Corte de juros vai depender de nova âncora fiscal, avaliam economistas

Copom decidiu manter mais uma vez a taxa Selic em 13,75% ao ano

Sede do BC: uma de suas funções é ser o “banco dos bancos" - Foto: Raphael Ribeiro/BCB
Sede do BC: uma de suas funções é ser o “banco dos bancos" - Foto: Raphael Ribeiro/BCB

Ter uma nova âncora fiscal crível será essencial para definir início da flexibilização da política monetária, afirma a economista da XP, Tatiana Nogueira. “Ambos os candidatos já declararam que vão reformar o teto de gastos e achamos que essa nova âncora fiscal, que tem de ser crível, vai ser condição essencial para que as expectativas convirjam para a meta e abra espaço para os corte [na taxa básica Selic] no ano que vem.”

Segundo a economista, o cenário base da casa é de uma sinalização de responsabilidade fiscal, independentemente do resultado da eleição. A XP projeta uma Selic de 10% no fim de 2023, com início do ciclo de queda dos juros em junho. Essa estimativa leva em conta a implementação dessa nova âncora fiscal, de acordo com Nogueira.

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“Temos gastos contratados [para 2023], especialmente os ligados a programas de transferência de renda que não são comportados na regra atual do teto de gastos. O BC parece até sinalizar que uma mudança poderia ser feita, mas teria de ser por uma nova âncora que mantenha crível a trajetória de queda do endividamento e do rumo de consolidação fiscal.”

Conforme a especialista, o juro real está em um patamar contracionista e “a sinalização do BC é ‘vou deixar o juro tão elevado nesse patamar pelo tempo necessário para a convergência da inflação para a meta, mas em um cenário fiscal sem uma âncora crível fica difícil”.

Em termos de inflação, a XP projeta um IPCA de 5,6%, “mas com risco de alta nessa projeção”. Segundo Nogueira, se houver ajustes de tarifa da energia elétrica até o fim do ano o índice pode subir para a faixa entre 5,7% e 5,8%.

Para 2023, a casa projeta IPCA de 5,2%, mas também essa estimativa embute um condicionante importante. De acordo com a economista, a taxa reflete um cenário no qual ocorra uma reoneração dos tributos sobre combustíveis. O impacto esperado dessa recomposição de taxação seria de 0,5 ponto percentual a mais na inflação. “Se não tiver essa reoneração a inflação ficaria mais perto de 4,7%.”

Selic parada

A política fiscal do próximo governo será fundamental para definir rumo e momento de início de um ciclo de redução de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, avalia o economista-chefe da Safári Capital, Elsom Yassuda. “Estamos às vésperas de descobrir o que vai ser essa política. Então, esse era um Copom em que fazia todo o sentido manter a mesma avaliação e listar os mesmos fatores de risco. Faz sentido esperar [a definição das eleições e a sinalização sobre agenda econômica e fiscal do futuro governo].”

De acordo com Yassuda, “não tem nada nos dados ou no cenário que seja suficiente para [o BC] mudar o que estão sinalizado”. Na visão do economista da Safári, “por enquanto a Selic parada por algum tempo”.

De acordo com Yassuda, o que parece ser relevante para o BC “parece ser uma reancoragem do fiscal e essa é uma história para o pós-eleição”. Na visão do economista, “é isso que vai definir o ‘timing’ e rumo de queda [dos juros]”.

Além da sinalização de equilíbrio fiscal, a autoridade também precisa enxergar uma trajetória consolidada de queda da inflação. Segundo o economista, “a trajetória de queda de inflação, especialmente dos preços de serviços, tem de vir gradativamente para baixo”.

Conforme Yassuda, “essa é uma história que vai ficando mais madura ao longo do primeiro semestre do ano que vem”. Para o especialista, “se tivermos notícias muito positivas no fiscal talvez o BC possa antecipar o processo [de queda dos juros]”.

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