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Por que a taxa Selic vai voltar a subir? Veja os argumentos de ASA, Legacy e ABC Brasil
Em meio a um discurso mais conservador por parte dos diretores do Banco Central, em uma tentativa de retomar a credibilidade na gestão da política monetária, os economistas do ASA passaram a projetar um ciclo de elevação da taxa básica de juros à frente, que termine com a Selic em 12% no início do próximo ano.
A casa, que tem o ex-diretor do BC Fabio Kanczuk como diretor de investimentos, espera uma elevação de 0,25 ponto no juro básico em setembro, seguida de duas altas de 0,5 ponto em novembro e em dezembro, e um fim de ciclo com mais um aumento de 0,25 ponto em janeiro de 2025.
“Apostamos em um miniciclo de elevação de juros, suficiente para ajudar a conter parte da piora das expectativas, mas insuficiente para reancorá-la na meta de 3%.”
O movimento, na visão dos economistas do ASA, “deve ocorrer a despeito de uma redução [dos juros] nos Estados Unidos, de três cortes de 0,25 p.p. neste ano, que deve ajudar a criar um ambiente mais positivo domesticamente”.
Não por acaso, a gestora reduziu sua projeção para a taxa de câmbio no fim deste ano de R$ 5,50 para R$ 5,35 por dólar, enquanto a expectativa para a cotação da moeda americana no fim de 2025 passou de R$ 5,60 para R$ 5,45.
Após levar a Selic a 12% até o começo do próximo ano, os economistas do ASA acreditam que um novo ciclo de flexibilização pode ocorrer na segunda metade de 2025, diante da expectativa de menor pressão externa com o ciclo de cortes de juros nos EUA. Assim, a gestora projeta a Selic em 10% no fim do próximo ano.
Vale notar, porém, que o ASA manteve as projeções de inflação inalteradas em 4,4% no fim deste ano e em 4,2% no fim de 2025, além de esperar um IPCA de 3,8% nos anos subsequentes, acima, portanto, do centro da meta de inflação (3%).
“Trabalhamos com juro neutro mais elevado, com o BC mais leniente com a inflação pouco acima da meta e juro ‘terminal’ ligeiramente menor do que projetávamos (efeito do esforço de ganho de credibilidade perante o tamanho do ciclo de alta esperado a partir de setembro)”, dizem os economistas.
Retomada do aperto monetário
Os sinais de que a atividade econômica se mantém resiliente, em meio ao cenário de inflação crescente e expectativas desancoradas já pediam que o Banco Central começasse a preparar o terreno para uma alta de juros. Isso foi feito na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC e as comunicações de membros da autoridade apenas reforçaram a perspectiva de que o aperto monetário deve ser retomado já na próxima reunião de setembro.
Assim, a Legacy Capital passou a esperar três elevações de juros de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões do BC, o que deve levar a Selic a 12% no fim do ano.
“Embora nossa projeção de PIB seja de 2,5%, há um claro risco que ele venha a ser mais próximo de 3%. As expectativas de inflação estão perto de 4% em 2025, mais próximas do teto do que do centro da meta. Um dos argumentos que existiam para justificar a estratégia de Selic parada era o da inflação corrente, mas ela também vem subindo recentemente e a média dos núcleos já está mais próxima de 4%. Com essa postura fiscal do governo, de crescimento real de despesas elevado, com a atividade econômica forte e uma inflação escapando, precisamos trabalhar com juros mais altos”, afirma, em entrevista ao Valor, o economista-chefe da Legacy, Pedro Jobim.
Segundo ele, boa parte das incertezas que pairavam em torno da condução da política monetária foram dissipadas nos últimos dias, com os membros do Copom demonstrando, de modo coeso, que estão dispostos a retomar o aperto monetário.
“Do ponto de vista da política monetária, a pior coisa que a autoridade pode fazer é sinalizar uma alta de juros e acabar não cumprindo. E é melhor que isso seja feito com um ritmo mais intenso no início. Se fosse começar por uma alta de 0,25 ponto, seria necessário acelerar o ritmo depois. Na nossa visão, três altas de 0,5 ponto podem melhorar as projeções, as expectativas de inflação e limitar o processo de depreciação do câmbio”, afirma.
Neste sentido, ainda que o dólar arrefeça até a próxima reunião e ajude a trazer a projeção do Copom para mais perto dos 3% no horizonte relevante de política monetária, é recomendável que o BC entregue a alta da Selic.
“Você já vê alguma contaminação na inflação, da parte de bens industriais, pela taxa de câmbio. Existe uma percepção de que o mercado de trabalho está forte, bem como o ciclo de crédito. O juro está fora de lugar e não é só por causa do câmbio. Não é um câmbio de R$ 5,40 ou R$ 5,35 que muda esse cenário. Dada a desancoragem das expectativas e a piora na inflação corrente, é preciso subir os juros”, diz Jobim.
Na avaliação da Legacy, é provável que o Copom vote pela alta de juros de forma unânime. “Acho que ficou claro que todos estão juntos nessa. Se houver um voto contra, não haveria problema. O problema seria um novo 5 a 4, existir um “Fla-Flu” dentro do colegiado. Aquilo deu a sensação de que não haveria uma continuidade da política monetária depois de dezembro. O BC conseguiu dar essa sensação de continuidade, o que é muito bom”, afirma.
Ajuste para cima da Selic
Já p banco ABC Brasil elevou sua estimativa para a Selic ao fim de 2024, com a previsão, agora, de três altas de 0,25 ponto percentual nas últimas três reuniões do ano, levando a taxa para 11,25%.
O ABC elevou sua projeção de PIB do Brasil neste ano, que no início do segundo trimestre estava em 2,2%, para 2,6%.
A avaliação é que o hiato do produto (medida para a ociosidade da economia) ficou positivo no segundo trimestre e seguirá assim no terceiro, em torno de 3%, em média, no período. O hiato positivo indica que a economia opera acima do seu potencial e, portanto, há pressão inflacionária.
A estimativa contrasta com a “neutralidade” projetada pelo Banco Central, conforme divulgado no último Relatório de Inflação (RI), de junho.
“O PIB projetado pela autoridade (+2,3% em 2024) tende a ser revisado para maior”, escreve o economista-chefe do ABC, Daniel Xavier, em relatório.
Isso, a desancoragem das expectativas inflacionárias no horizonte relevante (primeiro trimestre de 2026) e os discursos “claramente hawkish”, isto é, mais inclinados ao aperto monetário, de membros do Comitê de Política Econômica (Copom) nesta semana levaram o ABC a ajustar para cima sua previsão de Selic em 2024.
“O ganho de credibilidade da nova gestão no BC abrirá espaço, por outro lado, para a retomada do ciclo de afrouxamento a partir do segundo trimestre de 2025”, afirma Xavier, projetando 9,75% para a Selic ao fim de 2025.
Com informações do Valor Econômico
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