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Análise: Bolsonaro tenta reeditar ‘frente ampla’ de direita na reta final do 2º turno
Atrás nas pesquisas faltando duas semanas para o segundo turno, o presidente Jair Bolsonaro (PL) move-se nos bastidores para se reconciliar com parte do eleitorado que o apoiou em 2018 e hoje está em cima do muro ou do lado oposto. Parte dessa estratégia de reconquista, na reta final, inclui a montagem de uma “Frente Ampla” de direita que reproduza em larga medida a configuração de forças políticas que deram sustentação ao projeto vitorioso de quatro anos atrás.
A expressão, que vem sendo consagrada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), responsável por agregar ex-adversários de vários matizes ideológicos em seu projeto para voltar ao Planalto, agora virou o mote de dirigentes da coligação bolsonarista. Para eles, não há outra opção tática para o presidente se aproximar do petista nas pesquisas em tempo recorde.
É nesse contexto que se insere a reaproximação com Sergio Moro, visto por um segmento do eleitorado como “herói” da operação Lava-Jato, que levou o ex-presidente Lula à condenação e prisão.
Moro, que deixou o governo acusando Bolsonaro de interferência indevida na Polícia Federal e rompeu naquela ocasião com o presidente, abandonou a corrida eleitoral em março deste ano com 10% de intenções de voto na média das pesquisas, patamar superior ao de Ciro Gomes, João Doria e Simone Tebet na ocasião.
O ex-juiz detinha seu melhor desempenho em São Paulo, onde Bolsonaro teve em 2018 cerca de 6 milhões de votos a mais do que registrou nas urnas no último dia 2 de outubro.
Junto com Moro, que assessorou Bolsonaro no debate da Band a fim de estimular o confronto com o rival petista no quesito corrupção, um braço do movimento de redes sociais composto por jovens e que ganhou as ruas em 2015 para defender o impeachment de Dilma Rousseff, o VPR (Vem pra Rua), declarou apoio ao presidente.
É a economia!
Em outra frente, Bolsonaro usa Paulo Guedes como antídoto ao que chama de “incertezas” na equipe econômica do adversário. Assunto, aliás, tratado no debate de domingo, quando o presidente indagou seu oponente sobre o nome do possível ministro da Fazenda numa eventual gestão do PT, sem obter resposta.
Ainda que Guedes tenha rejeição de parte significativa da ala política do governo, em especial os próceres do centrão, o Planalto avalia que o ministro oferece previsibilidade ao mercado financeiro, que apoiou fortemente sua candidatura à Presidência na eleição passada.
“As pessoas podem ter críticas a Guedes, mas sua agenda é conhecida. Seu pensamento econômico é amplamente conhecido. É o certo pelo duvidoso”, afirma um ministro do QG bolsonarista.
Como a Risco Político antecipou, a presença do ministro nos debates e na propaganda de TV e das redes sociais será intensificada até o segundo turno, pois há o entendimento de que a agenda positiva da economia precisa ser explorada e comparada com o que os bolsonaristas chamam de “cheque em branco” que Lula estaria demandando para gerir o país.
Auxiliares do presidente entendem que os indicadores de melhora na aprovação do governo, detectados em pesquisas desde o final de setembro, devem-se à pauta liderada por Guedes no enfrentamento à inflação e na retomada dos empregos, além da expectativa de crescimento do PIB.
“Asfaltador”
De olho nos mais de 20 milhões de votos do interior de São Paulo, Bolsonaro também pretende explorar a dobradinha com Tarcísio de Freitas, favorito para o Palácio dos Bandeirantes, e apresentado pelo presidente como “seu melhor ministro”. Ex-titular da Infraestrutura, Tarcísio estará presente na estratégia nacional bolsonarista para fazer frente ao PT no principal colégio eleitoral do país.
O desempenho do seu ex-ministro, que acaba de mudar seu domicílio eleitoral, é apontado pelo núcleo político da campanha como decisivo para aumentar a margem de Bolsonaro sobre Lula nas urnas paulistas.
Com Moro, Guedes e Tarcísio, os interlocutores de Bolsonaro acreditam que podem fazer prevalecer nos dias finais do segundo turno a tese de que o antipetismo segue como um dos maiores vetores políticos do país. “É a ideia do presidente. Apresentar o que ele chama de ‘Dream Team’ do seu ministério, que funcionou bem no início do governo, em 2019, para seduzir esse eleitor que já foi dele um dia”, acrescenta essa fonte do comitê de Bolsonaro.
(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)
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