Manter a credibilidade no combate à inflação: as respostas na ata do Copom para a queda menor da taxa Selic

Integrantes do colegiado discutiram o eventual custo reputacional de não seguir a sinalização dada anteriormente

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Por que o Copom cortou a taxa Selic em 0,25 e não em 0,50 ponto percentual? A ata da reunião de 7 e 8 de maio mostra que prevaleceu a visão de que o colegiado precisava manter a credibilidade no combate à inflação, ainda que colocasse a reputação em xeque por não seguir a sinalização dada no encontro anterior.

Conforme o documento divulgado nesta terça-feira (14) pelo Banco Central, após a análise de conjuntura, a maioria do comitê avaliou que o cenário esperado para manter o ritmo de queda dos juros não se confirmou. Por isso, a decisão dividida em baixar a Selic para 10,50% ao ano.

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Isso se deu em função da desancoragem adicional das expectativas, da elevação das projeções de inflação, do cenário internacional mais adverso e da atividade econômica mais dinâmica do que o esperado.

“Para tais membros, o forward guidance indicado na reunião anterior sempre foi condicional e houve alteração no cenário em relação ao que se esperava.”

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“Tais membros ressaltaram que muito mais importante do que o eventual custo reputacional de não seguir um guidance, mesmo que condicional, é o risco de perda de credibilidade sobre o compromisso com o combate à inflação e com a ancoragem das expectativas.”

“À luz do que foi analisado, tais membros consideraram que uma redução de 0,25 ponto percentual era mais apropriada para o atingimento da inflação na meta no horizonte relevante.”

Custo reputacional

Enquanto isso, continua a ata do Copom, os membros do Comitê que votaram pela redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic também compartilharam da percepção de aumento das incertezas internas e externas entre as reuniões de março e maio.

“Compartilham ainda do firme compromisso com o objetivo fundamental de atingimento da meta e de reancoragem das expectativas”, frisa o documento.

Então, o debate proposto por tais membros foi sobre “o custo de oportunidade de não seguir o guidance vis-à-vis a mudança de cenário no período”.

“Como em debates ocorridos em outras reuniões, tais membros discutiram se o cenário prospectivo divergiu significativamente do que era esperado a ponto de valer o custo reputacional de não seguir o guidance, o que poderia levar a uma redução do poder das comunicações formais do comitê.”

Assim, para tais membros, julgou-se apropriado, tal como em reuniões anteriores, seguir o guidance, mas reafirmando o firme compromisso com a meta e com a requerida taxa de juros terminal “para que o objetivo precípuo do comitê de convergência da inflação para a meta seja alcançado”.

“Ressaltaram que a extração da tendência subjacente da dinâmica inflacionária em um ambiente incerto é difícil, mas não deveria, de forma alguma, ser confundida com leniência com relação aos indicadores divulgados no período, em particular as expectativas de inflação.”

“Robustecendo a análise, notaram que as projeções de inflação eram mais afetadas pela determinação da taxa de juros terminal e que a redução de 0,50 ponto percentual ainda manteria a política monetária suficientemente contracionista.”

“Por fim, tal grupo enfatizou a necessidade de flexibilidade das decisões nas reuniões a partir de junho, o que permitiria, à luz de novo conjunto de informação, calibrar a trajetória do instrumento de política monetária da forma apropriada.”

Selic terminal indefinida

Após a divisão da magnitude do corte da Selic, a ata do Copom indica que houve um consenso em relação aos próximos passos da política monetária.

Em suma, o comitê deixou de indicar o que pretende fazer na reunião marcada para junho.

“Todos os membros concordaram que a adoção de uma política monetária mais contracionista, mais cautelosa e sem indicações futuras sobre os próximos movimentos mostrava-se mais apropriada diante do cenário global incerto e do cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas.”

“Ademais, ressaltaram que a política monetária deve se manter contracionista e a taxa de juros terminal será aquela que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas de inflação em torno das metas.”

“Finalmente, todos corroboraram o entendimento de que a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.”

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