Mauro Cid detalha repasse de dinheiro de joias a Bolsonaro em delação

Em delação premiada, Mauro Cid afirma ter repassado a Bolsonaro, de forma fracionada e em dinheiro vivo, valores recebidos pela venda de joias nos EUA. O esquema envolveu viagens internacionais e a participação do pai de Cid

O tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), afirmou em sua delação premiada que entregou, de forma fracionada e em dinheiro vivo, os valores recebidos pela venda de joias e relógios nos Estados Unidos.

Segundo o colaborador, o então presidente pediu, ainda em 2021, para que ele realizasse uma pesquisa de preço de um relógio que havia recebido como presente oficial. Na época, Bolsonaro estava “reclamando” de gastos que teve com o pagamento em relação a uma condenação judicial por ofender a deputada Maria do Rosário (PT-RS), com a futura mudança, além de multas de trânsito por não usar o capacete nas motociatas.

Ele confirmou que vendeu um kit de joias branco nos Estados Unidos a pedido de Bolsonaro e que, “ao retornar ao Brasil entregou os U$ 18 mil ao ex-presidente”. Segundo o delator, ele apenas “retirou os custos que teve com passagem aérea e aluguel do veículo”.

Mauro Cid contou ainda que ajustou com seu pai, general Mauro Cesar Lourena Cid, que na época tinha um cargo no exterior, que o saque de outros US$ 68 mil ocorreria de forma fracionada e “entregue à medida que alguém conhecido viajasse dos Estados Unidos ao Brasil”. Segundo ele, havia uma preocupação com o fato de o dinheiro ser entregue em espécie de forma a evitar que circulasse no sistema bancário normal”.

O ex-auxiliar disse ainda que aproveitou viagens oficiais, em que estava na comitiva presidencial, para resgatar o dinheiro com o pai. Em uma das vezes, Lourena Cid entregou a ele cerca de US$ 30 mil em espécie, que foram repassados a Bolsonaro.

Já no final do ano de 2022, o pai de Cid veio ao Brasil para um evento da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), na cidade de Brasília, e fez mais uma entrega de US$ 10 mil. Já no final fevereiro de 2023, o ex-presidente visitou Lourena Cid em sua residência na cidade de Miami, e recebeu mais US$ 20 mil em espécie. Nessa ocasião, o dinheiro foi entregue em mãos a Osmar Crivelatti, assessor que acompanhava Bolsonaro.

Segundo o delator, o restante do valor foi repassado quando o seu pai retornou ao Brasil, em março de 2023, mais uma vez com a intermediação de Crivelatti. Mauro Cid disse que os valores foram repassados em sua totalidade ao ex-presidente” e “que não tem conhecimento de onde o ex-presidente guarda esses valores”.

Ele contou ainda que, após o Tribunal de Contas da União (TCU) exigir a devolução dos presentes oficiais, eles e outros assessores de Bolsonaro “começaram as tratativas para recuperar as joias”. Mauro Cid, no entanto, disse que não participou da discussão de como os objetos seriam recomprados, mas que foi avisado que o advogado Frederick Wassef seria a pessoa responsável por recuperar o relógio Rolex.

Em um dos casos, o próprio Mauro Cid desembolsou a quantia de US$ 35 mil para recuperar parte das joias e depois recebeu o valor de volta, em espécie, de Marcelo Câmara, que também era assessor do ex-presidente. Ele disse que não sabia a origem do dinheiro e que o dinheiro foi apreendido em sua casa pela Polícia Federal (PF) durante uma operação.

Em relação ao kit de ouro rosê, Mauro Cid disse que o ex-presidente também tinha ciência de que os objetos foram encaminhados para serem vendidos em leilão nos Estados Unidos. O negócio, no entanto, não foi concluído e o conjunto foi entregue a Bolsonaro no local em ele estava residindo na cidade de Orlando. O colaborador disse ainda que não sabia informar como o kit havia retornado ao Brasil.

*Com informações do Valor Econômico

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