Prefeito reeleito de Belo Horizonte, Fuad Noman morre após 83 dias de internação

Fuad Noman, prefeito de Belo Horizonte, faleceu aos 77 anos após 83 dias internado, deixando um legado de serviços públicos e uma trajetória marcante na política e no setor financeiro.

O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Jorge Noman (PSD), morreu hoje (26) aos 77 anos, depois de 83 dias de internação hospitalar.

Na noite de ontem, Fuad teve uma parada cardiorrespiratória e foi reanimado, mas enfrentava uma insuficiência renal grave e respirava por meio de aparelhos.

Fuad Noman deixa a esposa, a pedagoga Mônica Drumond, dois filhos — Paulo Henrique e Gustavo — e quatro netos.

Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte destacou sua “competência, responsabilidade e sensibilidade social”.

“Em 2022, assumiu o cargo de prefeito da capital mineira, e desde então conduziu a cidade com serenidade, firmeza e espírito público. Fuad era conhecido por seu trato gentil, sua capacidade de escuta e seu amor por Belo Horizonte. Um homem público íntegro, cuja história se confunde com o desenvolvimento da nossa cidade”, diz a nota.

Informações sobre o velório e homenagens serão divulgadas em breve.

Quem foi Fuad Noman?

Prefeito mais velho eleito em uma capital brasileira, Fuad Jorge Noman Filho foi picado tardiamente pela “mosca azul” da política.

Aos 77 anos de idade, após 55 anos de atuação em cargos públicos, o belo-horizontino concorreu pela primeira vez a uma eleição encabeçando a chapa.

E após uma disputa acirrada, venceu a corrida para prefeito de Belo Horizonte em 2024, com 53,73% dos votos válidos, ante 46,27% do deputado estadual Bruno Engler (PL).

“Eu nunca fui político. O primeiro cargo que eu concorri foi a vice-prefeito em 2020. O que eu quero mesmo é governar e deixar o meu legado para a cidade onde nasci e me criei”, disse Fuad em uma entrevista ao Valor em 2023.

Histórico de vida

Com ascendência síria, Fuad nasceu em 30 de junho de 1947, em Belo Horizonte. Perdeu a mãe quando tinha 8 anos e foi criado pelo pai, que era garçom.

Aos 13 anos começou a trabalhar no restaurante Taberna Azul, no centro da capital mineira.

Aos 18 anos foi servir o Exército, onde fez carreira militar por 11 anos, até atingir a patente de terceiro-sargento.

Fuad deixou o Exército para trabalhar como funcionário de carreira no Banco Central do Brasil. Foi secretário-executivo-adjunto e secretário de Haveres e Riscos da Secretaria do Tesouro Nacional, no Ministério da Fazenda.

Participou da idealização do Plano Real

No governo Itamar Franco, participou da idealização do projeto do Plano Real e execução das reformas econômica e monetária.

Mais tarde foi secretário-executivo da Casa Civil no governo de Fernando Henrique Cardoso, de 1996 a 1997.

Depois, atuou como consultor do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o governo de Cabo Verde, na África. Foi diretor do Banco do Brasil e presidente da BrasilPrev entre 1996 a 2002.

No governo de Minas Gerais, atuou como secretário de Estado de Fazenda, no governo Aécio Neves, entre 2003 e 2007, tendo sido um dos responsáveis pelo chamado “choque de gestão”, programa de ajuste financeiro para promover o equilíbrio fiscal do Estado.

E foi secretário de Transportes e Obras Públicas, entre 2007 e 2010, durante o governo de Aécio Neves e Antonio Anastasia.

Atuou ainda como secretário extraordinário para Coordenação de Investimentos, acompanhando a implementação de projetos de investimentos do Estado. Como presidente da Gasmig, entre 2011 e 2012, dedicou-se à expansão da companhia no interior do Estado.

Trajetória partidária

Fuad foi filiado ao PSDB de 2003 a 2017. Em 2020 mudou para o PSD.

Na Prefeitura de Belo Horizonte, foi nomeado secretário municipal de Fazenda na primeira gestão de Alexandre Kalil (então do PSD), de 2017 a 2020. Concorreu na chapa de Kalil em 2020 como vice-prefeito.

Em março de 2022, assumiu o cargo de prefeito de Belo Horizonte, aos 74 anos, substituindo Alexandre Kalil, que renunciou ao cargo para concorrer, sem êxito, ao governo de Minas Gerais.

