Bitcoin cai 11,7% no 1º tri e analistas esperam mudança no cenário macro para haver recuperação
O bitcoin (BTC) caminha para encerrar o primeiro trimestre de 2025 em queda de 11,7%, decepcionando aqueles que esperavam por uma valorização da criptomoeda no começo do ano.
Entre as preocupações dos investidores com a guerra comercial promovida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a expectativa de que a maior economia do mundo passe a ter uma reserva de BTC, esses três meses foram marcados por bastante volatilidade e colocam em xeque algumas visões que existiam sobre o patamar da moeda digital ao fim do ano.
Segundo Vinicius Bazan, CEO da Underblock, o retorno do trimestre está muito ligado ao de fevereiro, que teve uma queda de 17% no bitcoin ligada à percepção de que Trump é ora antídoto e ora veneno para o mercado.
Bazan diz que a quarta, 2 de abril, será o dia mais importante para saber se as tarifas de Trump serão de longo prazo ou se o presidente só quer se colocar em um patamar acima dos outros países nas mesas de acordo.
“O cenário mais provável é que agora seja um momento de abrandamento. Esperamos que a partir do dia 2, Trump comece a colocar as coisas em perspectiva e as tarifas se tornem algo de menor impacto”, prevê Bazan.
O problema, na opinião dele, é que é impossível saber o que se passa na cabeça do presidente americano, então só resta especular sobre seus próximos passos.
Mercado como um todo é impactado negativamente
Caio Villa, CIO da Uniera, destaca que o mercado como um todo, e não só as criptomoedas, foi impactado negativamente com a guerra tarifária e a persistência da inflação nos EUA, que torna cada vez mais difícil um corte de juros no curto ou médio prazo.
“Por mais que acreditemos que, no futuro, o bitcoin será o ouro digital, hoje, ele representa um décimo da capitalização de mercado do ouro. Então, o ativo acaba se comportando como se fosse uma commodity de tecnologia, extremamente dependente do que acontece no cenário macroeconômico”, avalia.
Beto Fernandes, analista da Foxbit, diz que o pico do bitcoin nos US$ 109 mil no dia da posse de Trump foi altamente especulativo e seria difícil manter aqueles níveis se nenhum outro gatilho relevante aparecesse para os investidores, como de fato ocorreu.
Investidores ainda esperam anúncio do governo dos EUA
A grande expectativa dos investidores, que era do anúncio de que o governo americano passaria a comprar ativos digitais para manter em reserva, não ocorreu como se esperava.
O líder do grupo de trabalho de ativos digitais da Casa Branca, David Sacks, disse que a reserva será feita com as criptomoedas apreendidas pelas autoridades e não será custeada com o dinheiro dos contribuintes.
Ou seja, o governo não venderá as moedas digitais que já possui, mas também não deve comprar mais. Até mesmo as votações para serem criadas reservas de bitcoin nos estados não estão vindo com a celeridade ou os resultados que muitos ansiavam.
“A perspectiva de um ambiente regulatório e até mesmo a criação de uma reserva estratégica de BTC não veio na velocidade e intensidade que muitos acreditavam. Com o ânimo enfraquecido, é natural que parte do capital investido seja liquidado para proteção, realocação ou até mesmo para varrer investidores mais especulativos”, argumenta Fernandes.
Analistas acreditam em janela de oportunidade para alta do BTC
Bazan cita, contudo, que nem tudo está perdido e que o bitcoin pode voltar a subir nos próximos trimestres e até alcançar a projeção que o analista fez para o preço da criptomoeda no início do ano, de atingir os US$ 150 mil ou até os US$ 200 mil no atual ciclo.
“Não muda o ponto de chegada, só o caminho. Já vimos que o bitcoin pode subir para US$ 150 mil em um ou doze meses”, defende. “Pode ser mais rápido ou devagar a depender da política tarifária americana e dos juros.”
O principal ponto a se atentar, de acordo com o CEO da Underblock, é a liquidez da economia global. Bazan lembra que o agregado M2 dos EUA, que engloba notas, papel-moeda em circulação e depósitos à vista nos bancos comerciais mais depósitos à prazo e títulos públicos de alta liquidez, sempre tem efeito retardado no mercado e está crescendo.
Em um momento no qual o Federal Reserve (Fed) começa a encerrar seu processo de redução do balanço, isso significa que os ativos de renda variável podem responder positivamente em algumas semanas.
“É difícil acertar até onde o bitcoin pode chegar, mas o que conseguimos fazer são projeções para tentar aumentar a probabilidade de acerto. Se fosse para arriscar um valor, acho que algo entre US$ 100 mil e US$ 120 mil, talvez até até US$ 150 mil”, afirma Villa.
Momento delicado para outros ativos cripto
Para as outras criptomoedas, o momento segue delicado, com a maioria registrando desempenhos bem mais negativos do que o do bitcoin por serem considerados ativos de maior risco do que a principal das moedas digitais.
Maior das chamadas altcoins, o ether (ETH) despenca 45% nos primeiros três meses do ano. Bazan acredita que dificilmente haverá outro movimento como o de 2021, no qual todas as altcoins subiam junto com o bitcoin, mas em intensidades bem maiores.
Ele ainda aposta que alguns desses ativos podem registrar desempenhos bastante superiores ao do BTC, porém afirma que o investidor ficou mais seletivo. “O mercado está mais cético e narrativo. Para mim, a natureza mudou, mas a altseason continua existindo”, diz.
O diagnóstico de Villa é parecido. Na visão dele, é importante analisar muito bem a economia de um token antes de apostar na sua alta.
“As pessoas precisam entender que um ativo é muito diferente do outro. Muito possivelmente, quando tivermos uma altseason, vai se restringir aos ativos que conseguem atrair mais dinheiro para si, ou seja, ativos que têm alguma utilidade no seu token ou moeda, que têm constante trabalho das pessoas envolvidas no projeto, independentemente do período.”
*Com informações do Valor Econômico
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