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Ações da Americanas (AMER3) caem 77% e empresa perde R$ 8,3 bi em valor de mercado
As ações da Americanas (AMER3) fecharam em queda de 77,33% nesta quinta-feira (12) depois que CEO e CFO da companhia renunciaram por descobrirem um rombo de R$ 20 bilhões. O papel era negociado a R$ 12 na véspera, mas fechou o último pregão valendo R$ 2,72.
Com o tombo histórico, a Americanas perdeu R$ 8,32 bilhões em valor de mercado em apenas um dia.
AMER3 passou grande parte do pregão em leilão e sua negociação chegou a ser suspensa, mas a queda astronômica foi inevitável. A B3 adiou o início das negociações do papel para que todos os investidores tivessem acesso ao esclarecimento que a companhia prestou às 9h.
Outras varejistas se recuperaram após um grande tombo no início do pregão. Magazine Luiza (MGLU3) fechou em alta de 5,28%, a maior alta do Ibovespa e Via (VIIA3) perdeu 5,38% após cair mais de 10%.
A ação ordinária da Ambev (ABEV3) também ficou em leilão e fechou o dia com queda de 1,33%.
O que é um leilão de ações?
Quando há grande volatilidade em uma ação, é comum que ela entre em leilão. Nesse mecanismo, a ação sai do pregão da bolsa por um tempo determinado e é negociada em um sistema fechado. Lá, as transações só acontecem quando uma ordem de compra encontra uma ordem de venda do mesmo valor. Isso diminui a volatilidade do papel.
Via e Magazine Luiza passaram a manhã explicando o seu risco sacado ao mercado
Os comandos das varejistas concorrentes de Americanas — Via e Magazine Luiza — passaram parte do dia em contatos e reuniões com bancos e seguradoras de crédito, apurou o Valor, para esclarecer dúvidas sobre a contabilidade de risco sacado, foco central do problema com a Americanas.
Houve uma queda generalizada do setor de varejo listado na bolsa brasileira, a reboque da crise na Americanas, e os números mostram formas diferentes de mensuração dessa linha de risco sacado ou “forfait”. Horas após os contatos, a forte queda inicial dos papéis registrada pela manhã perdeu força.
Nesta manhã, Sergio Rial, ex-presidente da Americanas, chegou a dizer a investidores que há diferentes formas de contabilizar o risco sacado e é uma questão antiga no varejo — a declaração desagradou executivos do setor.
O Valor apurou que a Via tem informado a bancos e seguradoras que as informações estão em notas explicativas das demonstrações financeiras, e desde 2015, reportada na linha apartada da conta de fornecedores, em “fornecedores convênio”. Em setembro passado, eram 2,5 bilhões, versus R$ 1,9 bilhão em dezembro de 2021.
Já as despesas com juros são contabilizadas como despesa financeira. “A Via é a é a única companhia do setor que destaca as duas contas em balanço”, disse uma fonte próxima da dona de Casas Bahia e Ponto Frio. “Por ter natureza específica [a Via] classifica [a transação] separadamente”, diz o grupo nas notas explicativas.
Informa ainda que os acordos de linhas de crédito com os bancos (no risco sacado) têm custo financeiro de 18,98% ao ano em 30 de setembro (11,04% em dezembro de 2021).
Nas notas explicativas do Magazine Luiza, não há detalhamento específico desse valor de convênio no item “fornecedores”. Mas lideranças da empresa estiveram especificando melhor a sua contabilidade na parte da manhã, a bancos e analistas.
A companhia, nas notas explicativas, relata que mantém convênios com bancos parceiros para estruturar com os seus principais fornecedores a operação de antecipação de seus recebíveis (risco sacado).
“Nessa operação, os fornecedores transferem o direito de recebimento dos títulos para o banco em troca do recebimento antecipado. O banco, por sua vez, passa a ser credor da operação, sendo que a companhia efetua a liquidação do título na mesma data originalmente acordada com seu fornecedor e recebe, subsequentemente, uma comissão do banco por essa intermediação e confirmação dos títulos a pagar”, informa.
O Magazine diz que essa comissão é registrada como receita financeira.
E como a operação não altera os prazos, preços e condições anteriormente estabelecidos com os fornecedores, ela classifica na rubrica de “fornecedores”. Nesta rubrica, eram R$ 8,6 bilhões em setembro.
Ainda no Magazine, em 30 de setembro, o saldo a pagar negociado pelos fornecedores, e com aceite da companhia, somava R$ 3,9 bilhões.
Na reunião com o mercado, que conduziu no inicio da manhã de hoje, o agora ex-presidente da Americanas, Sergio Rial, disse que por conta de uma “liberalidade de interpretação” sobre o tema não há clareza do que é dívida com um banco e do que é dívida com o fornecedor. O executivo disse que se tratava de um velho problema do varejo, algo visto, segundo ele, desde a década de 1990.
“Rial foi infeliz em querer generalizar um problema que é da Americanas. Deveria ter se dado ao trabalho de ler outros balanços antes de falar algo assim”, disse um executivo do setor. “Agora estamos reafirmando aquilo que já demonstramos”, disse uma fonte.
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