Fuad era conhecido por ter um perfil de gestor técnico, mas com bom trânsito para negociar tanto com a esquerda do governo Lula (PT), quanto com a direita do governador Romeu Zema (Novo).

Quando decidiu se candidatar a prefeito, em 2024, não recebeu apoio de Kalil, que se filiou ao Republicanos e apoiou seu novo correligionário Mauro Tramonte na disputa.

Kalil criticou Fuad por ter mudado a maioria do secretariado escolhido por ele quando se reelegeu. Sem padrinhos em sua candidatura, Fuad concentrou sua campanha na divulgação das obras concluídas na sua gestão.

Anunciou doença durante a pré-candidatura à reeleição

Em julho de 2024, pré-candidato à reeleição como prefeito de Belo Horizonte, Fuad anunciou que estava em tratamento contra o linfoma não Hodgkin — um tipo de câncer linfático — mas que concorreria à eleição. Em exames de rotina, foi detectado um pequeno linfoma abdominal.

Fuad fez uma cirurgia e iniciou a quimioterapia. A decisão de seguir na disputa eleitoral, segundo ele mesmo, se deu após conversas com a família e com Padre Eustáquio, de quem era devoto.

Fez o tratamento e entrou em remissão em outubro. Foi reeleito prefeito de Belo Horizonte com 53,73% dos votos válidos, contra 46,27% de Bruno Engler (PL).

Em suas incursões na literatura, escreveu os romances de ficção “Marcas do passado”, lançado em 2022, “Cobiça”, de 2020, e “O Amargo e o Doce” (2017).

Chegou a ser alvo de acusações durante a campanha para prefeito, por causa do livro “Cobiça”. Em um trecho da obra, a personagem relata um estupro coletivo que sofreu quando era criança.

O trecho foi usado na campanha do rival na campanha Bruno Engler, com insinuação de que Fuad promoveria a pedofilia em seu livro.

Histórico da deterioração de sua saúde nos últimos meses

O prefeito foi internado em 23 de novembro com dores nas pernas, por causa de uma neuropatia periférica, condição considerada consequência do tratamento de câncer.

Ele ficou internado para receber o tratamento e fazer exames até 28 de novembro. Menos de duas semanas depois, voltou a ser internado para tratar um quadro de pneumonia e sinusite.

Ainda em dezembro, foi internado pela terceira vez, com um quadro de diarreia e sangramento intestinal.

Por conta do estado de saúde, Noman não compareceu à cerimônia de diplomação em dezembro, e participou da posse no dia 1 de janeiro de maneira virtual, já apresentando dificuldade para falar.

Por recomendação médica, o prefeito começou o segundo mandato despachando de casa enquanto fazia fisioterapia. No dia 2, sancionou a reforma administrativa da prefeitura.

Na sexta-feira (3), segundo comunicado da Rede Mater Dei de Saúde, ele voltou a ser internado na unidade de terapia intensiva (UTI) com insuficiência respiratória aguda devido a uma pneumonia.

Dois dias depois, Álvaro Damião Vieira da Paz (União Brasil), vice-prefeito de Belo Horizonte, assume interinamente o comando da capital, por conta do afastamento médico do prefeito.

A equipe médica passou a renovar a licença a cada 15 dias durante a internação.

Noman ficou na UTI até 29 de janeiro, período em que passou por uma traqueostomia e precisou de aparelhos para respirar. Depois disso iniciou um processo de recuperação no quarto.

No dia 17 de março, foi transferido para a unidade Mater Dei Santo Agostinho para a realização de exames. A equipe média não detalhou quais exames foram feitos.

Uma semana depois, o coordenador médico Enaldo Melo de Lima informou que após os exames, Noman seguia o programa de reabilitação fisioterapêutica motora e respiratória.

O prefeito foi submetido a um programa de nutrição parenteral (intravenosa) para “otimização do suporte nutricional”.

Na noite de terça-feira (25), o prefeito teve uma parada cardiorrespiratória às 22h, foi reanimado, mas evoluiu com choque cardiogênico (quando o coração não consegue bombear sangue o suficiente e cai o nível de oxigenação do corpo).

Noman passou a ter respiração controlada por aparelhos e quadro de insuficiência renal aguda. Ao todo, foram 83 dias de internação até 26/03.

*Com informações do Valor Econômico

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