Além da Méliuz (CASH3), outras 32 empresas listadas em bolsa operam estratégia de bitcoin. Vai dar certo?

A companhia de cashback anunciou, nesta quinta-feira (6), que comprou 10% do seu caixa em bitcoin; promessa de ganho de longo prazo atrai investidores

O anúncio de que a Méliuz (CASH3) desembolsou US$ 4,1 milhões para montar uma estratégia de tesouraria com bitcoin pegou os investidores de surpresa nesta quinta-feira (06), primeiro dia útil completo pós carnaval.

A empresa afirmou, em fato relevante, que pretende ter até 10% do caixa aplicado na criptomoeda de referência. Nesse momento, ela adquiriu 45,72 bitcoins.

Em comunicado aos investidores, Israel Salmen, fundador e chairman da empresa de cashbacks, disse que o interesse da Méliuz é, assim, ampliar a estratégia. E já encomendou estudos sobre isso.

Dessa forma, a Meliuz torna-se a primeira companhia pública da América Latina a explorar as oscilações e valorizações de longo prazo do bitcoin.

Como a Méliuz, outras 32 empresas têm bitcoin

A precursora em transformar o caixa em bitcoin e, assim, ‘vender’ para o investidor mais do que o fluxo de caixa das suas operações foi a MicroStrategy (M2ST34).

Seu fundador, Michael Saylor, começou a comprar bitcoins em 2020. Hoje, a empresa tem 444,262 bitcoins. Tem, assim, 2,11% de todo o estoque de bitcoins do mundo.

A estratégia deu certo. A MicroStrategy saiu de, então, uma firma de softwares que valia algumas centenas de milhares de dólares, para um papel de peso para a Nasdaq. O valor de mercado da MicroStrategy é hoje de US$ 79,66 bilhões.

Com o sucesso de Michael Saylor, logo surgiram outras aspirantes a MicroStrategy. Segundo levantamento do CoinGecko, além da Méliuz, existem, no mundo, 32 empresas de capital aberto que mantém bitcoin em caixa.

A maior parte delas (15 no total) é de empresas americanas. Certamente a maior delas é a Tesla, de Elon Musk, com valor de mercado, hoje, em US$ 897,73 bilhões. A empresa tem 11,5 mil bitcoins em caixa. Há também empresas canadenses, japonesas, além de britânica, australiana e chinesas.

Algumas são nativas em criptomoedas, como a corretora Coinbase. Em comum, todas gravitam em torno da temática tecnológica. Ao todo, as companhias de capital aberto detêm, assim, 556,645 bitcoins. Sendo que, somente a MicroStrategy tem 444 mil.

Méliuz quer fugir da renda fixa

Segundo Israel Salmen, em vídeo nas redes sociais, a ideia da Méliuz é ampliar os resultados de tesouraria. Isso, já que 100% do caixa da empresa, até então, estava em títulos de renda fixa.

“A gente via dois problemas (com as alocações em renda fixa). O primeiro é que os índices oficiais de inflação podem subestimar a real perda de poder aquisitivo. O segundo é o regime de tributação de lucro real. Ele consome uma parcela relevante dos rendimentos do nosso caixa”, destacou.

No documento protocolado na CVM, a Méliuz diz que o Conselho de Administração solicitou estudos para a “alocação do bitcoin como principal ativo estratégico da tesouraria da companhia”.

A empresa também avalia possíveis formas de geração de valor para os acionistas com bitcoin, seja por meio da alocação de caixa ou de outras iniciativas estratégicas.

Uma coisa é certa. A Méliuz, que há algum tempo anda em baixa na bolsa, conseguiu chamar a atenção do mercado.

E, se conseguir aprovação dos investidores, vai tentar buscar na tesouraria um resultado que, até agora, o negócio de cashbacks ainda não conseguiu.

Vai dar certo para CASH3?

Um dos problemas da Méliuz, para além do bitcoin, é de que a liquidez das ações é baixa. E não existem bancos que fazem a cobertura do papel atualmente.

A XP é uma das poucas casas que olham para o negócio. Em relatório nesta quinta-feira, os analistas Bernardo Guttmann, Matheus Guimarães e Rafael Nobre adotaram um tom desconfiado com a nova estratégia.

“Vemos com cautela a recente decisão da Méliuz”, escreveram. “Embora a nova política interna permita esse investimento, isso pode gerar preocupações entre investidores quanto à gestão do caixa da empresa”, avaliaram os analistas da XP.

Segundo o trio, a sugestão do conselho para que a administração realize um estudo detalhado sobre a adoção do bitcoin como ativo estratégico levanta dúvidas sobre a coerência dessa estratégia. “Especialmente porque a empresa não opera com criptomoedas em seu core business”, apontaram.

“Dessa forma, essa política de caixa parece desconectada dos objetivos operacionais da companhia, gerando incertezas sobre sua eficácia e levantando questionamentos sobre a capacidade da empresa de reinvestir sua geração de caixa em suas atividades principais”, definem.

“No entanto, reconhecemos que o Bitcoin pode evoluir como uma reserva de valor no futuro, o que poderia justificar essa alocação caso a estratégia seja melhor alinhada com as operações da empresa”, escreveram os analistas da XP.

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