Mansueto Almeida, do BTG Pactual: ‘Vão ser 2 anos de Selic alta e isso é bom para a renda fixa’

O economista-chefe do banco avalia que só a partir do segundo semestre de 2023 é que os juros devem voltar a ser cortados

O ex-secretário do Tesouro Nacional Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual. Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O ex-secretário do Tesouro Nacional Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual. Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A chance de a inflação no ano que vem ficar acima do intervalo de confiança da meta é de 100%, segundo Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual. Mesmo com as desonerações fiscais costuradas entre governo federal e os entes estaduais, o banco projeta que o IPCA encerre o ano entre 7,5% e 8%.

No painel “A Hora e a vez da renda fixa”, do evento BTG Talks da instituição, o especialista disse que o ciclo de aumento de juros pelo Banco Central (BC) está próximo do fim e haverá, provavelmente, mais uma alta da Selic, com a taxa ficando em 13,75% ao ano por um bom tempo. Se tudo correr bem no pós-eleição, só a partir do segundo semestre de 2023 é que os juros de curto prazo da economia voltariam a ser cortados, chegando à casa dos 11% em dezembro.

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“Vão ser dois anos de taxas muito altas no Brasil e isso é bom para a renda fixa”, comentou. Pelo seu cenário, só em 2024 é que o país começará a conviver com inflação mais baixa, com o IPCA caminhando para os 5,5%. “Mas para isso é preciso que o governo ganhe a confiança do mercado e mostre qual vai ser a nova âncora fiscal ao longo dos próximos anos, qual a política econômica para colocar a dívida pública numa sequência de queda, ano a ano. Hoje, não dá para responder a partir de qual momento os preços vão cair de forma consistente.”

Enquanto os juros de curto prazo, definidos pelo Banco Central (BC), norteiam os custos que o Tesouro Nacional paga para financiar a dívida pública, as taxas longas, que são o preço dado pelo mercado para as empresas levantarem recursos pelos próximos cinco, dez ou 20 anos, seguem elevadas, disse. Esse é o preço da incerteza, porque não se sabe qual a estratégia de ajuste fiscal do governo brasileiro no próximo ano, seja lá quem vai ocupar o cargo após a eleição de outubro. “As coisas caminham juntas. Se aumentar o risco fiscal, se não ficar claro que há responsabilidade, aumenta o prêmio de risco e leva a juros de longo prazo maiores, à desvalorização do câmbio, é um cenário desafiador com impacto no curto prazo.”

O ano de 2023 deve ser de juros altos e baixo crescimento e a sua previsão é que o PIB tenha expansão zero. “É assim que a política econômica funciona, é um momento de dor para acalmar a economia.”

Para Stefanie Birman, sócia e estrategista do BTG Pactual, ainda não é hora para assumir posições em títulos prefixados. Embora o BC deva encerrar o atual ciclo de aperto no mês que vem, o cenário para inflação segue adverso A especialista disse esperar um IPCA de 6,7% em 2023, longe ainda da projeção de 4% do BC e dos 5% da mediana do consenso dos analistas. “Se estiver certa, há o risco de o BC voltar a subir os juros no fim do ano. A queda da inflação no curto prazo vai permitir que o BC encerre este ciclo, mas é preciso ter cautela, vai ter volatilidade com a eleição, com o cenário externo e com o câmbio.”

Para a pessoa física, Mansueto disse que se o investidor puder carregar um ativo IPCA+ por cinco anos, com juro real na casa dos 6%, é uma alternativa muito interessante, e que há debêntures pagando taxas de até 7%. Com as taxas do Tesouro IPCA mais ou menos no mesmo patamar ao longo dos vencimentos, ele afirmou preferir papéis com vencimento em cinco, dez anos, evitando os ativos de longuíssimo prazo. “Mesmo com a NTN-B pagando juro real alto, se a inflação dispara, o Imposto de Renda come parte grande porque incide sobre o rendimento nominal.”

O economista comentou que enquanto o cenário segue nebuloso, vale colocar o dinheiro em títulos isentos que ganhem liquidez diária depois de 90 dias, dá tempo de monitorar a evolução dos riscos e fazer apostas com mais convicção.

Birman destacou que, embora possa haver ativos de risco baratos, se o ambiente global caminhar para uma recessão e mais aperto das condições financeiras, o momento ainda não é para deixar o conservadorismo de lado.

Olhando para o longo prazo, juros a 13% não parecem fazer muito sentido para o Brasil, disse Marcelo Flora, sócio do BTG Pactual, que abriu o evento hoje. “A inflação tem sido alta no mundo todo, não é só um fenômeno local, mas pode ser até que o Brasil tenha melhores condições para lidar com a situação porque tem o histórico de lidar com a inflação, a economia brasileira se ajusta, tem mecanismos automáticos e uma relativa indexação.”

Com as eleições no meio do caminho, ele disse ser natural que a renda fixa ganhe espaço no portfólio do investidor, com grande migração de recursos de fundos de ações e multimercados para a categoria, com os indivíduos aproveitando CDB, LCI e LCA, títulos emitidos por bancos com garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). “Não tem como dizer que um ativo com garantia do FGC que paga 13%, 14% ao ano é ruim. Acredito que a gente vai continuar vendo fluxo para a renda fixa”, comentou Flora.

Na bolsa, o executivo disse que já começam a aparecer boas oportunidades, mas o dilema é que sempre pode ficar melhor. “Acredito que esteja muito próximo, senão no melhor momento, para alocar. Não tem resposta fácil.” Nos EUA, com o S&P500 na casa dos 3.800 pontos, a seu ver parece barato, mas em função das incertezas em relação ao tamanho do ajuste monetário do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) há quem estime que possa ainda cair para os 3 mil pontos.

Mansueto disse esperar que as taxas de juros americanas sejam ainda mais altas do que o mercado embute nos preços hoje, mais para 4% do que os 3,5% que o Fed sinaliza para baixar a inflação para a meta. “Talvez seja mais fácil levar a inflação de 9% para 4% do que de 4% para 2%”, afirmou. “Não será um esforço de um ano ou dois, seja nos Estados Unidos, na Europa ou no Brasil.”

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