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Esforço de governabilidade exigirá de Lula destreza para recompor forças de segurança
O êxito do esforço do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para liderar um pacto nacional de governabilidade no rescaldo dos ataques aos prédios dos Três Poderes depende da sua capacidade de administrar as reações das forças de segurança pública, federais ou estaduais.
As alianças firmadas com as cúpulas do Legislativo e do Judiciário para fazer frente aos movimentos golpistas que tiveram seu ápice no domingo garantem ao presidente um colchão institucional de suporte, mas não são suficientes para debelar definitivamente o risco da ruptura ou da resistência de focos.
A avaliação é compartilhada por interlocutores de Lula e ministros da área política, que trabalham para reduzir a desconfiança em torno da conduta da cúpula militar e promover um alinhamento com governos de estados com tropas de maioria ideológica refratária ao presidente.
O diagnóstico traçado por auxiliares de Lula é o de que não há ameaça iminente de insurgência dos comandos das Forças Armadas, mas também persistem dúvidas quanto à disposição dos oficiais de atuar no combate às manifestações antidemocráticas.
As imagens de ativistas avançando pela Esplanada dos Ministérios sem nenhuma barreira e sendo escoltados por agentes até o ingresso no Congresso Nacional, no Planalto e no STF desmoralizaram o aparato de segurança do coração do poder em Brasília.
Divã
Os questionamentos foram apresentados ao ministro José Múcio (Defesa), que havia defendido a nomeação de comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica seguindo o critério da antiguidade em prol de uma transição mais serena nos cargos de chefia. O entendimento desses operadores de Lula é o de que o titular da pasta, além de relativizar a gravidade dos acampamentos de apoiadores de Jair Bolsonaro no entorno de quartéis, teria demonstrado pouca ascendência sobre os recém-empossados chefes das Forças.
Em contraponto, aliados de Lula advertem que a margem de manobra de Múcio é restrita e que ele ainda é o nome mais indicado para lidar com as apreensões do governo com a caserna.
A angústia da equipe do presidente foi tamanha que assessores do governo que cogitaram a adoção de medidas de restabelecimento da ordem pública mais extremas ponderaram a Lula que não havia convicção de apoio orgânico dos militares caso fossem solicitadas providências mais duras que a decretada intervenção na segurança do Distrito Federal.
O próprio Lula vocalizou seu desconforto com a conduta de generais em diversas instalações militares no país circundadas por atos que pediam o golpe, “sem que ninguém se manifestasse contra”. “Parece que estavam gostando do pedido de golpe”, afirmou o presidente diante dos governadores, ministros e representantes do Supremo na noite desta segunda-feira.
O comitê de crise montado pelo Planalto, desde então, passou a agir transversalmente na resposta aos atos violentos e terroristas do domingo de forma a mitigar as dúvidas quanto ao silêncio dos generais, almirantes e brigadeiros ante as cenas de destruição na capital federal.
A ideia é dar demonstrações de “normalidade”, acelerando a remoção de acampamentos em todo o país e disseminando as imagens de prisão em série de golpistas. Com isso, o governo acredita que estará exibindo vigor no comando da reação institucional, revertendo a imagem inicial de insegurança.
Nó federativo
Lula tem relatado a aliados que teme o comportamento das forças de segurança sob comando de governadores que foram eleitos com apoio de Bolsonaro. As polícias estaduais, cujos integrantes de baixas patentes não escondem a simpatia ao ex-presidente, estão sendo monitoradas pelo Planalto.
Despertou preocupação a fala do secretário de Segurança de São Paulo, Guilherme Derrite, um deputado licenciado bolsonarista, segundo quem serão cumpridas as medidas determinadas pelo STF para remoção de acampamentos na base do “diálogo”.
No Planalto houve quem comparasse a declaração do secretário às tentativas contemporizadoras do ministro Múcio, que chegou a classificar as manifestações que ocorriam em frente aos quartéis como pacíficas e democráticas.
Esse quadro de inquietude moveu o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, que tomou a frente das negociações para evitar ausências representativas no encontro de Lula com os governadores.
Padilha telefonou para Romeu Zema (Minas) e Tarcísio de Freitas (São Paulo), que hesitavam em comparecer, e prometeu que a pauta da reunião seria institucional e menos “ideológica”.
As presenças de Zema e Tarcísio, que governam os maiores eleitorados, foram vistas como vitórias de Lula num momento em que o presidente busca explicitar a retomada da legalidade e da ordem diante da crise mais grave experimentada pela democracia brasileira.
FÁBIO ZAMBELI – Analista-chefe em São Paulo. Jornalista com 28 anos de experiência em cobertura política e dos Três Poderes em São Paulo e Brasília. Foi repórter e editor da Folha de S. Paulo e diretor de inteligência e atendimento na área pública da FSB Comunicação
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