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Governo Lula faz 30 dias: qual é o saldo do 1º mês da liderança petista?
Parece que, há uma eternidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse em 1º de janeiro, subindo a rampa do Palácio do Planalto.
No decorrer dos primeiros 30 dias do governo Lula, o clima político, social e econômico foi de “festa de democracia”.
A guinada é explicada no decorrer dos 30 dias iniciais do governo Lula.
O balanço do primeiro mês de Lula no Planalto é misto.
Enquanto o governo respondeu com altivez aos atentados à democracia, alguns ministros — inclusive o presidente — se desencontraram nos discursos e na postura.
1º de janeiro: Lula toma posse e recebe faixa ‘do povo’
Lula fez de sua posse presidencial a “festa de democracia”.
A cerimônia contou com um festival que reuniu artistas que apoiaram o petista durante a campanha eleitoral — batizado satiricamente de Lulapallooza.
A Inteligência Financeira enviou o editor-assistente Lucas Andrade para cobrir a cerimônia de posse presidencial de Brasília, tentando pincelar as expectativas do novo governo Lula.
O presidente subiu a rampa com mais oito brasileiros que, na ausência do ex-presidente Jair Bolsonaro, cumpriram o rito de passagem da faixa presidencial.
A estratégia foi pensada para simbolizar o empossamento de Lula pelo povo brasileiro — cada uma das oito pessoas que passou a faixa representava uma camada da população. Um menino negro foi o primeiro a segurar a faixa presidencial; uma catadora de materiais reciclável negra foi a última a ter o adereço nas mãos.
Primeiro discurso
No primeiro discurso, Lula tocou no que talvez continue a ser o tema mais sensível de sua gestão: o bem-estar das finanças públicas. “Nos nossos governos, nunca houve nem haverá gastança alguma”, avisou o petista, afirmando fez superávits em seus que seus oito anos anteriores à frente do país.
“Eu e meu vice Geraldo Alckmin assumimos hoje, diante de vocês e de todo o povo brasileiro, o compromisso de combater dia e noite todas as formas de desigualdade”, disse.
“É inadmissível que os 5% mais ricos deste país detenham a mesma fatia de renda que os demais 95%. Que seis bilionários brasileiros tenham uma riqueza equivalente ao patrimônio dos 100 milhões mais pobres do país”
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil
Lula, no entanto, voltou a criticar o teto de gastos, alvo frequente de críticas do presidente e de petistas durante a campanha. “É uma estupidez”, disse o mandatário durante a posse.
Quais decretos Lula assinou nesses 30 dias?
Terminada a cerimônia de posse, Lula assinou decretos ao mesmo tempo em que revogou medidas do governo Bolsonaro.
Ao assinar documentos da União novamente, Lula:
- Sancionou medida provisória que garantia o pagamento do Bolsa Família de R$ 600 para 21 milhões de beneficiários do Auxílio Brasil,
- Prorrogou por mais 60 dias a isenção de PIS/Cofins e ICMS sobre combustíveis, desoneração criada por Bolsonaro,
- Desenhou sua Esplanada, com 37 ministérios,
- Reduziu o acesso a armas de fogo, suspendendo o registro de novas armas de uso restrito por CACs (Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores) e a abertura de novos clubes de tiro,
- Reestabeleceu o Fundo Amazônia com orçamento de R$ 3,3 bilhões para ações de combate ao desmatamento,
- Assinou medida para que a Controladoria-Geral da União (CGU), reavaliasse uma série de sigilos à informação estabelecidos por Bolsonaro,
- Revogou 8 processos de privatização de estatais, como os de Correios e EBC (Empresa Brasil de Comunicação), assim como do estudo de privatização da Petrobras.
Salário mínimo
O salário mínimo saltou de R$ 1.212 para R$ 1.302 no governo Lula, aumento bruto de 7,4%. Mas o decreto que determinou o crescimento da renda mínima seguindo a inflação de 2022 foi editado por Bolsonaro, e não pelo presidente.
Lula propôs durante a campanha aumentar o salário mínimo para R$ 1.320. O Orçamento de 2023, aprovado pelo Congresso, já considera o impacto desse aumento nas contas públicas.
Primeiro dia do governo Lula
Lula começou o primeiro dia de governo cumprindo uma promessa de campanha mais ‘informal’.
Bem como prometeu nos debates e discursos durante as eleições que iria “trabalhar para reconstruir o país, o presidente começou o mandato com a agenda lotada.
