Com Selic estável a 13,75% ao ano, que eventos podem mexer com a renda fixa agora?
Investidor precisa acompanhar desenvolvimentos do cenário econômico para eventualmente ajustar sua carteira
As grandes oportunidades do mercado financeiro surgem quando os investidores têm opiniões muito diferentes sobre o cenário ou quando há, no horizonte, eventos que podem mudar significativamente a percepção de um ativo – gatilhos. Com a Selic estável a 13,75%, o que muda no mercado?
As projeções de inflação em queda há 17 semanas seguidas – pelo relatório semanal Focus, do Banco Central – e expectativa de que a taxa Selic fique estável e seja mantida no atual nível de 13,75% ao ano ao menos até junho de 2023, reforçada nesta quarta-feira (26) pelos comentários do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) após a decisão de continuar sem mexer nos juros, parecem deixar pouco espaço para manobra na renda fixa.
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Então basta comprar um título no Tesouro Direto e esquecer para conseguir os melhores rendimentos? Não é bem assim. Mesmo com a Selic estável, ainda existem questões com potencial para chacoalhar tantas certezas e mudar o jogo. O investidor precisa acompanhar esses desenvolvimentos para eventualmente ajustar sua carteira.
1. Impacto, na inflação, da volta da cobrança dos impostos sobre combustíveis e energia elétrica
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Uma grande parcela da recente desaceleração da inflação pode ser atribuída ao corte de tributos sobre os combustíveis e a energia elétrica. Essa redução tem efeito dominó, porque, com o diesel mais barato, os preços dos produtos que são transportados por caminhões também recuam. Não se sabe ainda se e quando esses impostos serão restabelecidos, mas o retorno da taxação faz todos os preços da economia voltar a subir. Se a inflação sobe, talvez o BC precise voltar a aumentar a Selic ou demorar mais do que o esperado para cortar a taxa.
2. Efeito total dos benefícios sociais na inflação
O governo Jair Bolsonaro (PL) concedeu muitos benefícios sociais no segundo semestre do ano para tentar cativar os eleitores e conquistar sua reeleição. Segundo cálculos do economista Bernard Appy, diretor do Centro de Cidadania Fiscal, o custo anulizado das medidas de elevação de despesas públicas e corte de arrecadação tomadas desde o final de 2021 é de R$ 400 bilhões. Tanto dinheiro está tendo um impacto inflacionário que vai diminuir conforme os benefícios sejam reduzidos ou retirados. Se a inflação cai, o BC pode começar a reduzir a Selic novamente antes do esperado. “Essa não é uma desinflação comum, porque o processo inflacionário não foi comum, não foi causado apenas por demanda. Muita coisa pode acontecer no caminho”, diz Rafael Leão, economista-chefe da gestora de investimentos Barra Peixe.
3. Vencedor da eleição presidencial, equipe econômica e plano fiscal
Um dos motivos para o BC não ter alterado a taxa de juros em sua reunião desta quarta (26) foi a proximidade do segundo turno da eleição presidencial. “Tem, aí, uma razão política, mas também técnica. O Copom precisa saber como vai ficar o governo para estimar o impacto fiscal dos planos que tem para a economia do país”, afirma Marcos Caruso, economista-chefe do banco Original. O descontrole das contas públicas, com excesso de despesas e menos receitas, faz os investidores perder a confiança na capacidade do governo de pagar seus compromissos, por isso acaba pedindo um prêmio maior para investir nos ativos brasileiros, o que significa um aumento de juros.