Economistas correm para definir taxa final da Selic; o que fazer com seus investimentos?
Cenário da faixa terminal da Selic é fundamental para avaliar os próximos passos
Mais do que a decisão de cortar a Selic em 0,50 ponto percentual (p.p.) nesta semana, o comunicado do Copom movimenta os economistas nas últimas horas. Afinal, eles estão revendo as projeções da taxa terminal dos juros, agora que começou o ciclo de cortes da taxa básica. Diante disso, onde investir com a queda da Selic, que pode cair ainda mais?
Saber quando e em qual patamar o Banco Central irá parar de cortar a Selic é fundamental para, entre outras coisas, ajustar o dinheiro que circula no mercado financeiro entre os produtos disponíveis. E isso envolve, inclusive, o seu bolso.
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As previsões para a Selic
De acordo com os economistas de grandes bancos consultados pela Inteligência Financeira, o Copom mostrou que está mais disposto a reduzir a taxa básica de juros do que se esperava. Essa expectativa veio principalmente a partir das decisões anteriores do colegiado de diretores do BC.
Dessa forma, quase todas as instituições reduziram as previsões para a Selic em dezembro de 2023 de 12% para 11,75% ao ano. E, para o ano que vem, acreditam que o BC deverá interromper os cortes com a Selic no patamar que vai de 10% a 9% ao ano.
Para chegar a essa análise, eles levam em conta que a taxa neutra de juros, aquela que nem estimula, nem desestimula a economia, estaria no ano que vem próxima a 8,50% ao ano. A taxa é obtida a partir do cálculo dos juros mais a inflação do período.
Contraponto
O único banco que, neste momento, acredita numa taxa de juros abaixo desse patamar é o francês BNP Paribas. A instituição diminuiu a projeção para os juros no fim de 2024 (10% para 8,5%), mas passou a considerar que o BC terá de retomar o ciclo de aperto em 2025, quando levará a taxa básica a 10%.
“Mudou um pouquinho. A gente achou que o resultado do Copom foi um pouquinho mais dovish”, afirma o economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles, empregando um jargão do mercado financeiro que define uma política marcada pela redução de juros e expansão da oferta de moeda.
“Então, em nossas projeções”, ele continua, “a gente baixou 25 pontos-base para a Selic no final deste ano e do próximo. Agora, a gente tem a Selic terminando 2023 em 11,75% e 2024 em 9,25%”, afirma.
Itaú acredita em ritmo mais acelerado
Já no Itaú, que soltou um comunicado informando que o ritmo de cortes pode até acelerar, o superintendente de pesquisas econômicas, Fernando Gonçalves, afirma que o fim do ciclo vai depender de três fatores.
São eles: o patamar da inflação no próximo ano, a política de juros dos Estados Unidos e os próximos diretores do BC, se é que, de fato, a autarquia vai trocar os nomes do colegiado que integra o Copom.
A Selic não ia cair só 0,25 ponto percentual?
Neste sentido, os mandatos de Fernanda Guardado e de Maurício Costa de Moura, dois dos diretores que nesta última reunião foram votos vencidos a favor de um corte mais conservador, de 0,25 p.p., terminam em dezembro próximo. Eles podem ser reconduzidos ao cargo ou trocados por outros nomes, indicados pelo governo.
“A nossa discussão é de que a barra está relativamente baixa para cortes mais agressivos do que o 0,50 ponto percentual”, diz Gonçalves. “Uma coisa que nos chama atenção, por exemplo, é que não houve mudança na projeção do Banco Central para a inflação de 2024. E, apesar disso, o Banco Central se sentiu confortável para começar com 0,50 p.p.”, afirma.
Segundo ele, se houver uma surpresa nos próximos meses, apontando uma inflação mais baixa no segmento de serviços, o Copom poderia ser ainda mais agressivo. “Eu nem acho que precisa ser uma surpresa tão grande, mas corroboraria para um corte de 0,75 ponto”, diz.
Impacto no bolso
Para o investidor, esse cenário da faixa terminal da Selic é fundamental para avaliar o que fazer com os investimentos. De certa forma, os especialistas no assunto já começam a falar sobre isso.
E, numa fase de afrouxamento de juros, ou em outras palavras, no instante em que o BC começa a cortar a Selic, todos afirmam que é o momento para uma recalibragem de portfólio.
“Esse pode ser o momento de começar a olhar para um pouco mais de risco”, diz Martin Iglesias, gerente de produtos de investimento do Itaú-Unibanco.
Os especialistas, contudo, sugerem cautela. Neste momento, por exemplo, e até enquanto a Selic se mantiver em dois dígitos, não vale a pena mudar a configuração das alocações.
“Mesmo que os juros caiam, em dois dígitos a Selic vai se manter em um patamar muito alto e o investidor não vai ter nenhum prejuízo com a renda fixa”, diz o professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Fábio Gallo.
O especialista, que também é colunista da Inteligência Financeira, destaca que o fiel da balança para o retorno dos investimentos é a inflação. Comportada, ela pode pesar tanto ou até mais que a Selic sobre o retorno real dos produtos de renda fixa.
“Ao contrário de prejuízo, o aplicador vai provavelmente ganhar com a queda da inflação até a metade do ano que vem”, diz Gallo.
Onde investir com a queda da Selic?
Para Carlos Castro, fundador da Super Rico, fintech de planejamento financeiro, a dica é manter as economias investidas como estão.
Além disso, o investidor pode direcionar os novos aportes para produtos com um pouco mais de risco.
“O investidor deve olhar para os fundos imobiliários, para fundos em participação em infraestrutura (FIPs)”, referindo-se a um tipo de produto que fica na prateleira dos alternativos.
São renda fixa, no sentido que o investidor sabe quanto eles vão render no vencimento. Mas oscilam no caminho.
“Eu gosto de FIPS e fundos imobiliários. Mas acho muito arriscado ficar procurando por um ou por outro. O melhor, eu acho, é comprar fundo de fundo”, diz Jayme Carvalho, economista da Super Rico.
Os fundos de fundos são fundos de investimentos que aplicam em cotas de outros fundos. Basicamente, o investidor que compra a cota de um produto assim delega ao gestor a escolha de onde o dinheiro será aplicado.
Mas, cuidado. Nenhum especialista recomenda a migração para a bolsa. “A bolsa já valorizou bem. Existem algumas oportunidades, mas a nossa recomendação é neutra sobre esse tipo de ativo”, diz Iglesias.