Na primeira manhã de mandato, ele se encontrou com 15 chefes e representantes de Estado de outros países — todos compareceram em sua posse, que teve recorde de presença de autoridades estrangeiras.
‘Agora, somos uma rede de postos’, diz Haddad em posse
Responsável pela condução da economia de Lula, Haddad assumiu como ministro no primeiro dia do governo Lula. O ministro da Fazenda é considerado o braço direito do presidente da República.
“Éramos um posto Ipiranga. Agora, somos uma rede de postos”, disse Haddad se referindo à forma como Guedes era chamado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Como o mercado financeiro reagiu à posse de Haddad?
O mercado financeiro, no entanto, expressou preocupação já durante a posse de Haddad.
O Ibovespa teve queda no dia, puxada pela derrota política do ministro na desoneração dos combustíveis.
Haddad era contra a desoneração por mais dois meses devido ao impacto nos cofres públicos.
Mas foi vencido pela vontade de Lula de não tomar uma medida impopular na primeira canetada do mandato.
Dino defendeu solucionar caso de Marielle
Talvez o ministro que mais ganhou importância no decorrer do primeiro mês do governo Lula tenha sido o titular da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino.
Dino tomou posse no mesmo dia em que Haddad e defendeu o combate ao racismo, avanço no enfrentamento às drogas e às facções criminosas em grandes capitais brasileiras. Notadamente, prometeu tomar “todos os esforços cabíveis” para desvendar o assassinato da vereadora Marielle Franco.
“Ficaram no passado as palavras insultuosas, as agressões e tentativas de intimidação do Poder Judiciário no nosso país”
Flávio Dino, ministro da Justiça
3/01: Programa ‘Desenrola’ é primeira proposta de Lula no governo
Inaugurando o cronograma de propostas do Ministério da Fazenda, Fernando Haddad anunciou o ‘Desenrola’. O programa federal promete renegociar dívidas de brasileiros com bancos públicos e privados, assumindo parte do risco do empréstimo enquanto o devedor pode negociar o pagamento com descontos.
A ideia é reestabelecer o consumo familiar como motor do PIB (Produto Interno Bruto), explica Leonardo Trevisan, professor de economia da ESPM-SP.
“O maior problema do Brasil hoje é a renda per capita baixa. A realidade da economia é que 8 em cada 10 famílias estão endividadas, e isso acaba gerando o estanque do consumo e do setor de serviços, que puxa o PIB do país”, diz Trevisan.
04/01 – Posses Geraldo Alckmin e Marina Silva
Vice-presidente e ministro — ocupado com o intuito de não dar ‘muito trabalho’.
Lula indicou Geraldo Alckmin ao MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) depois da desistência e alguns empresários próximos ao petista para assumir a pasta.
Em seu discurso de posse, Alckmin destacou a importância de parcerias com a iniciativa privada para ‘reindustrializar’ o Brasil. Ele também defendeu o papel do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para alavancar avanços na indústria, impulsionado pela reforma tributária a ser feita pelo governo.
Por sua vez, a ministra do Meio Ambiente Marina Silva teve a posse mais badalada da Esplanada.
Havia uma fila enorme dando a volta no Palácio do Planalto aguardando para entrar e comparecer à cerimônia.
Mesmo assim, alguns convidados acabaram ficando de fora do prédio mesmo assim.
Sob forte chuva de aplausos, Marina disse que iria mudar o nome do Ministério do Meio Ambiente para incluir ‘Mudança Climática’ no nome da pasta.
“O papel do ministério não é ser entrave a justas expectativas de desenvolvimento econômico, mas de um facilitador sem perda de qualidade para que essas demandas sejam atendidas com a necessária proteção”
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente
05/01: Simone Tebet é anunciada no Planejamento
Outra posse que esteve tão concorrida quanto a de Marina Silva foi a da ex-senadora Simone Tebet (MDB-MT).
Vista como um importante cabo eleitoral para Lula no segundo turno das eleições, quando declarou seu apoio ao petista, Tebet foi colocada no Ministério do Planejamento às pressas, nos últimos dias de 2022.
Ela destacou em seu primeiro discurso oficial como divergia de Lula na área econômica e que, por isso, não esperava a indicação.
Tebet reafirmou que o orçamento do governo terá de se adequar ao PPA (Plano Plurianual) e que não deve abrir mão da “responsabilidade fiscal, dos gastos públicos e da qualidade deles”.
