O economista Paul Krugman, que já ganhou prêmio Nobel em 2013, afirmou em artigo no jornal The New York Times que vê “desconfortáveis paralelos” entre o que está ocorrendo com o mercado de criptoativos e a crise do subprime, que estourou entre 2007 e 2008 nos Estados Unidos.
O que foi a crise do subprime
Para quem não se lembra, subprime era o nome dado ao tipo de financiamento imobiliário concedido para pessoas com nota de crédito mais baixa, e que, como ficou provado, não tinham condições de pagar as parcelas. Quando os agentes do mercado se deram conta que o risco de inadimplência era muito maior do que o imaginado, o buraco no balanço de bancos e dentro do sistema financeiro de forma geral era tão grande que os governos tiveram que entrar em cena para pagar a conta (com o dinheiro do contribuinte, claro).
O que as criptos têm em comum com o subprime
A semelhança que Krugman vê, porém, não está relacionada com o risco de uma crise sistêmica, como a que se viu após a quebra do Lehman Brothers em setembro de 2008. O motivo para esse certo conforto é que o mercado ainda é relativamente “pequeno”. O valor somado dos criptoativos chegou a quase US$ 3 trilhões quando as cotações atingiram recordes alguns meses atrás, e está agora em torno de US$ 1,3 trilhão, o que representa cerca de 6% do PIB dos EUA.
O paralelo visto por Krugman está, segundo ele, na crescente evidência de que o risco desse mercado está “caindo desproporcionalmente (na mão) de quem não sabe onde está se metendo” e está mal preparada para lidar com um desfecho negativo.
Krugman se questiona quem são as pessoas que estão perdendo dinheiro com a recente queda no preço dos criptoativos, que perderam cerca de 50% ou mais desde o ponto mais alto. E cita dados para dizer que é um público diferente daquele que investe em ações e outros ativos de risco, que é formado majoritariamente por brancos, ricos e pessoas com formação universitária nos Estados Unidos. Entre os investidores de cripto, segundo uma pesquisa citada pelo economista, 44% seriam “não brancos” e 55% sem diploma universitário.
O autor diz que essa demografia diferente está sendo comemorada, dado que poderia ser um sinal de que os investimentos estariam se tornando mais populares entre os menores favorecidos. Mas Krugman lembra que, quando a população de baixa renda passou a ter acesso ao crédito subprime nos EUA, isso também foi visto positivamente no início, até que as pessoas deram conta de que elas não entendiam como os empréstimos realmente funcionavam.
Embora questione a utilidade dos criptoativos e também o alto valor atribuído ao bitcoin e outras moedas, Krugman diz que é “ok” que investidores que gostam da tese “apostem contra” os céticos e críticos. Mas, para ele, esses investidores deveriam ser pessoas capazes tanto de entender o mercado em que estão entrando como também de aguentar financeiramente as perdas no caso de os céticos terem razão.
“Infelizmente, não é isso que está acontecendo. E se você me perguntar, os reguladores estão cometendo o mesmo erro do caso subprime: eles falharam em proteger o público de produtos financeiros que ninguém entendia, e muitas famílias vulneráveis podem acabar pagando o preço”, conclui Krugman.