Reservas internacionais do Brasil atingem patamar mais baixo desde abril de 2011

Nível foi registrado após queda de quase US$ 12 bilhões entre 9 de setembro e 10 de outubro. Apesar das perdas, reservas ainda estão em situação confortável, avaliam economistas

Cédulas de libra inglesa, euro e dólar norte-americano. Foto: Pixabay
Cédulas de libra inglesa, euro e dólar norte-americano. Foto: Pixabay

As reservas internacionais do Brasil estão no patamar mais baixo em mais de 11 anos, segundo dados do Banco Central (BC). O colchão de dólares do país entrou, entre o fim de agosto e o início deste mês, na casa dos US$ 326 bilhões, o mesmo registrado em abril de 2011.

Reservas internacionais são valores que um país possui em moeda estrangeira. Funcionam como uma espécie de “seguro” para fazer frente às suas obrigações no exterior e a choques externos, como crises cambiais — caracterizadas pela desvalorização acentuada da moeda local. (Leia mais abaixo)

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Essas reservas são distribuídas entre títulos (tipo de investimento feito a partir da compra de papéis de dívida de uma entidade emissora, que se compromete a devolver o valor com juros), depósitos em moedas, ouro, entre outros formatos.

Por que caiu?

Para o economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, André Galhardo, as perdas recentes podem ter relação com a volatilidade da moeda brasileira e a atuação do Banco Central para controlar a desvalorização do real diante do dólar norte-americano.

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“O governo pode ter utilizado esses recursos para quitar obrigações de curto prazo. O Banco Central também voltou a vender dólar no mercado à vista, o que ajudou a diminuir essa volatilidade do câmbio”, explica Galhardo.

O cenário é diferente quando voltamos mais 30 dias. Entre 8 de julho e 8 de agosto, o país registrou aumento de US$ 3,5 bilhões nas reservas cambiais.

Apesar da alta no meio do ano, as quedas recentes ajudaram a puxar o resultado de 2022 para o negativo. No ano, o montante passou de US$ 361,4 bilhões, em 3 de janeiro, para os atuais US$ 326,2 bilhões, em 10 de outubro, uma perda nominal de US$ 35,1 bilhões – ou 9,7% no período.

Se comparado com o maior nível nominal da história, registrado em 2019, a queda é ainda maior, de US$ 64,2 bilhões. O montante foi reduzido de US$ 390,5 bilhões, no dia 25 de junho daquele ano, para US$ 326,2 bilhões, em 10 de outubro de 2022, um recuo de 16%.

A queda preocupa?

Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, não.

“A perspectiva é de redução [das reservas] pelo menos nos próximos meses. Mas, no meu ponto de vista, nada preocupante, porque o nosso nível de passivo externo líquido é muito positivo”, explica.

Ele também destaca que, como o Brasil tem, atualmente, um nível de reservas muito próximo à dívida externa total, está em um patamar que pode ser considerado confortável.

“A gente tem muito mais recursos no nosso ativo do que no passivo. Então, ele é líquido, ou seja, está sobrando dinheiro para honrar todos os compromissos que o Brasil tem”, diz.

André Galhardo também descarta um cenário preocupante, mas pondera: “diversos estudos mostram que o patamar brasileiro é confortável. Ainda assim, essa diminuição tão rápida nos últimos dias liga um ponto de alerta. Por ter chegado a um nível que não era visto desde 2011, é um ponto de atenção”, afirma.

Cenário global

Alex Agostini explica que o cenário global atual — de aumento nas taxas juros pelas grandes economias — tem gerado impactos diretos sobre as reservas brasileiras.

Isso porque as reservas são formadas a partir da entrada de moeda estrangeira no país. Nesse contexto, a alta taxa de juros de economias como a dos Estados Unidos e de países da Europa se torna um entrave: são muito mais atrativas para os investidores quando comparadas ao Brasil.

O motivo é que são economias consolidadas, com riscos muito menores do que a brasileira, que acaba atraindo menos investidores, mesmo que nosso país tenha a maior taxa de juros real do planeta.

Agostini destaca que há ainda a incerteza diante da política brasileira, em meio às eleições, o que gera cautela por parte do mercado.

Entenda as reservas internacionais

Galhardo resume as reservas como “recursos em moeda estrangeira ou equivalente em títulos financeiros, que o Banco Central guarda para eventuais problemas nas contas externas”.

O gestor desses recursos é o BC. Mas o governo também pode usar as reservas para, por exemplo, abater dívidas externas e para interferir no câmbio.

Alex Agostini explica que essa atuação pode interferir diretamente na inflação do país. “Caso o real tenha muita desvalorização, isso tem impacto nos preços internacionais de commodities. Por sua vez, impacta a inflação. Então, o BC atua justamente dessa forma, para garantir a estabilidade da moeda estrangeira aqui no Brasil.”

Para que servem as reservas internacionais?

O Brasil adota um regime de câmbio flutuante. Isso significa que o valor do dólar flutua livremente sobre o real, de acordo com a oferta e a demanda da moeda pelo mercado. Na prática, quanto mais dólar no país, menos valorizado ele vai estar frente ao real.

As reservas internacionais funcionam, nesse contexto, como um colchão de segurança. Ajudam a atenuar oscilações bruscas do real diante do dólar (com o BC comprando ou vendendo dólares), dando maior previsibilidade e segurança para os agentes do mercado.

Segundo o Banco Central, a “alocação das reservas internacionais (ou seja, onde o dinheiro é investido) é feita de acordo com o tripé segurança, liquidez e rentabilidade, nessa ordem”.

Se um país tem reservas em volume confortável, fica menos sujeito a ataque especulativo e tem menor volatilidade cambial.

“De modo geral, se você tem reservas internacionais, você tem segurança internacional. Os empresários não vão pensar duas vezes antes de fazer um ataque especulativo [retirada volumosa de dinheiro ao mesmo tempo]. Isso esvazia as reservas rapidamente e cria um processo de desvalorização do câmbio”, explica Galhardo.

“Então, além de blindar o país e atenuar essas volatilidades, ter boas reservas estrangeiras também permite que o Banco Central atue no mercado vendendo dólar à vista e quite obrigações internacionais no curto prazo”, finaliza.

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