06/01 – Primeira reunião ministerial do governo Lula
Ao longo da primeira semana de governo, alguns ministros deram declarações que desanimaram economistas e o mercado financeiro, como se ainda estivessem no período eleitoral e no topo do palanque.
Um deles foi Carlos Lupi, ministro de Previdência Social.
O presidente do PDT afirmou que trechos da Reforma da Previdência seriam revogados.
Já Luiz Marinho, ministro do Trabalho, disse em sua posse que a reforma do trabalho feita por Michel Temer seria revista.
Rui Costa, ministro da Casa Civil, se apressou para apagar o incêndio com o propósito de diminuir os ruídos de imagem.
“Não há nenhuma proposta sendo analisada ou pensada neste momento para revisão de reforma, seja previdenciária ou outra. Neste momento não tem nada sendo elaborado”, disse o ex-governador da Bahia após a posse de Geraldo Alckmin.
Entre encontros e desencontros, ficou clara uma falta de coesão da equipe de auxiliares em sua semana inaugural. Lula reuniu todos os ministros no dia 6 de janeiro para a primeira reunião ministerial do ano, uma forma de arrumar a casa.
Primeiramente, o presidente enfatizou no encontro que o Brasil precisaria ser reconstruído após os quatro anos de governo de Jair Bolsonaro. Ele afirmou que o governo “não é de pensamento único” mas que o esforço para “reconstruir o Brasil precisaria ser igual”.
Mas a dissonância entre Lula e ministros seria o menor dos problemas a partir do dia 8 de janeiro.
8 de janeiro: Atentado à democracia em Brasília
Na tarde daquele domingo, Brasília foi alvo de uma tentativa de golpe nunca vista antes na história do Brasil desde a redemocratização de 1986.
Apoiadores radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram primeiro a barreira de contenção que impedia acesso às cúpulas do Congresso Nacional, onde ficam Câmara dos Deputados e Senado Federal. As ações da PM do Distrito Federal foi enfraquecida pelo baixo contingente de agentes de segurança no local.
Os bolsonaristas, em seguida, invadiram os plenário do Senado. Marcharam, posteriormente, rumo aos prédios do STF e da sede de despacho da Presidência, o Palácio do Planalto.
O episódio deixou um rastro de devastação e ruína — o Palácio do Planalto e o STF foram os mais vandalizados. Na sede da presidência, bolsonaristas destruíram um acervo avaliado em R$ 8,5 milhões.
A reação dos Três Poderes foi inédita e, ao mesmo tempo, enérgica. Os primeiros oito dias do governo Lula tornaram-se um capítulo à parte do outros 22, explica Trevisan. Em outras palavras, com o atentado, ficou evidente que os principais planos do governo para debater o lado fiscal ficaram em segundo plano.
A fim de coibir novas tentativas de depredação e invasão de Congresso, STF e Palácio do Planalto, Lula decretou intervenção federal na Segurança do Distrito Federal e nomeou como Ricardo Cappelli, homem de confiança do ministro Flávio Dino, como interventor.
09/01: O ‘day after’ da tentativa de golpe
A ressaca da destruição do dia seguinte mudou a trajetória do governo Lula, que mal havia começado.
O governo federal começou a analisar imagens e posts nas redes sociais, assim como denúncias enviadas por usuários, para identificar e prender os golpistas responsáveis pela depredação.
Com os atentados golpistas, Flávio Dino tornou-se a peça chave do governo Lula para conter novas ameaças. Em conjunto com AGU, Dino disse que a ordem “era prender qualquer um que tivesse sido flagrado” destruindo os prédios dos Três Poderes.
Na noite do dia 9, em cena história, Lula e os chefes dos Três Poderes caminharam pelos destroços do STF. Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, e Rosa Weber, presidente do STF, estavam presentes. Além disso, governadores simpáticos à Bolsonaro também compareceram à caminhada, como Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo.
12/01: Governo Lula: Haddad define meta fiscal
O dia 12 pode ser visto como “Dia D” da Fazenda no primeiro mês do governo Lula. Isso porque Haddad reuniu a imprensa e lançou o conjunto de medidas de revisão de receita com impacto de R$ 242,7 bilhões na dívida pública.
Por isso, o anúncio de Fernando Haddad transmitiu uma imagem de que o governo estava ‘com um olho no peixe e outro no gato’, como diz Trevisan. Se, por um lado, o “Desenrola” foi criado com o propósito de refinanciar dívidas, por outro o governo mostrou que tem em mente metas de responsabilidade fiscal.
