Por que o Bradesco aposta em primeiro corte da Selic já em 2025?
O Bradesco alterou sua projeção para a taxa de câmbio de R$ 6,00 para R$ 5,90 por dólar no fim deste ano e do próximo ano e estima que o Banco Central ainda eleve a taxa Selic em ao menos 2 pontos percentuais, levando a 15,25%, antes de encerrar o ciclo de aperto monetário.
Então, o primeiro corte da taxa deve vir na última reunião do ano, quando a Selic iria para 14,75%, segundo relatório divulgado na semana passada pela equipe econômica do banco, liderada pelo economista-chefe Fernando Honorato Barbosa.
A atualização do cenário macroeconômico do banco se baseia em três hipóteses, segundo o texto: “(i) apesar da elevada incerteza global, os impactos para emergentes podem ser neutros em relação aos níveis atuais de preços dos ativos; (ii) o governo não abandonará o arcabouço fiscal, possivelmente atingindo o limite inferior da meta neste e no próximo ano, mas condizente com algum prêmio de risco nos preços de ativos; e (iii) a política monetária produzirá desaceleração da atividade, permitindo a redução da inflação ao longo do tempo”.
No que tange às medidas do presidente americano, Donald Trump, ainda que o banco aponte ser difícil quantificar os efeitos sobre o Brasil, por enquanto o impacto nos ativos, em especial no câmbio, tem sido limitado. “Por um lado, a incerteza poderia gerar um ambiente de maior aversão ao risco. Por outro, há expectativa de que a economia americana possa se enfraquecer, o que diminuiria a força da moeda americana”, dizem os economistas.
No caso do ambiente doméstico, o Bradesco lembra de medidas recentes anunciadas pelo governo para tentar dar dinamismo à economia, como a liberação do FGTS e a isenção do Imposto de Renda (IR) para salários de até R$ 5 mil. “Sem infringir a legislação atual, o estímulo total dessas e de outras medidas não deveria ser capaz de se contrapor ao efeito restritivo da política monetária. Nossa expectativa é de que o governo enquadrará o resultado primário dentro da banda de tolerância. Contudo, isso não é suficiente para conter o avanço da relação dívida/PIB nos próximos anos, o que tende a manter a volatilidade dos preços de ativos”, afirmam os economistas do Bradesco.
Espaço para corte da Selic
Nesse contexto, a taxa de câmbio deverá ficar bastante volátil, ainda que ao redor dos patamares atuais. “Os fundamentos externos e o valor histórico da taxa de câmbio real sugerem patamares mais apreciados que o atual, mas as incertezas impedem grande convicção nessa aposta”, afirmam. “Variações da ordem de grandeza de 5% (cerca de R$ 0,30) ao redor da projeção central podem ser comuns e não deveriam mudar significativamente a direção das estimativas das demais variáveis. Sendo assim, neste momento, uma projeção central ao redor de R$ 5,90 por dólar equilibra melhor essa faixa de volatilidade que devemos observar nos próximos trimestres.”
No caso da Selic, a leitura do banco é de que a inflação deve se manter acima da meta nos próximos meses, mas perder força à medida que a atividade desacelerar. Assim, o Banco Central manteria o plano de elevar a Selic em 1 ponto percentual na próxima reunião e subiria os juros em mais duas rodadas de 0,5 ponto percentual, atingindo o pico de 15,25%.
“Neste momento, ficará mais evidente o impacto do aperto monetário sobre a atividade econômica. A taxa de juros ficará em campo restritivo por um extenso período, contribuindo para a convergência da inflação para o intervalo das metas”, afirmam os economistas do banco. “Nossa expectativa é de que o BC comece a aliviar a restrição monetária apenas na última reunião de 2025. A Selic deve encerrar o ano em 14,75% e em 2026 caminhará para 12,25%.”
Com informações do Valor Econômico
Leia a seguir