Selic chegou ao limite? Saiba como o mercado avalia a ata do Copom
Autoridade monetária indica que a taxa de juros deve permanecer em 13,75% ao ano por período mais longo
O aumento mais recente de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros, que está em 13,75%, foi, provavelmente, o último do ciclo de aperto, na avaliação dos economistas do Itaú Unibanco, que projetam que, em setembro, a Selic será mantida inalterada. Para eles, a ata do Copom (Comitê de Política Monetário do Banco Central) indica esse cenário ao mencionar que as projeções de inflação para o início de 2024, o horizonte que o colegiado optou por enfatizar, estão ao redor da meta.
“Além disso, as autoridades mencionam que os efeitos defasados da política monetária devem se intensificar no segundo semestre, mas destacam que estímulos fiscais de curto prazo podem confundir a interpretação dos efeitos cumulativos da política monetária. A nosso ver, isso contribui para a decisão de manter a taxa de juros estável à frente”, afirmam os economistas do Itaú em relatório enviado a clientes.
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Eles, porém, observam que o Copom também indicou que permanecerá vigilante e avaliará se a perspectiva de juros elevados por um período longo irá garantir a convergência da inflação para a meta. “Isso deixa a porta aberta para uma alta de juros residual se os dados surpreenderem nessa direção. A porta também está aberta em relação à direção dos próximos movimentos após esse período (provavelmente prolongado) de pausa”, enfatizam os economistas do Itaú.
Ata reafirma plano de encerrar ciclo
A ata da reunião de semana passada do Copom reafirma o plano de voo do colegiado de encerrar o ciclo de aperto na próxima reunião, com uma Selic a 13,75%. “Essa impressão da ata contradiz claramente a nossa projeção de uma alta final nos juros de 0,25 ponto percentual em setembro (para 14%), que segue nossas premissas de que as expectativas de inflação podem subir um pouco mais nas próximas semanas e de que a atividade pode ter um pequeno impulso dos estímulos fiscais no início do terceiro trimestre”, diz o superintendente de pesquisa macroeconômica do Santander, Mauricio Oreng.
Em relatório enviado a clientes, o profissional nota que, assim como na ata anterior, o Copom destaca que o ciclo atual de aperto foi bastante intenso e pontua que, devido às defasagens, grande parte do efeito contracionista esperado e seu impacto na inflação corrente ainda estão por vir. Uma dúvida ressaltada por Oreng é se o novo impulso de demanda deveria ou não levar a uma reação adicional da política monetária. “A resposta só será conhecida alguns meses à frente.”
“O BC está caminhando para uma pausa no ciclo de aperto, sob a crença de que os riscos inflacionários adicionais decorrentes do estímulo fiscal renovado e da ociosidade menor na economia (dado o mercado de trabalho mais forte que o espetado e um hiato do produto menor) serão tratados com os efeitos defasados do ciclo de aperto monetário, da desaceleração da economia global e do abrandamento dos preços das commodities”, afirma Oreng. Para ele, embora a incerteza impeça o Copom de anunciar uma pausa no ciclo agora, “reconhecemos que a barra parece alta para desencadear uma mudança no plano do BC de anunciar uma pausa de 13,75% em setembro”.
O Santander, assim, vê um risco de baixa significativo para sua projeção de Selic a 14% no fim deste ciclo. No entanto, ao observar riscos consideráveis de maior persistência inflacionária no médio prazo, os profissionais do banco continuam a ver espaço limitado para cortes nos juros no próximo ano. O cenário-base do Santander contempla cortes na Selic que têm início em junho de 2023 e que levam a taxa básica para 12% no fim do ano.
Selic inalterada em 13,75% por período prolongado
O Copom reforça, na ata da reunião de semana passada, a expectativa de que a Selic será mantida em 13,75% nos próximos meses, avalia a economista-chefe da Armor Capital, Andréa Damico. “Um trecho relevante é quando o comitê fala do horizonte relevante de inflação dele, ao projetar o IPCA em 3,5% no primeiro trimestre de 2024 e dizer que isso seria compatível com a estratégia de convergência da inflação, ou seja, ele indica que cumpriu o trabalho e que atingiu a meta, já que o ‘target’ dele é o redor da meta”, afirma.
Damico, assim, mantém inalterada a projeção de Selic a 13,75% no fim deste ano e a 11% em 2023. “Se as coisas não mudarem é Selic parada por muito tempo. Tem toda a discussão de defasagem da política monetária, já que tem um efeito maior do aperto que não foi visto na inflação. E tudo o que estamos vendo de acomodação dos preços de bens industriais não tem a ver com a política monetária, mas sim com a desaceleração das commodities em reais, enquanto a inflação de serviços continua bastante pressionada e em patamar bem elevado.”
E é por causa da inflação de serviços disseminada que a Armor espera que a autoridade monetária mantenha o juro básico parado em 13,75% por um período bastante prolongado e só comece a reduzir a taxa em junho de 2023. “Nosso cenário ainda é um período de estabilidade. O BC deve segurar o juro restritivo para fazer o trabalho da desinflação de serviços. O que pode mudar esse cenário é a inflação de serviços mostrar uma dinâmica melhor antes e começar a descomprimir antes do esperado. Só que esse cenário não é o que estamos vendo hoje, já que a inflação de serviços ainda está bastante resiliente”, afirma.
Para a economista, o argumento do Copom de que já produziu um efeito restritivo considerável com o aumento da taxa de juros é um dos elementos que deixam clara a intenção do BC de encerrar o ciclo. “Acho que ele está correto, exatamente por essa descompressão que estamos vendo nos bens industriais, o que ajuda o BC nessa estratégia de parar. Ou ele daria mais volatilidade à taxa de juros e continuaria subindo mais os juros ou ele adotaria a estratégia de suavização da política monetária, pararia agora o ciclo e manteria a taxa inalterada por mais tempo. Como o desafio dele é a inflação de serviços, faz sentido a estratégia de suavização”, defende Damico.