As medidas de Haddad tentam transformar o déficit primário do governo em superávit de 0,5%. A meta mais realista do governo Lula é fechar 2023 com um rombo de 1% a 0,5% do PIB — estimativa já precificada pelo mercado financeiro. Isso seria um déficit de entre R$ 100 bi a R$ 90 bi.
“Consideramos possível, com muita tranquilidade, em fechar o déficit de 2023 inferior a 1%. Vamos perseguir essa meta, estamos saindo de 2,3% [do PIB]”
Fernando Haddad, ministro da Fazenda
Qual é o pacote de Haddad?
As principais medidas elencadas por Haddad para aumentar a receita do governo Lula são:
- Reoneração dos combustíveis após vencimento da MP de isenção do ICMS, PIS/Cofins sobre gasolina, diesel e etanol (R$ R$ 58,8 bilhões) — pode levar ao aumento do preço dos combustíveis
- ‘Litígio Zero’ – programa que visa agilizar e desburocratizar processos do Carf, tribunal do Fisco, para micro e pequenos empreendedores (R$ 70 bi)
- Reoneração do PIS/PASEP sobre receita de empresas (R$ 4,4 bi)
- Reestimativa de receitas do governo (R$ 36,4 bi)
- Liberação das receitas de ativos primários do PIS/PASEP pela PEC de Transição (R$ 23 bi)
- Ação de redução das despesas por meio da revisão de contratos e programas (R$ 50 bi)
16/01: Haddad e Marina vão à Davos representando governo
O governo Lula enviou à Davos, na Suíça, o ministro da Fazenda e a chefe do ministério do Meio Ambiente para representarem o país diante dos holofotes internacionais. Começava o Fórum Econômico Mundial, que reúne anualmente empresários, banqueiros, políticos e autoridades do mundo inteiro.
Em Davos, Haddad falou sobre investimento estrangeiro no Brasil e defendeu a proposta de reforma tributária do secretário especial da Fazenda, Bernard Appy. O ministro almoçou com executivos de executivos de Bradesco, Itaú, Safra, McKinsey, Telefônica, além de José Auriemo Neto, da JHSF, e Nizan Guanaes, buscando um diálogo mais conciliador com o mercado financeiro.
Já Marina Silva disse em pronunciamento que ‘120 milhões de pessoas passam fome’ no Brasil. A fala gerou polêmica nas redes sociais, onde usuários acusaram a ministra de inflar os dados oficiais que mostram que 30 milhões de brasileiros estão em situação de fome. Ela também se encontrou com a ativista do clima Greta Thunberg.
18/01: Lula contesta independência do BC
Na agenda do presidente Lula, estava marcada uma entrevista exclusiva com Natuza Nery, apresentadora da GloboNews.
Durante a conversa com a jornalista, Lula criticou a independência do Banco Central em relação ao Executivo. “Eu posso te dizer, com a minha experiência, é uma bobagem achar que um presidente do Banco Central independente vai fazer mais do que quando o presidente era quem indicava”, comentou.
A fala não pegou bem com economistas e com o mercado financeiro, jogando o Ibovespa para baixo.
“Por que o banco é independente e a inflação e os juros estão do jeito que estão?”, questionou. “Você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7%. Quando faz isso, é obrigado a arrochar mais a economia para atingir a meta. Por que precisava atingir os 3,7%? Por que não fazia 4,5% como nós fizemos?”, disse Lula.
No dia seguinte, Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais da Presidência, publicamente apaziguou os ânimos. Em seu Twitter, o petista afirmou que não há predisposição do governo em alterar a independência do BC.
Enquanto isso, fora de Brasília, Haddad disse no Fórum Econômico Mundial que Lula iria “avaliar” os critérios de entrada do Brasil na OCDE. Outra notícia que o mercado não absorveu bem.
20/01: 1ª reunião das Forças Armadas com governo Lula
Depois de muito esforço, José Múcio Monteiro, ministro da Defesa, conseguiu reunir Lula e os chefes das Forças Armadas em uma sala fechada.
Os comandantes das três forças na época, general Júlio Cesar de Arruda (Exército), almirante Marcos Sampaio Olsen (Marinha), e o tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno (Aeronáutica) se encontraram com o presidente. O comandante da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), Josué Gomes, também estava presente, assim como o próprio Múcio.
