicaba (SP), Luciano Almeida (União Brasil), afirmou à “Folha” que ouviu a sugestão de patrocinar um evento no município com a presença de Ribeiro como condição para obter recursos para sua cidade.
As cinco prisões realizadas nesta quarta-feira e o cumprimento de 13 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Distrito Federal, Goiás e Pará são o desfecho dessa série de denúncias. A Polícia Federal apura se houve, entre outras práticas, corrupção passiva, prevaricação e tráfico de influência na liberação de dinheiro público do FNDE.