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Resultado dos bancos deve registrar leve desaceleração no terceiro trimestre
Empresas citadas na reportagem:
Depois de registrar lucros recordes no segundo trimestre, os resultados dos grandes bancos brasileiros devem mostrar uma leve desaceleração no período de julho a setembro. A dinâmica deve permanecer a mesma dos últimos trimestres, com o crédito perdendo um pouco de força e a inadimplência subindo levemente, assim como os gastos com provisões para devedores duvidosos. Também é possível que as instituições recorram a expedientes que podem afetar o indicador de calotes, como renegociações, vendas de carteiras e baixas contábeis.
De acordo com as projeções de oito casas ouvidas pelo Valor, o lucro conjunto de Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil deve somar R$ 25,845 bilhões no período de julho a setembro. Isso representa queda de 2,9% em relação ao trimestre imediatamente anterior e uma alta de 12,2% na comparação anual.
Na avaliação do J.P. Morgan, os grandes bancos brasileiros devem apresentar uma forte margem financeira com clientes, refletindo mudanças no mix, maiores spreads e volumes de empréstimos. “Notadamente, os números da indústria para agosto continuam a apontar para spreads mais elevados e crescimento sólido de linhas de maior risco, apesar de uma base de comparação mais dura. Por outro lado, acreditamos que a qualidade dos ativos permanecerá sob pressão.”
O Goldman Sachs tem uma visão semelhante e afirma que as tendências operacionais devem ser mistas, mas com um resultado líquido positivo. Entre os aspectos favoráveis, os analistas citam que o crescimento do volume de crédito deve permanecer acima da média histórica, apesar da desaceleração, que o mix deve continuar mudando para linhas de maior risco/retorno e os juros mais elevados tendem a sustentar as margens do passivo e capital de giro. A equipe da XP cita também as receitas com tarifas. “Prevemos que a margem financeira continue expandindo em grande parte devido ao ritmo robusto de concessão de crédito e ao aumento das taxas de juros. As receitas de tarifas devem continuar a se beneficiar da retomada gradual da atividade econômica, com destaque para a recuperação do segmento de adquirência”, aponta a XP.
No entanto, do lado negativo, a inadimplência média deve subir 0,15 ponto na passagem do segundo para o terceiro trimestre. As provisões para devedores duvidosos (PDD) também devem aumentar. Os bancos privados tendem a a apresentar uma fraqueza na margem com mercado. E o reajuste salarial de 8% dos bancários, que começou a valer em setembro, deve pressionar as despesas. Além disso, a desinflação no período pode afetar o resultado financeiro dos braços de seguros, impactando especialmente o Bradesco.
“Esperamos que os executivos dos bancos orientem para um ciclo de crédito relativamente curto, com a inadimplência potencialmente atingindo o pico no quarto trimestre ou no início de 2023. Além disso, as margens financeiras podem ser principalmente suportadas por juros mais altos por mais tempo. Tudo considerado, vemos a margem ajustada ao risco com expansão média de 4% no trimestre”, diz a equipe do Goldman Sachs.
O UBS também espera que a inadimplência atinja um pico entre o fim deste ano e o início do próximo, ficando levemente acima dos níveis pré-pandemia. “A deterioração tem sido mais intensa no segmento de baixa renda, embora o aumento do valor dos programas sociais, iniciado em agosto, possa reduzir o ritmo de deterioração nos próximos meses (acreditamos que a maior parte do impacto deve aparecer a partir do quarto trimestre)”.
O Bradesco BBI aponta que a chave para entender a evolução dos lucros dos bancos em 2023 deve ser a qualidade dos ativos e a expansão dos empréstimos no terceiro trimestre deste ano, juntamente com as mensagens das administrações das instituições. Eles dizem que, além dos indicadores tradicionais de qualidade dos ativos (inadimplência e custo do risco), será interessante olhar para indicadores secundários, como renegociações, vendas de carteiras e baixas contábeis. “De fato, a inadimplência deve continuar a deteriorar-se devido ao aumento dos empréstimos a famílias e PMEs, levando a um custo de risco mais alto, enquanto também esperamos que os bancos relatem volumes significativos de renegociações e/ou venda de carteiras.”
A XP aponta ainda que, quanto à área de mercados de capitais, uma atividade robusta de emissão de dívidas (DCM) deve compensar o menor volume de negócios de fusões e aquisições e renda variável (ECM) no trimestre, mas a retração nos volumes negociados deve pressionar marginalmente essa linha de receita. “Dito isto, menor resultado de sales & trading deve ser o destaque negativo deste trimestre”.
O pior resultado do trimestre deve ser o do Santander, com queda anual de 15,0% no lucro. Isso se deve a uma combinação de aumento nas PDDs, perdas substanciais no resultado de tesouraria e a ausência de ganhos extraordinários registrados em períodos anteriores. O UBS estima que a margem com mercado deve ficar negativa em R$ 1 bilhão no trimestre, ante uma média histórica positiva de R$ 1,7 bilhão. “O Santander está atrás de seus principais pares em termos de crescimento do crédito, o que deve continuar no terceiro trimestre”, diz o banco suíço.
Na outra ponta, o Banco do Brasil deve ter o melhor resultado, com expansão anual de 42,3%. O Goldman Sachs diz ver o BB com tendências de qualidade de ativos majoritariamente saudáveis (baixa inadimplência no crédito agrícola e empresarial) e provisões (custo do risco de 2,3%). Enquanto isso, a margem financeira deve crescer 14% na comparação anual, superando a expansão da carteira. “Esperamos que o banco se beneficie não apenas da mudança em curso no mix de empréstimos, mas de juros mais altos que suportam sua gestão de ativos e passivos.”
O Itaú também deve ter bons resultados, com crescimento anual de 19,6% no lucro. O Bradesco BBI diz que o banco deve continuar se beneficiando do forte crescimento da margem com clientes, que a inadimplência geral deve ser beneficiada pelos baixos níveis de calotes em grandes empresas e que o resultado do grupo na América Latina pode melhorar um pouco. “A carteira de crédito deve continuar com bom desempenho, no topo da faixa do guidance (15,5% a 17,5%), sustentada pela boa dinâmica do varejo apesar da menor originação no segmento de baixa renda”, aponta ainda o Bank of America.
Por fim, o Bradesco deve ter uma leve queda anual de 0,5% no lucro. O Itaú BBA diz que pressões sobre a inadimplência e a margem financeira do banco devem afetar os resultados. “Não apenas a inadimplência de varejo ainda está em alta, mas também há contaminação da carteira de PMEs. Resultados financeiros na divisão de seguros provavelmente serão afetados negativamente por uma inflação mais baixa e índices de sinistralidade elevados.”
Por Álvaro Campos
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