Como a ata do Copom de março mexe com o ciclo de cortes da taxa Selic?
Veja os comentários de Bradesco, Itaú Unibanco, Inter, C6 e XP
Discurso duro, cautela adicional, dependência de dados e chance de interrupção do ciclo de cortes da taxa Selic. Essas são algumas das principais impressões do mercado financeiro sobre a ata do Copom, divulgada mais cedo pelo Banco Central.
O documento traz o conjunto de fatores e riscos que embasou o colegiado na decisão de derrubar os juros de 11,75% para 10,25%. O texto da reunião de março ainda detalha o motivo de o comitê mudar a comunicação sobre os próximos passos.
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Então, confira a seguir os comentários de Bradesco, Itaú Unibanco, Inter, C6 e XP.
Ponto de atenção
De maneira geral, avalia o Bradesco, o tom da ata reforçou uma elevação no nível de incerteza, ainda que, por ora, o cenário base do Copom não tenha se alterado.
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No ambiente externo, anota o banco, foi destacado o aumento de incertezas a respeito do processo de flexibilização monetária e convergência da inflação para a meta nas principais economias.
Já no ambiente doméstico, observa a instituição, o Copom enfatizou que, apesar da percepção de uma moderação da atividade econômica na margem, o dinamismo observado no mercado de trabalho segue como um fator de monitoramento.
“Sobretudo por conta do crescimento real dos salários”, destaca o Bradesco. “Essa dinâmica sustenta riscos altistas sobre a inflação prospectiva”, acrescenta o banco.
Adicionalmente, a instituição menciona que o Copom destacou ainda evolução mais pressionada da inflação no curto-prazo, além da desancoragem das expectativas, que têm consistentemente se situado acima do centro da meta.
A respeito da estratégia de comunicação, o Bradesco reporta que o BC busca aumentar a flexibilidade da condução futura da política monetária, uma vez que os riscos em torno do cenário base se elevaram.
“Com base no tom da ata, que reforçou a cautela diante de um ambiente de incertezas, mas sem alterar a trajetória esperada de política monetária, mantemos nossa expectativa de que a taxa Selic atingirá 9,25% até o final do ano”, aponta o banco.
Dependência dos dados
Para o Itaú Unibanco, o destaque foi que a ata do Copom trouxe uma discussão mais detalhada sobre o motivo pelo qual a sinalização futura foi encurtada.
“O comitê enfatizou uma análise custo/benefício dessa decisão, em que a vantagem da menor volatilidade foi recentemente superada pelo custo da inflexibilidade em um ambiente mais incerto, tanto no que diz respeito às perspectivas de atividade como de inflação”, escreve o banco.
Contudo, o Itaú registrou que as autoridades também reforçaram que o ajuste na sinalização futura não deve ser confundido com uma indicação de alteração na dimensão do ciclo de flexibilização.
“Mas, posteriormente, em um trecho crucial, o Copom ressaltou que novas divulgações de dados serão fundamentais para definir tanto o ritmo quanto, principalmente, a taxa terminal”, frisa o banco.
“Mantemos nossa visão de uma taxa terminal de 9,25% a.a., embora também de forma dependente dos dados”, indica o Itaú.
Interrupção do ciclo
Dada a mudança na comunicação após a última decisão do Copom, com a retirada do guidance para as próximas reuniões depois da de maio, o Inter reconhece que havia grande expectativa sobre o teor da ata.
“Mas fica claro que o Copom apenas se aproveitou de um momento oportuno para obter maior flexibilidade para a condução da política monetária em um momento em que a incerteza acerca do processo desinflacionário aumenta, tanto no âmbito doméstico quanto no âmbito internacional”, considera o banco.
Nesse sentido, descreve o Inter, uma inflação e atividade ainda resilientes nos Estados Unidos aumentam a incerteza sobre os cortes na taxa de juros antecipados para este ano, o que transborda para a condução da política monetária doméstica.
Além disso, continua o banco, observa-se no cenário brasileiro surpresas negativas na inflação de serviços, o que tende a aumentar a incerteza sobre a continuidade do nosso processo desinflacionário.
“Foi nesse contexto, portanto, que o Copom decidiu retirar esse guidance, julgando que o mesmo cumpriu seu objetivo em ancorar as expectativas e aumentar a potência da política monetária”, reforça o Inter.
“Sendo assim, mantemos a projeção de cortes na Selic para 8,50%, considerando a convergência (da inflação) para mais próximo do centro da meta em 2025 em 3,5%, mas reconhecendo que os riscos no cenário externo e o andamento da política fiscal no cenário doméstico podem significar uma interrupção prematura do fim do ciclo.”
Discurso duro
Na visão do C6, a ata do Copom da reunião de março traz um “discurso duro” em relação a perspectiva de desinflação à frente, ainda que a avaliação no momento é de que o cenário base segue basicamente inalterado.
“Essa mudança abre espaço para uma possível redução no ritmo de cortes à frente, mesmo que a taxa terminal se mantenha inalterada”, aponta o banco.
Em outro trecho relevante, cita o C6, “alguns membros” defenderam um corte de juros de 25 pontos-base na reunião de junho, caso a incerteza prospectiva permaneça elevada.
“O termo ‘alguns’ é importante, pois denota uma parte minoritária do comitê. Na nossa visão, isso deixa implícito que o restante dos membros, que é a maioria, segue acreditando que o cenário de dois cortes de 50 pontos-base nas próximas duas reuniões é o mais provável”, escreve o banco.
“Projetamos Selic em 9,25% ao final de 2024 e em 8,5% ao final de 2025”, completa o C6.
Cautela adicional
A XP observa que, na ata, o Copom enfatizou o aumento das incertezas na conjuntura econômica internacional e doméstica.
Lá fora, a principal mensagem consiste na preocupação do comitê com a convergência da inflação dos Estados Unidos à meta. Enquanto que no cenário doméstico a dinâmica da atividade tem papel protagonista.
“A autoridade monetária está mais preocupada com os possíveis efeitos do mercado de trabalho apertado – particularmente a expansão da renda real – sobre a dinâmica da inflação de serviços”, vê a casa.
“Em suma, a ata do Copom reforçou o viés de alta para nossa projeção de taxa Selic a 9,00% até o final de 2024. Além disso, o cenário de desaceleração no ritmo de corte da taxa básica de juros a partir de junho (para 0,25 p.p.) ganhou probabilidade no período recente”, finaliza a XP.