Lula e Bolsonaro vão ao segundo turno; petista tem 48,4% dos votos contra 43,2% do presidente
Campanhas devem reforçar a polarização no 2º turno
A eleição presidencial de 2022 terá um segundo turno entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).
Com 99,99% das seções eleitorais totalizadas, o petista conta 48,43% dos votos totais, contra 43,20% do atual presidente da República, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A diferença entre os candidatos foi de 6.186.838 de votos.
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A diferença entre os dois candidatos ficou bem menor do que as pesquisas de intenção de voto projetavam, jogando um balde de água fria na campanha petista, a qual acreditava em uma vitória de Lula no primeiro turno. Essa esperança havia crescido, nos últimos dias, após economistas de diversas linhas e políticos de centro, incluindo ex-ministros de Fernando Henrique Cardoso anunciarem apoio ao petista.
A campanha de Bolsonaro também aumentou o esforço para conseguir apoio na reta final das eleições. Na semana passada, Neymar, astro da seleção brasileira que disputará a Copa de 2022 no Catar, divulgou vídeo em suas redes sociais entoando o jingle do presidente. Em mensagem gravada, o ex-chefe do Executivo nos Estados Unidos, Donald Trump, disse que Bolsonaro é “um dos maiores presidentes que um país poderia ter”.
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As pesquisas Ipec, Datafolha e Quaest erraram?
O último levantamento do Ipec, divulgado no sábado (30), informou que Lula tinha 51% de intenções de voto, excluindo brancos e nulos, contra 37% de Bolsonaro; na mesma data, o Datafolha apontou liderança de 50% a 36% para o candidato do PT; na Genial/Quaest, o cenário era de 49% a 38%.
Neste domingo (2), a liderança de Lula não chegou perto dos 10 pontos percentuais que os últimos levantamentos mostraram. Com uma vantagem de 5 pontos percentuais, o PT sai assustado também com os resultados do Legislativo e das eleições estaduais, que apontam para um bolsonarismo mais forte do que o esperado em todo o país.
Em São Paulo, o ex-ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes (PL), foi eleito senador. As pesquisas indicavam que esse lugar seria de Márcio França (PSB), que fazia parte da coligação petista. Na disputa pelo governo do Estado, o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos) superou Fernando Haddad (PT) nos votos, o contrário do que estava previsto nas pesquisas de Ipec e Datafolha.
Para Mayra Goulart, cientista do Departamento de Ciência Política da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), muitas votações, sobretudo para os governos estaduais e o Legislativo, estavam com uma previsão de indecisos muito grande, o que ajuda a explicar a discrepância entre as pesquisas e os resultados efetivos. “Esses votos flutuaram nesse intervalo de tempo”, diz Goulart. “Acho importante enfatizar que pesquisa não é futurologia. O retrato de cada momento pode ter sido acertado, mas as preferências podem ter variado no intervalo de um dia para o outro.”
Outro motivo para a diferença pode estar na calibragem das amostras populacionais utilizadas pelos institutos de pesquisa. O atraso do Censo, que deveria ter sido realizado em 2020 e está em andamento agora, privou-os de atualizações de determinados estratos. “Estamos vivendo um apagão de dados, então os dados de evangélicos, da população que ganha de 2 a 5 salários mínimos, variavam muito [entre os institutos], diz Goulart.
O que falta explicar, ainda, é o que motivou a preferência de uma fatia grande do eleitorado por Bolsonaro. O incumbente viu sua popularidade erodir ao longo dos anos conforme a pandemia de Covid-19 matava centenas de milhares de brasileiros e a inflação disparava, fazendo o poder de compra da população encolher. A última pesquisa de opinião do instituto Datafolha, divulgada na quinta-feira (29), apontou que 44% da população reprovavam o governo de Bolsonaro, enquanto 31% aprovavam.
Caso a liderança de Lula se mantenha no segundo turno, Bolsonaro seria o primeiro presidente da história a não conseguir se reeleger.
