Comprar na alta, vender na baixa e outras formas de perder dinheiro investindo

Confira máximas do mercado financeiro que podem ter efeito reverso e comprometer a sua construção de patrimônio

Muita gente acredita que investe sonhando que pode ficar rico. E que isso é possível do dia para a noite.

Mas, isso não é verdade. Será?

O fato é que as pessoas acabam criando crenças sobre como gerir o seu dinheiro. Principalmente querendo ficar ricas ou pagarem as suas contas.

As crenças sobre finanças são muitas, mas várias têm traços comuns com conceitos pré-existentes.

De alguma maneira trazem alguns dos famosos “mitos” dos investimentos. Podemos dizer também “máximas” em finanças ou até mesmo “axiomas” de investimentos.

Comprar ações em alta ou em baixa?

Um desses pensamentos mais comuns é que o segredo do mercado de capitais é “comprar ações na baixa e vender na alta”. Simples assim.

O único problema é descobrir como fazer isso. Ou seja, como saber que o papel está realmente na baixa e quando ele atingiu o seu pico para poder vender.

O fato é que muitos investidores, principalmente os impacientes, compram ações em alta e vendem quando os papéis estão caindo.

Reforçando: compram ações quando muitos analistas recomendam aquele título e acabam justamente entrando na contramão do mercado.

Quem nunca ouviu expressões como:

  • Preocupação não é doença, mas sinal de saúde. Se você não está preocupado, não está arriscando o bastante.
  • Somente compre ações que cresceram muito nos meses anteriores, esse crescimento vai induzir a outros também comprarem. Será uma profecia alto realizável.
  • Resista à tentação das diversificações.
  • Diversificação é uma máxima.
  • O risco está em não saber o que você está fazendo.
  • Comprei na alta. Agora que caiu, vou comprar mais, porque na média estou bem (sic).
  • O mercado, como Deus, ajuda aqueles que o ajudam (de Warren Buffett).

Mitos do mercado financeiro

Essas frases são alguns poucos exemplos de máximas em finanças. A promoção desses mitos muitas vezes fica por conta de analistas e corretores, e os cínicos se encarregam da tentativa de desqualificá-las.

Sendo que a grande parte destes críticos é encontrada no mundo acadêmico.

Um dos textos mais famosos que tratam dessas máximas é “Os Axiomas de Zurique”, de Max Gunther, que traz “conselhos secretos” para a orientação de investimentos.

O traço comum de todos os mitos – ou axiomas- é que instigam o nosso comportamento. Pois contém algo de nossa natureza, como esperança, ganância, medo e outros sentimentos afins.

Vários desses mitos são trazidos dentro de boas histórias. Obviamente de sucesso.

Algumas dessas histórias vêm baseadas em dados reais, mas lidos de maneira viesada. Outras contêm um personagem importante como Paul Getty, que fez US$ 1 bilhão no início do secúlo XX.

Ou mesmo Warren Buffett, presente em todas as listas dos mais riscos do mundo.

Risco de se guiar por influenciadores

Um fato interessante é que podem ser encontradas verdades nessas boas histórias. Mas, esse é o perigo porque são verdades que nem sempre podem ser replicadas. Dependem do ambiente econômico, do perfil do investidor e até mesmo da “sorte”.

Essas máximas em finanças muitas vezes servem como receitas de bolo nas mãos de “orientadores” de mercado, conhecidos também como “finfluencers”. Eles usam desses conceitos para recomendar investimentos e que acabam colocando em risco o patrimônio das pessoas que aceitam essas dicas.

A começar por questões básicas, como pré-determinar divisões para definir a carteira de investimentos.

Como exemplo, determinar porcentagens fixas para renda fixa e renda variável. Como também em relação às classes de ativos, como se isto pudesse ser generalizado.

Recomendar esse tipo de coisa é não entender que as pessoas têm rendas diferentes. Bem como modos diversos de tocar as suas vidas e culturas diferentes.

Enfim, que as pessoas mantêm condutas financeiras mais diversas. Portanto, não há como pré-estabelecer “menus” de investimentos.

Diversificação vale para todos investidores?

Outras tantas vezes podemos observar conflitos entre essas máximas. O exemplo maior é quando tratamos da diversificação de ativos da carteira de investimentos.

A diversificação é algo básico em finanças, a teoria sobre o assunto é mais que consolidada.

Mas, por vezes, estamos encontramos aqueles que recomendam que devemos resistir à tentação de diversificar. Porque ao mesmo tempo que pode reduzir o risco, também limita os lucros e dificulta o acompanhamento de todos os ativos.

Para finanças, a diversificação é uma regra. Afinal, será obtido o retorno médio ponderado, mas usualmente será conseguida a redução em relação ao risco médio.

O problema é que, mesmo sendo verdade, a diversificação não é para todos os bolsos. E isto nem sempre é dito com clareza e objetividade.

