Resiliência (ou não) à inflação dará o tom dos resultados das empresas no segundo trimestre

Equilíbrio entre repasse de custos e geração de receita deve ser indicador mais observado pelo mercado no balanço das companhias

- Foto montagem: IF/Freepik
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O peso da inflação no bolso das pessoas já vem sendo sentido há bons meses. A partir desta semana, o impacto do aumento de preços nas companhias de capital aberto, listadas e negociadas na bolsa brasileira, a B3, poderá ser observado com a divulgação dos resultados operacionais e financeiros referentes ao segundo trimestre.

“O mercado vai acompanhar a eficiência operacional das empresas, isto é, o quanto do ambiente inflacionário no Brasil e no mundo impactou nos resultados, nas margens”, reforça Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial Investimentos. “Ou seja, quanto a empresa gerou de receita, menos o custo impactado pela inflação, e o quanto conseguiu transformar essa receita em lucro.”

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Ricardo Peretti, estrategista de ações da Santander Corretora, ressalta que um dos aspectos para avaliar se a empresa vai divulgar bons resultados é se ela conseguiu repassar o aumento dos custos para seu produto final, para manter margens estáveis, sem perder participação de mercado. “Houve aumento de custos de todos os lados, não só commodities e alimentos, mas também serviços e produtos manufaturados”, lembra.

Peretti afirma que as estimativas do banco apontam para uma temporada com resultados mistos. “Calculamos um crescimento de ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização] consolidado próximo de 8% e uma queda no lucro líquido próximo de 1%, praticamente estável, na comparação com o mesmo período do ano passado.”

Relatório do Bank of America (BofA) calcula que empresas que compõem o Ibovespa devem registrar uma queda média de 28% no lucro por ação, no segundo trimestre. A receita consolidada média deve ter crescimento de 13%, e o ebitda, de 1%.

Outro aspecto destacado por Villegas para os demonstrativos são as perspectivas e as estimativas das empresas para os próximos trimestres. “Os dados poderão demonstrar se as expectativas de recessão irão evoluir à frente”, afirma. “Dado a movimentação que aconteceu no segundo trimestre, olhando o preço das commodities, há uma possibilidade de último grande resultado das empresas ligadas a esse setor.”

Setores e empresas

Para a equipe do Santander, os shoppings devem estar entre os destaques positivos da temporada. “Destacamos principalmente Multiplan e Iguatemi, que já reportaram prévias operacionais com resultados positivos, como crescimento da receita dos lojistas de 30%, em relação ao período pré-pandemia, em 2019, além do reajuste dos aluguéis próximo de 50%, repassando parte da inflação no período”, explica Peretti.

No mesmo sentido, o Credit Suisse destaca as duas companhias. “O segmento de luxo pode continuar apresentando números de vendas impressionantes, considerando que os custos tornaram as viagens internacionais restritivas”, aponta relatório do banco.

O BofA também destaca a recuperação dos aluguéis em direção ao repasse total da inflação. “Com uma desaceleração marginal das vendas em junho, esta temporada de relatórios pode definir o tom das expectativas para o segundo semestre.”

No varejo, principalmente alimentar, as instituições destacam o segmento de atacarejo. O estrategista do Santander aponta que algumas empresas têm conseguido repassar o aumento dos custos para o preços finais, recompondo suas margens, com destaque para Assaí e Carrefour. “O Assaí deve continuar ganhando participação de mercado no atacarejo, principalmente pelo fluxo do consumidor mais sensível a preços.”

A equipe da Genial aponta que, “frente a um mês de abril muito forte para o atacarejo, esperamos que este modelo continue a entregar maior crescimento do que os tradicionais (hipermercados e supermercados)”

Por outro lado, segundo a Genial, a dinâmica esperada para o varejo de bens de consumo duráveis continua sendo de margens pressionadas, com as empresas buscando monetizar suas estruturas de forma a aliviar os gastos com despesas e promoções no período. “As vendas de produtos de linha branca continuarão a ser um detrator de margens nesse trimestre”, reforçam os analistas da casa.

A Ativa Investimentos avalia que os supermercados devem registrar redução de ticket-médio, mas aponta também a migração do fluxo de negócios para o modelo atacarejo. “À medida que as companhias tentam manter seus volumes de vendas aquecidos, vemos uma maior pressão nas margens brutas quando comparado com o segundo trimestre de 2021”, aponta relatório.

O setor de telecomunicações deve ser outro que poderá apresentar resultados mais positivos, resultantes da consolidação do mercado, com a efetivação da venda da Oi Móvel, e a redução do ICMS para a atividade.

A equipe de analistas do Credit Suisse destaca que a TIM deve ser beneficiada com o processo de consolidação do mercado de telefonia móvel, após a venda da Oi Móvel, e a redução do ICMS. “A redução do ICMS se traduzirá principalmente em mais benefícios nos planos pré-pagos em vez de preços mais baixos, resultando em um aumento considerável na receita líquida e nas margens”, apontam os analistas do banco, em relatório.

“A expectativa é que a base de clientes móveis tanto da TIM quanto da Vivo contemplem os novos números, ainda que eles não sejam contabilizados dentro da receita, mas que mostra o período de transição dos antigos clientes da Oi para suas novas operadoras”, afirma a equipe de análise da Genial.

As empresas do setor de petróleo e gás também devem apresentar bons resultados, uma vez que no segundo trimestre os preços médios alcançados pelo barril do petróleo tipo brent ficaram acima dos US$ 100, como aponta a Genial. O BofA observa que Petrobras, PetroRio e Enauta devem reportar aumento acentuado nos lucros.

Já entre os setores que poderão divulgar números não tão empolgantes está o bancário. Segundo analistas, a elevação da inadimplência e das provisões para crédito devem continuar pressionando os resultados. Nesse sentido, Peretti, aponta o Bradesco como mais sensível a esse cenário. Para a equipe da Genial, o Itaú possui uma “dinâmica melhor de receitas para compensar a elevação do custo de crédito”.

Mineradoras e siderúrgicas devem trazer dados mistos. Segundo o Bank of America, resultados serão pressionados pelos custos no período, reduzindo os lucros principalmente da Vale e CSN Mineração. “Os preços mais baixos do minério de ferro devem afetar os resultados, em conjunto com taxas de frete mais altas e aumento dos combustíveis”, aponta o banco.

Já a Genial ressalta que, por um lado, a oferta mundial foi afetada pela continuidade do conflito entre Rússia e Ucrânia e, por outro, a demanda foi pressionada pelos novos lockdowns na China, a expectativa é de um bom resultado para as empresas mineradoras, aproveitando a sazonalidade com um menor período de chuvas.

Para as siderúrgicas, apesar dos repasses de preços que ocorreram ao longo do trimestre, principalmente de Usiminas e Gerdau, a expectativa ficou mais pessimista com um arrefecimento do setor imobiliário chinês, para a equipe da Genial. Por outro lado, além dos reajustes, o volume de vendas seja “suficiente para propiciar um bom trimestre para as siderúrgicas”.

Um dos setores mais afetados pela pandemia, o de saúde, também deve reportar resultados mistos, segundo o BTG Pactual, com impactos menos severos da covid-19 nas seguradoras e hospitais. “Vemos o segundo trimestre como um período de transição e um primeiro passo para voltar aos resultados normais no setor de saúde, o que só esperamos que aconteça efetivamente no próximo ano”, apontam os analistas, em relatório.

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