Lula volta a criticar mercado: ‘Qualquer dinheiro que não seja para pagar juros é gasto’
'Eu nunca vi a Febraban [Federação Brasileira de Bancos] dar uma parte do dinheiro que gasta com juros para o padre Júlio Lancellotti alimentar as pessoas', diz presidente
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar o mercado financeiro nesta quinta-feira (12) e disse, dessa vez, que o mercado construiu uma narrativa de que “qualquer dinheiro que não seja para pagar juros é gasto”.
“É preciso parar de utilizar a palavra gasto”, disse Lula em café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto. “Eles (mercado) devem falar que o governo não pode gastar com tanto juro”, acrescentou.
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Lula volta a citar superávit em sua gestão
Para Lula, é preciso distinguir gasto público com investimentos em programas sociais, como o Bolsa Família ou alocar recursos do Orçamento para as áreas de saúde e educação, por exemplo.
“Quanto custou ao país não fazer as coisas no momento certo na pandemia?”, afirmou. “Eu nunca vi a Febraban [Federação Brasileira de Bancos] dar uma parte do dinheiro que gasta com juros para o padre Júlio Lancellotti alimentar as pessoas.”
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O petista também reiterou que está em seu terceiro mandato e não é “marinheiro de primeira viagem”. Logo, ressaltou, disse não entender a “preocupação” que podem ter com mais um governo do PT.
“Fiz superávit primário em todos os anos do meu governo. O governo vai cuidar das pessoas mais necessitadas e pronto”, frisou.
Presidente está desconfiado das Forças Armadas
A jornalistas, Lula afirmou que se recusou a decretar uma operação Garantia de Lei e Ordem (GLO) para conter os atos golpistas no domingo (8) porque, dessa forma, ele abandonaria suas responsabilidades de lidar com a situação. Durante o café da manhã, o presidente transpareceu um clima de desconfiança em relação às Forças Armadas que, segundo ele, Jair Bolsonaro conseguiu “poluir”.
“Se eu tivesse feito a GLO, eu teria assumido a responsabilidade de abandonar a minha responsabilidade. Aí, sim, estaria acontecendo o golpe que as pessoas queriam. O Lula deixa de ser governo para que algum general assuma o governo. Quem quiser assumir o governo dispute uma eleição e ganhe. É por isso que eu não fiz GLO”, respondeu.
Lula explicou que era necessária uma “intervenção na polícia do DF porque ela é responsável pela segurança do Distrito Federal”.
“Quem paga a polícia do DF é o governo federal. Portanto, o governo federal tem direito de fazer a intervenção. Porque nós pagamos os salários e eles não cumpriram com a função deles. É isso, muito simples”, disse.
Bolsonaro criou ‘clima negacionista’ nas FA, diz Lula
Lula também criticou Bolsonaro pela militarização do governo. O presidente disse ainda que Bolsonaro “criou um clima negacionista” nas Forças Armadas.
“Nunca imaginei que existisse um presidente que tinha sido expulso das Forças Armadas por má-conduta e que, ao assumir a Presidência da República, tivesse criado um clima negacionista dentro das Forças Armadas”, disse Lula. “O cidadão negou, inclusive, chamar as Forças Armadas, o Exército de Caxias, e passou a tratar o Exército como se fosse uma coisa dele. Esse cidadão conseguiu ‘poluir’ as Forças Armadas.”
Ele afirmou ainda ter conversado com os comandantes das Forças sobre a participação de militares na comissão que avaliou a segurança das urnas eletrônicas.
“Eu disse aos comandantes: o que explica uma comissão de general ir cuidar de urna eletrônica? Qual é a lógica disso? Quem tem que ter preocupação com a urna eletrônica são os cientistas, presidentes de partido, deputados, senadores, juízes, mas nunca as Forças Armadas”, afirmou. “O país é como se tivesse dado um terremoto e mudado tudo de lugar. O Bolsonaro mudou o comportamento de muita gente neste país.”
Sem esconder o tom de desconfiança, Lula disse que quer “voltar a ter um relacionamento respeitoso” com os militares. Mas contou que seus ajudantes de ordem são militares que trabalham com ele há dez anos porque não quer ter na porta de sua sala “uma pessoa que pode me dar um tiro”.
“Meus ajudantes de ordem são os companheiros que trabalham comigo antes. Por que eu não tenho? Porque eu pego o jornal, tem o motorista do Heleno (Augusto Heleno, ex-ministro do GSI do governo Bolsonaro) dizendo que vai me matar e que eu não vou subir a rampa. Um outro tenente dizendo que vai me dar um tiro na cabeça e eu não vou subir a rampa”, disse. “Como eu vou ter uma pessoa na porta da minha sala que pode me dar um tiro? Meus ajudantes de ordem trabalham comigo desde 2010, todos militares. Todos eles estão comigo há dez anos e vão me ajudar. Até que a gente adquira uma relação civilizada, e é só isso que eu quero.”