Análise: Nas redes, Bolsonaro ganha terreno no 7 de Setembro em busca do eleitor de 2018
Presidente busca se projetar como líder de parte do país, independentemente do resultado da eleição
Os atos do feriado de 7 de Setembro continuam tendo efeitos nas redes sociais, o que ajuda a entender o impacto político dos eventos da quarta-feira. A primeira impressão foi de que o presidente falou para sua bolha. É uma visão válida, mas a análise de posts nas redes e grupos mostra que o discurso ecoou para além do núcleo duro do bolsonarismo-raiz. Há mais de uma bolha próxima ao presidente.
Ao enfatizar o patriotismo e os valores tradicionais, defender seu governo e atacar o PT, enquanto amenizava críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao sistema eleitoral, Bolsonaro ampliou o alcance de sua mensagem. Se não para a população em geral, ao menos para quem lhe interessa no momento: os eleitores que votaram nele em 2018 e que, por motivos variados, se afastaram.
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Era inevitável, para quem o acompanha, que o presidente tentasse confundir patriotismo com o apoio a ele, e misturasse um evento de Estado com sua campanha. Mas não era inevitável que isso funcionasse. E funcionou para o seu público-alvo. Grafos com os posts do 7 de Setembro mostram que a demonstração de força nas ruas foi impactante e que o contraste entre o Datapovo e o Datafolha plantou dúvidas sobre a fraqueza de sua candidatura mostrada pelas pesquisas.
É também significativa a diferença entre os perfis relevantes neste 7 de Setembro e no de 2021. Saem Allan dos Santos, do portal Terça Livre, e o ativista bolsonarista Zé Trovão, mas crescem contas ligadas à Jovem Pan e postagens dos próprios Bolsonaros e de figuras religiosas.
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O cerco do STF no inquérito dos atos antidemocráticos acabou forçando uma certa institucionalização da comunicação em alvos menos vulneráveis jurídica e simbolicamente, como a família presidencial, um veículo de imprensa alinhado e, cada vez mais, contas de pastores, como Silas Malafaia.
A partir desses nodos, as mensagens se multiplicam, reproduzidas e retrabalhadas, em um movimento que conta com ajuda de contas automatizadas, mas que é principalmente orgânico. Para além da fantasia dos adversários, há, nas redes e na sociedade, uma parcela relevante que é conscientemente bolsonarista e não desistiu de lutar.
Contudo, um levantamento da Quaest apenas com os posts durante o evento mostra que a bolha bolsonarista é ainda menor que o volume dos opositores. Foram 53% de menções negativas e 45% de positivas. Além de ser um balanço melhor que o das pesquisas, é uma derrota no campo digital em que o presidente está acostumado a vencer. Mas ele nem tentou atrair esses críticos.
A questão principal é se a demonstração de força neste 7 de Setembro terá algum efeito em 2 de outubro. Pelos sinais das redes, pode haver ao menos um freio temporário no recente movimento de enfraquecimento da candidatura presidencial.
Mas talvez a questão principal seja outra: Bolsonaro parece estar se preparando para o pós-eleição, seja para ter uma força extra-congressual em um segundo mandato, hoje improvável, seja para marcar posição como líder de um segmento importante da sociedade, mesmo em caso de derrota.
A apropriação do bicentenário da independência tem precedentes no próprio centenário, quando Epitácio Pessoa mandou cunhar milhões de moedas com o rosto dele sobre o de Dom Pedro, e no sesquicentenário, usado pelo general Emílio Garrastazu Médici como vitrine para o “milagre econômico” da ditadura militar.
Mas o que que Bolsonaro tenta agora ainda não foi conseguido pelos que tentaram, como Jânio Quadros e Carlos Lacerda: manter-se, fora do governo, como líder de um movimento político de massa, sem ter um partido organizado em torno de si e sem grandes recursos próprios. As ruas e as redes são os instrumentos escolhido por ele nessa tarefa.
É importante destacar que Bolsonaro, ao mesmo tempo em que não questionou as urnas, também não fez nenhum gesto de aceitação do resultado. Agora, cabia taticamente questionar só as pesquisas. O 7 de Setembro ainda pode ser argumento, e precedente, em um plano de contingência pós-eleitoral.