Por outro lado, indicar que a diversificação deve ser abandonada completamente, estamos dizendo para as pessoas “apostarem” e isto não é investir, mas sim jogo.

Risco e retorno

Essas máximas, por vezes, acabam nivelando a indicação do investimento mais adequado para a carteira. Pois há a tese de que investir depende basicamente do grau de aversão ao risco do investidor.

Esquecendo-se de que além do perfil do investidor devemos considerar duas outras variáveis em relação ao próprio investimento que são:

a) o prazo daquela aplicação (que depende de um objetivo pré-estabelecido);

b) da utilidade marginal do valor investido, em outros termos, da importância daquele dinheiro para aquele investidor.

Outras máximas lidam com a questão da eficiência dos mercados.

Novamente recorrendo a Buffett, há uma das suas frases que diz. “Eu seria um mendigo vagando pelas ruas com uma caneca na mão se os mercados fossem realmente eficientes.”

Essa é uma longa discussão e objeto de muitas teses de doutorado.

Contudo, mesmo admitindo que os mercados não sejam fortemente eficientes, garimpar títulos subavaliados exige um esforço muito grande e muito dinheiro nessa busca.

Assim, não é para todos.

Sobre o longo prazo

Outra frase ouvida constantemente é que “investir em ações é sempre um bom investimento no longo prazo”.

Esta afirmação merece uma abordagem mais detalhada para não gerar mal entendimento. Qualquer tipo de investimento é bom em si.

Dito de outra forma, não há investimentos ruins em tese. Mas, os diferentes tipos de investimentos não são sempre bons e para todos os investidores.

Mais objetivamente, investir em ações é um bom investimento e, preferivelmente, no longo prazo. Mas, não é algo indicado para todas as pessoas, todos os bolsos e em todos os momentos.

Aceitar essa frase como uma máxima é algo errado em tese porque diz que “ações são sempre um bom investimento no longo prazo”.

Primeiro para que pudéssemos dizer que isso é verdadeiro teríamos que admitir que se trata de evento certo, mas isso não é verdade.

Outro aspecto é que, dependendo do intervalo de longo prazo considerado para análise, podemos obter resultados positivos ou negativos.

Erros comuns que nada tem a ver com máximas

Não entender o que é marcação a mercado na renda fixa

Marcação a mercado é a valorização dos ativos de renda fixa com base no cálculo do valor atual de mercado.

Pela fórmula de cálculo utilizada, se a taxa de juros sobe o valor (hoje) do título cai – o contrário é verdadeiro.

Por exemplo, se um investidor compra um título do Tesouro por R$100 com base na taxa de 11% ao ano com vencimento para 2030.

Porém, resolve vender antes do vencimento e na venda os juros subiram para 13% ao ano, o valor de negociação do papel será mais baixo do que quando foi adquirido.

Resgatar investimento antes do vencimento e pagar maior alíquota de Imposto de Renda

Não observar a tabela do Imposto de Renda incidente sobre o ativo adquirido pode levar a perdas.

Isso pode ser observado na tabela abaixo: a alíquota do tributo é decrescente conforme o prazo do investimento.

Como no exemplo anterior, vender o título antes de seis meses de prazo o Imposto de Renda será de 22,5% sobre o rendimento.

Por sua vez, se o investidor esperar até o seu vencimento, a incidência será de 15%.

Prazo de aplicaçãoAlíquota de Imposto de Renda
Até 180 dias22,5%
Entre 181 e 360 dias20%
Entre 361 dias até 720 dias17,5%
Acima de 720 dias15%

Investir de forma informal

Investidores com baixo conhecimento de mercado muitas vezes acabam aplicando dinheiro por meio de “agentes” sem qualificação alguma.

Acreditam em falsas promessas de retorno e entregam os seus recursos nas mãos de pessoas que arriscam em aplicações absolutamente erradas.

Investir querendo retorno rápido ou então com a promessa de retorno expressivo

Esse é o caso de investidores que por falta de conhecimento ou excesso de malandragem querem obter ganhos acima do normal e de forma rápida, acabam aplicando dinheiro em esquemas fraudulentos como as pirâmides financeiras.

Muito comum hoje em dia no mercado de criptos. Quem sai primeiro ainda sai algum dinheiro, mas quem fica perde tudo.

Como lidar com os investimentos

Enfim, há alguma moral nessas histórias e máximas?

Sim, que não há “receitas fechadas” que deem conta de gerar ganhos anormais ou riqueza para todos.

Neste ponto vale lembrar o velho ditado: “Não há almoço grátis.”

Até mesmo poderíamos cunhar outra máxima: “Aquele que realmente sabe ganhar dinheiro ao outro não contará”.

Bom, nesta eu acredito.

Mas como lidar com isso tudo? Uma boa saída para conviver com todo esse contexto é lembrar-se de Aristóteles que com toda sua sabedoria dizia: “A virtude está no meio”.

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