Ataque de Roberto Jefferson mina campanha de Bolsonaro e otimismo do mercado, dizem especialistas
Especialistas apontam que evento testa poder de recuperação de Bolsonaro e mina otimismo do Ibovespa
O mercado está corrigindo o rali da semana passada provocado pela diminuição da vantagem de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Pesquisas indicaram que a disputa estaria mais acirrada que do que há semanas atrás, com os dois candidatos empatando no limite margem de erro.
Mas a resistência de Roberto Jefferson (PTB) à prisão, com troca de tiros entre o ex-deputado e aliado de Bolsonaro e policiais federais, põe o otimismo da Bolsa de Valores em xeque. Jefferson resistiu no domingo (23) contra uma ordem de prisão expedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Ele chegou a efetuar 20 disparos e jogou granadas contra os agentes da PF que cumpriam o mandado, ferindo dois com estilhaços.
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Ataque de Jefferson “prejudica” otimismo do mercado
É de se esperar que a semana seja a mais volátil do período eleitoral, por fatores nacionais e internacionais. Uma gestora de investimentos aponta que, após o episódio de Roberto Jefferson, o mercado pondera qual será o impacto e o poder de recuperação da campanha de Bolsonaro. Na avaliação dela, o ocorrido prejudica a tentativa de reeleição do ex-presidente pela violência política.
“Como as ações ja haviam subido bastante, essa queda de hoje de mais de 8% nos parece um sinal de cautela frente ao otimismo da semana anterior”, diz a economista, que não quis se identificar.
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Hoje, o Ibovespa operou em queda de 3,27% (116.013 pontos) até o horário de encerramento do pregão. A ação preferencial (PETR4) da Petrobras caía 7,87%, aos R$ 34,75; e a ordinária (PETR3) recuava 8,21%, para R$ 38,15 – ambas estavam entre os maiores recuos do índice. Os papéis da estatal tombam ainda que o petróleo Brent opere em leve alta.
Para Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, a violência provocada pelo aliado de Bolsonaro está sendo precificada na queda das ações. A leitura é de que o episódio é “algo grave” e que pode decidir o voto dos eleitores mais ao centro, principalmente os que estavam “bastante receosos” com Bolsonaro, diz o economista.
“Mesmo com a tentativa de Bolsonaro de se desvincular de Jefferson, acredito que isso vá abalar bastante o eleitor que estava em dúvida”, comenta Komura. Ele teoriza que pesquisas na véspera da eleição podem refletir o episódio. “É por isso que ações de estatais estão derretendo e ativos de segurança estão em alta agora. É quase que um movimento de reversão em relação à semana passada”, complementa.
Correção do rali de semana passada
Já Francisco Levy, estrategista-chefe da Empiricus, fala que a Bolsa também se reajusta ao fato de que a expectativa de que Meirelles poderia ser nomeado como Ministro da Economia de Lula durante o final de semana, o que não ocorreu. Ele reconhece que o desafio do Bolsonaro para reverter votos é muito difícil, e que o episódio do ex-deputado do PTB “trabalha no sentido contrário” e que “não ajuda”.
“Acho que está acontecendo uma correção do rali da semana passada, dos preços elevados e da perspectiva mais pessimista. Mas não acho que é uma reversão de tendência. O Brasil continua muito descontado, com muitos preços premium no mercado”, diz Levy. Independentemente da reeleição de Bolsonaro ou de um terceiro mandato de Lula, avalia o economista, os preços premium não devem descomprimir.
Bolsonaro é encarado como alguém que conduz a economia de uma forma mais liberal do que Lula, razão pela qual as ações de estatais como a Petrobras saltaram na última semana, com rendimento de 11,87% em PETR4 e de 12,87% de PETR4. O Ibovespa decolou 7%.
Cenário externo e China
Outro fator que corrobora o pessimismo da Bolsa de Valores de hoje é o quadro externo que se complica cada vez mais, indo em direção a uma possível recessão. Em parte, como destaca Ian Lima, da gestor de Renda Fixa da Porto Investimentos, houve uma forte queda nos índices de países emergentes, principalmente a China.
A B3 tem se diferenciado de outras bolsas no mundo pelo bom momentum das pesquisas eleitorais apontando uma corrida ao Planalto mais apertada. Mas, nesta segunda-feira, houve a devolutiva da última semana atípica. “Esta [semana] será bastante carregada de dados tanto aqui quanto lá fora. No Brasil teremos a divulgação do IPCA -15 e decisão Copom na quarta-feira. No exterior, diversos BCs e resultado das techs nos EUA podem impactar no Ibovespa. É esperada uma semana mais volátil”, afirma Ian.