Duelos épicos: quem venceria a disputa entre os titãs Warren Buffett e a taxa Selic?
Duelos épicos: quem venceria a disputa entre os titãs Warren Buffett e a taxa Selic?
Entender quem venceria esses duelos épicos permite analisar o mundo dos investimentos – e assim obter insights importantes sobre estratégias de investimentos
Imagine que Mike Tyson e Muhammad Ali (Cassius Clay) houvessem vivido seus auges esportivos enquanto pugilistas na mesma época e se enfrentassem nos ringues. Com certeza seria uma luta épica entre as duas lendas do boxe, mas quem venceria?
E se a seleção brasileira de futebol de 1970 de Pelé jogasse contra a seleção argentina de Maradona, quem venceria? Poderíamos enumerar infindáveis destas “batalhas épicas” envolvendo lendas do esporte, que nunca ocorreram, mas que os fãs adorariam ver.
Estas são perguntas, na verdade, impossíveis de serem respondidas de forma totalmente objetiva, afinal nunca aconteceram na realidade, mas nem por isso os analistas, comentaristas e fãs deixam de dar seus palpites, baseados parcialmente em estatísticas e números do esporte, mas também, claro, em fatores subjetivos e suas preferências pessoais.
O ponto é que tentar entender quem venceria esses duelos épicos nos permite analisar o esporte observado em mais profundidade, compreender seus fundamentos e assim obter insights importantes. O mesmo vale para o mundo dos investimentos.
Renda fixa vs. renda variável: Selic ou Buffett
Em uma batalha hipotética entre a Selic brasileira e os investimentos de Warren Buffett, quem venceria?
Da mesma forma que no caso dos esportes, não é possível atribuir uma resposta totalmente objetiva e incontestável afinal a comparação envolve tipos diferentes de investimento (renda fixa vs renda variável), países e moedas diferentes (Brasil e reais vs Estados Unidos e dólar).
A comparação, porém, nos permite obter insights valiosos para os investidores e sua gestão de carteira. Estes dois titãs estão entre os melhores investimentos do mundo há décadas, mas vamos analisar os dados dos últimos 10 anos.
Para começar, vamos analisar os resultados obtidos pelos titãs nos últimos 10 anos, de forma nominal, sem considerar as diferenças entre moedas e que estão em países diferentes.
Valores nominais (média 2014-2023)
Retorno (% a.a.)
Risco (% a.a.)
Relação Retorno/Risco
Selic brasileira
9,3%
4,1%
2,27
Warren Buffett (BRK-A)
14,2%
16,6%
0,86
S&P500
11,9%
15,8%
0,75
T-Bonds 10 anos
1,5%
8,6%
0,17
Fontes: Banco Central do Brasil; Yahoo Finance; Aswath Damoraran
Foram considerados os retornos médios nominais dos últimos de 2014 a 2023, bem como o risco, calculado como desvio-padrão dos retornos no período. O investidor, de acordo com a teoria clássica de finanças, busca maximizar a sua relação retorno sobre risco, ou seja, obter o maior nível de retorno correndo o menor risco possível.
Titãs foram ótimos investimentos
Os números demonstram como a Selic e Buffett foram ótimos investimentos. Buffett superou com folga o retorno médio de mercado dos EUA por meio do S&P500, com 14,2% contra 11,9%, um ganho 20% maior com um nível de risco parecido.
Assim sua relação retorno/risco foi de 0,86 contra 0,75 do S&P500. Historicamente, nas últimas décadas, os resultados são ainda mais significativos, com Buffett obtendo retorno próximo de 21% contra 10% do S&P500.
A Selic foi ainda mais bem-sucedida, obteve retorno de 9,3% contra 1,5% dos títulos do governo dos EUA de 10 anos (T-BONDs 10 anos) com metade do risco.
Selic versus Buffett em valores nominais
Já no duelo dos titãs, no critério nominal, a Selic foi a vencedora contra Buffett. Apesar do retorno menor de 9,3% versus 14,2%, o seu risco foi apenas um quarto do risco de Buffett, fazendo uma relação de retorno sobre risco de 2,27 da Selic contra 0,86 de Buffett.
Ponto para a Selic.
Mas e se considerarmos os valores em moeda forte, ou seja, em dólares o que acontece?
Selic versus Buffett – valores em dólares
Quando consideramos os valores em moeda forte, ou seja, em dólares, é preciso considerar que a Selic é paga em reais e nos últimos 10 anos o real se desvalorizou em relação ao dólar.
No início de 2014 a cotação estava R$/US$ 2,34 enquanto em fins de 2013 havia aumentado para R$/US$ 4,84, ou seja, uma desvalorização de 107%.
Considerando-se o retorno da Selic em dólares teria mudado de, 9,3% a.a. nominal, para 1,6% a.a. e para uma relação de retorno/risco de 0,40 (ao invés de 2,27).
Ainda assim teria superado os T-BONDs com folga, relação de 0,40 contra 0,17, mas teria perdido para Buffett com relação de 0,86, o dobro da Selic em dólares.
Ponto para Buffett.
Afinal, quem venceu então?
Os dois investimentos foram excelentes, com vencedores diferentes, dependendo do critério utilizado. Nas duas análises realizadas, em termos nominais e em dólares, tivemos uma vitória para cada lado. Assim, foi um empate? 1 x 1? Pode ser, mas o grande vencedor foi mesmo o investidor que diversificou a sua carteira e investiu tanto em Buffett (ou no S&P500) e na Selic.
No reino dos investimentos é possível escalar Pelé e Maradona na mesma seleção ou ter Tyson e Ali no mesmo time, basta, para tanto diversificar a sua carteira. Essa é a grande lição do duelo dos titãs, é possível investir nos dois (e em outros ótimos investimentos também).
Diversificar os seus investimentos permite montar uma carteira com um “time dos sonhos”, o que todo investidor deve fazer, afinal isto é inteligência financeira.