Decepção? Entenda por que o Ibovespa não subiu depois do corte da Selic

Desempenho da bolsa está relacionado a diferentes fatores, segundo especialistas; entenda o que aconteceu

Saiba como reaver um prejuízo obtido na bolsa de valores - Foto: Amanda Perobelli/Reuters
Saiba como reaver um prejuízo obtido na bolsa de valores - Foto: Amanda Perobelli/Reuters

O Ibovespa fechou o pregão desta quinta-feira (3) em queda de 0,23% (120.585 pontos), frustrando aqueles que imaginavam que a bolsa fosse disparar depois da queda da taxa de juros em 0,50 ponto percentual, acima do projetado.

O desempenho está relacionado a diferentes fatores, internos e externos, segundo analistas do mercado financeiro.

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Assim, para Bruce Barbosa, sócio da Nord Research, parte da animação do mercado com juros mais baixos já estava na conta do investidor.

“Eu acho que já estava em grande parte precificado, apesar de muita gente ainda ter enxergado corte de 0,25 ponto. Mas o mercado já vem olhando para esse corte há bastante tempo, então, não é grande novidade”, diz Bruce.

Receio com relação ao futuro do BC

Além disso, ele avalia que o Copom dividido pode ser um motivo de preocupação, tendo em conta que não houve unanimidade na votação pela queda básica de juros.  

“Ao mesmo tempo em que o mercado fica feliz com o corte, talvez tenha medo de que esse pessoal mais heterodoxo que vai assumir venha a tomar uma linha de operação diferente da atual”, alerta.

Ele se refere aos novos membros da diretoria, Gabriel Galípolo e Ailton de Aquino Santos, indicados pelo governo Lula, que por sua vez vinha criticando abertamente a conduta do Banco Central em relação à manutenção da Selic em 13,75% ao ano.

Pouco tempo e setores em queda

Para Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, é preciso ter moderação ao mensurar o resultado dos ativos num período tão curto em relação à decisão do Copom. Para o especialista, a medida precisa de tempo para incidir sobre os ativos de maneira mais transparente.

Além disso, é preciso considerar o impacto negativo que alguns setores específicos tiveram sobre o Ibovespa no pregão, de maneira pontual, mas que não refletem o desempenho da bolsa como um todo.

“A gente vê resistência hoje (ontem) a alguns nomes tanto associados com o setor financeiro, relevante no interior do índice, como também associados à curva de juros, que não tem o movimento trivial hoje, além de algumas commodities”, diz Spiess.

Curva de juros

Ele ressalta também que, apesar da surpresa positiva com os ‘juros curtos’ caindo mais que o esperado, ainda há forte desconfiança com relação à inflação de longo prazo e, consequentemente, aos juros futuros.

“Com isso, então, você tem uma inclinação maior da curva”, destaca. “É isso que amortece um pouco o Ibovespa, mas que tem um dia muito bom em comparação com a realidade internacional, que é predominantemente negativa”, afirma o analista da Empiricus.

Exterior

Houve queda na Ásia e Europa e desempenho tímido nos Estados Unidos, mercados ainda impactados pelo rebaixamento da nota de crédito norte-americana.

Barbosa, da Nord, pondera também que a alta do preço do petróleo pressiona a inflação ao redor do globo e que “a gasolina, no Brasil, não está subindo como no cenário internacional porque a Petrobras está segurando, e isso é preocupante”.

“Assim que eles forem repassar (a alta do combustível), imaginando que o preço do petróleo continue alto, isso vai ter um impacto grande na inflação”, completa Barbosa.

Juros americanos atrativos

Outro fator que ajuda a derrubar o otimismo do investidor no Brasil é a taxa de juros nos Estados Unidos, que voltou a subir depois de uma pausa. “Ainda temos um ciclo de alta no país, com o aumento recente de 0,25 e o próprio mercado ainda prevê novas altas”, diz Bernardo Brites, CEO da Trace Finance.

O executivo diz ainda que o Fed teme interromper o ciclo de altas cedo demais e colocar mais pressão sobre os juros futuros, dada a impressão do mercado de que a inflação ainda não está plenamente controlada.

Com isso, há uma competição entre juros norte-americanos e outros ativos para oferecer a maior rentabilidade possível. Com os juros norte-americanos em alta, o efeito é de saída de dólares do país, com a moeda americana voltando a tocar os R$ 4,90, e a predileção dos investidores pela taxa norte-americana de remuneração da renda fixa.

Além do impacto sobre a renda variável brasileira, o juro de lá também impacta os investimentos em renda fixa no país. “A partir do momento em que lá aumenta 0,25 e aqui cai 0,50, você teve uma diferença de 0,75 p.p. (entre a rentabilidade de ambas as taxas), e aqui ficou menos atrativo”, explica Brites.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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