O encontro durou cerca de quatro horas e, em seguida, Múcio deu uma coletiva aos jornalistas. Em meio à alegação de que Arruda, do Exército, teria impedido a prisão de golpistas no acampamento em frente ao quartel-general de Brasília — segundo fontes do Washington Post —, Múcio disse que o atentado à democracia não foi discutido.
Emergência de Saúde com povo Yanomami
Por outro lado, o Ministério da Saúde decretou oficialmente emergência de saúde pública na Terra Indígena do povo Yanomami. A portaria, publicada em edição extra do Diário Oficial da União (DOU), alertou o governo sobre casos graves de desnutrição de crianças e idosos no território indígena com mais de 30,4 mil habitantes.
Alde desnutrição, um grupo de técnicos do Ministério da Saúde se deparou com indígenas em estado grave de saúde, como por exemplo casos de malária, infecção respiratória aguda (IRA) e outros agravos.
21/01: Lula demite comandante do Exército e visita os Yanomami
Lula demitiu o general Júlio Cesar de Arruda do comando do Exército um dia depois se reunir com o militar a portas fechadas.
O substituto nomeado para o comando do Exército foi Tomás Miguel Ribeiro Paiva, ex-comandate militar do Sudeste. Paiva apareceu em vídeo no qual pedia para que os militares respeitassem a vitória de Lula e o resultado das urnas em outubro.
Lula fez uma viagem à aldeia dos Yanomami, localizada em Roraima.
Em decorrência da visita, o presidente prometeu assistência do SUS e, de imediato, a transferência de um hospital de campanha da Aeronáutica do Rio de Janeiro para Roraima.
22 e 23/01: Lula faz sua primeira viagem internacional no governo
Dentro dos primeiros 30 dias de governo, Lula escolheu a Argentina como destino de sua primeira viagem internacional após ser empossado como presidente da República.
A data não foi especial somente para o chefe do Executivo, mas também para o vice-presidente, Geraldo Alckmin. Isso porque, com a ausência da Lula, Alckmin assumiu pela primeira vez a Presidência da República do Brasil.
O vice, que também é ministro do MDIC, concorreu ao cargo em 2006 e 2018, sem sucesso.
Encontro com presidente Argentino
Lula levou uma comitiva de ministros para o encontro com o presidente argentino Alberto Fernández. Haddad, Nísia Trindade, Luciana Santos e Flávio Dino estavam dentre os participantes da caravana, a fim de assinarem acordos de cooperação entre Argentina e Brasil.
O destaque do encontro, contudo, foi o anúncio da criação de uma nova moeda com a Argentina para fins de transação e comércio exterior com o vizinho. Lula disse que Haddad e o ministro da economia da Argentina devem formar equipes para elaborarem a nova moeda, que pode se chamar Sur.
“Se dependesse de mim, teríamos moedas comum com a moeda de outros países para não ficar dependendo do dólar. Por que não criar uma moeda comum com outras moedas do Mercosul? Do Brics? Acho que isso vai acontecer”
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil
O governo, no entanto, negou que a nova moeda significaria o fim do real brasileiro ou do peso argentino. A ideia é que a “Sur” não seja cambial, como é o euro é da União Europeia.
Além da nova moeda, Lula anunciou que um dos maiores ‘bichos papões’ do mercado financeiro e da economia brasileira estaria de volta: empréstimos do BNDES para outros países.
O tema é cercado de desinformação, e visto com cautela por economistas, posto que, no passado, foi usado na política de ‘campeões nacionais’ do PT por empresas que, mais tarde, revelaram departamentos de propina na Operação Lava-Jato.
Lula anunciou que o novo gasoduto que liga o campo de gás mineral de Vaca Muerta, na Argentina, ao Rio Grande do Sul deve ser construído com créditos do BNDES.
“Tenho orgulho do BNDES que podia financiar uma obras em um país da América do Sul, e em países africanos. Porque é isso que os países maiores deveriam fazer para auxiliar os países que tem menos condições”, defendeu Lula.
24/01: Petrobras aumenta preço da gasolina
A Petrobras reajustou o preço dos combustíveis na última terça-feira. O valor do litro nas refinarias foi de 7,46%, de R$ 3,08 para R$ 3,31.
Leia a seguir
A medida pode, por consequência, pesar no bolso dos brasileiros. Isso se o combustível for reajustado na bomba dos postos. Em 30 dias de governo Lula, esse foi o primeiro aumento dos combustíveis efetuado pela Petrobras.