Lula no segundo turno
Para muitos especialistas, a vantagem de Lula na busca por apoio no segundo turno é estar um pouco mais ao centro do espectro político, enquanto Bolsonaro é considerado de extrema-direita. A proposta do petista de “conciliação” – termo chave que a campanha de Lula vinha usando para a estratégia do primeiro turno – é mais atraente para formar alianças políticas.
O candidato do PT deve dar ênfase ao antibolsonarismo, uma novidade nesta disputa eleitoral que pode ajudar Lula a conseguir apoio entre eleitores que não são petistas. “Desde 1994, sempre tivemos uma estrutura mais polarizada de eleições, e a maior parte das disputas foi marcada por um forte discurso baseado no antipetismo. Mas, em 2022, há um fator novo: o antibolsonarismo, que vem de uma análise crítica da gestão ruim do atual governo. Outro fator de rejeição ao antibolsonarismo é de que ele é identificado como uma ameaça à democracia por alguns setores da sociedade”, explica Goulart.
Bolsonaro no segundo turno
Bolsonaro também vê seu extremismo como trunfo, porque lhe garante o apoio firme de uma parcela de 20% a 30% da população que tem medo da esquerda. A saída da disputa de candidatos mais moderados da terceira via permite que o discurso antipetista de Bolsonaro tenha mais tempo para maturar – as vozes de fora da polarização entre esquerda e direita que criticavam o governo não estão mais na corrida ao Planalto.
A eleição para o Senado evidencia a força do bolsonarismo, subestimada pelos institutos de pesquisa e pela candidatura petista. Três ex-ministros de Bolsonaro foram eleitos senadores: Tereza Cristina (PP-MS), Marcos Pontes (PL-SP) e Damares Alves (Republicanos-DF). O ex-secretário de Pesca, Jorge Seif (PL-SC), também garantiu uma cadeira no Senado.
A partir deste domingo, a campanha de Bolsonaro deve voltar a uma estratégia mais parecida com a utilizada em 2018: uma pauta de costumes, estimulando o medo da esquerda e do comunismo, com uma visão conservadora dos direitos civis.
No sábado (1), em entrevista ao Jota, o ministro das Comunicações Fábio Faria sinalizou um aliado de Bolsonaro que pode entrar em campo no segundo turno: a economia. O atual presidente cita frequentemente, nas peças publicitárias e debates, as quedas no preço da gasolina e da inflação como realizações da sua administração. Com mais um mês de disputa, esses fatores podem pesar mais a seu favor.
Terceira via no segundo turno
A candidata derrotada do MDB à Presidência, Simone Tebet, afirmou neste domingo (2) que vai aguardar manifestações dos presidentes do partido de sua aliança – MDB, PSDB, Cidadania e Podemos – para anunciar sua posição no segundo turno das eleições. Ela acrescentou que não vai se omitir e que espera que os presidentes dos partidos se manifestem em até 48 horas.
“Quero dizer, com todo o respeito, respeito o processo eleitoral, que não terminou agora porque agora é hora dos presidentes dos nossos partidos se posicionarem e pronunciarem. Eu espero que o façam e o façam rapidamente para que depois eu possa, como candidata à presidência que fui, nesse momento tão complexo, onde nós temos, sim, que analisar os resultados da urna para que eu possa me posicionar”, afirmou a emedebista.
O candidato do PDT, Ciro Gomes, evitou sinalizar se vai apoiar algum candidato no segundo turno. “Quero dizer a vocês que estou profundamente preocupado com o que eu estou assistindo acontecer no Brasil”, disse.
O ex-ministro afirmou que vai conversar com o PDT antes de fazer maiores pronunciamentos. “Por isso, eu peço a vocês que me deem mais algumas horas para conversar com os meus amigos, com o meu partido para que a gente possa achar o melhor caminho para bem servir à nação brasileira”, complementou Ciro.