25/01: Ministro sugere reajuste na tabela do IR
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse que o governo cumprirá com duas promessas feitas ainda na campanha de Lula:
- A correção da tabela do Imposto de Renda;
- E a valorização do salário mínimo.
“O presidente Lula é muito responsável. O compromisso [de isenção para até R$ 5 mil] é pra valer, acreditamos que é possível fazer. Estamos discutindo como começar a fazer os ‘degrauzinhos’. É possível falar de alguma correção para esse ano? Talvez seja. A economia vem trabalhando. Vai coordenar o processo. Tem esse espaço, vamos fazer. Não tem, vamos trabalhar para o ano seguinte”, disse Marinho em entrevista à GloboNews.
Lula prometeu durante a campanha que a tabela do IR da Pessoa Física seria atualizada para desonerar quem ganha até R$ 5 mil, o que equivale hoje a pouco menos que 4 salários mínimos.
Nesse sentido, o mínimo deve aumentar ainda mais a partir do aumento real acima da inflação repassado pelo governo no começo do ano.
27/01: Reunião com governadores abordou ICMS
De volta ao Brasil depois da passagem por Argentina e Uruguai, Lula se reuniu na sexta-feira com os 27 governadores, porque queria discutir a reoneração do ICMS entre União e Estados.
O ICMS continua isento para combustíveis, medida que foi adotada pelo governo Bolsonaro e prorrogada no primeiro dia do governo Lula. O adiamento da desoneração provocou rombo de R$ 33,5 bilhões aos Estados, conforme explicação de Renato Casagrande (PSB), governador do Espírito Santo.
Qual é o saldo de 30 dias do governo Lula?
O primeiro mês do governo Lula tem dois capítulos, segundo especialistas ouvidos pela IF.
Um ‘antes e depois’ dos atentados à democracia de 8 de janeiro’.
As ações golpistas, nesse sentido, marcam uma virada na economia e na postura política do governo, na avaliação de Leonardo Trevisan. Ele comenta que, ao contrário do que se esperava, a depredação dos bolsonaristas radicais não deu uma margem maior para que Lula tomasse decisões mais extremas e consideradas ‘de esquerda’ na economia.
“Há um traço no governo por uma abertura que pode chegar na economia. É fruto de uma relação mais democráticas com nossos vizinhos. Podemos atribuir muito da derrota do radicalismo graças à elite empresarial, que não apostou nessa saída [golpista].”
Leonardo Trevisan, professor da ESPM
A ‘festa da democracia’ do dia 1º de janeiro parece ter ficado ainda mais distante.
Para Marco Antonio Teixeira, cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), a simbologia da subida da rampa mostrou que o governo Lula vive uma “ruptura” em relação ao anterior.
“O Governo arrumava a casa até o dia 8, com novos ministérios. Ele buscou uma representação mais configurativa do Brasil e foi acompanhado pelo mundo na cerimônia de posse”, diz o cientista político.
“Até que chega o 8 de janeiro. O ataque não foi ao Lula, acabou sendo contra a democracia. A partir do atentado, criou-se um grau de articulação no país que diminuiu o ímpeto da oposição. Provavelmente, nas próximas semanas, será difícil a oposição se organizar em torno da figura de Bolsonaro.”
Marco Antonio Teixeira, cientista político da FGV
E o que esperar dos próximos 30 dias?
Tudo depende da eleição da mesa do Congresso Nacional, avaliam os especialistas.
Para a liderança da Câmara dos deputados, não há quem ameace Arthur Lira no comando da Casa. Mas a disputa deve se acirrar pela posição de vice-líder e secretário da Câmara.
No Senado, Rodrigo Pacheco tem mais votos para a reeleição.
Mas o mineiro sofre pressão de dois candidatos à presidência do Senado: Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro de Bolsonaro, e Eduardo Girão (Podemos-CE), que também é aliado do ex-presidente.
A disputa no Congresso deve pautar os próximos movimentos do governo Lula e, mais importante, definir a agenda de Haddad, pontua Trevisan. Isso porque a prioridade zero do governo Lula é a aprovação da reforma tributária.
A PEC de Transição, que deu espaço fora do teto de gastos para custear o Bolsa Família de R$ 600, demonstrou que Lula ainda é capaz de articular bem as cordas do Congresso.
Mas a reeleição na Câmara e no Senado devem apontar se a suposta ‘frente ampla’ que levou o petista ao Planalto continua como sucesso.