Bagunça de Donald Trump é boa para investidor brasileiro, diz Bruno Serra, gestor de R$ 12 bilhões
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Em menos de 100 dias, o presidente dos Estados Unidos sequestrou a pauta dos mercados, bagunçou o sensível equilíbrio da geopolítica e modificou o ciclo da economia pelo mundo. Mesmo assim, Donald Trump pode ser bom para o investidor brasileiro.
Para Bruno Serra Fernandes, gestor da família de fundos Janeiro, da Itaú Asset, o retorno de Trump à cadeira política mais poderosa do mundo impacta diretamente em todas as suas decisões de investimento. E vai demandar uma profunda reorganização dos portfólios.
“Aquela corrida para o dólar que a gente viu nos últimos anos perde um pouco de força. Essa é a primeira mensagem fundamental”, afirma Bruno Serra.
“Outra coisa importante é um crescimento nominal mais alto da Europa. A Europa vai gastar dinheiro (com investimentos em defesa), e isso nos parece bom para bolsa, para países emergentes e para as moedas de países emergentes”, destaca.
Bruno Serra participou da última edição do PodInvestir, o podcast original da Inteligência Financeira. A entrevista completa, em áudio e vídeo, você acompanha aqui, no Spotify e aqui, no Youtube.
O programa também está disponível em todas a principais plataformas de streaming do mercado.
Bruno Serra abre uma série com quatro programas, semanais, dedicados a compreender os 100 primeiros de dias de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. E como ficam os investimentos a partir de suas ideias e políticas.
Europa vai crescer mais e EUA, menos
Do ponto de vista econômico, a primeira grande alteração no cenário desenhado pelo gestor, que já foi diretor de política monetária do Banco Central, foi o redesenho de crescimento econômico entre os países desenvolvidos.
Se antes ele esperava um crescimento de cerca de 2,5% para o PIB dos Estados Unidos em 2025, agora a tendência é de uma alta menor. perto de 1,5%.
“A agenda de Trump é de economizar algo como US$ 100 bilhões, US$ 200 bilhões em gastos discricionários. “Na imigração, você limita a entrada de gente para trabalhar, joga o crescimento potencial para baixo nos Estados Unidos”, destacou o gestor.
Já na Europa, o movimento é contrário. As sinalizações claras do governo americano de que não pretende renovar as políticas de segurança para o continente, força o bloco a um investimento massivo em defesa.
Desde a guerra da Rússia na Ucrânia, os líderes dos países europeus se sentem ameaçados pelo receio de uma Rússia com anseios expansionistas.
Como exemplo desse temor, ele aponta o recente aval do parlamento alemão para que o país estoure seu teto de gastos, com a liberação de um pacote de 1 trilhão de euros em investimentos militares.
“Eu acho que a gente conseguiu no mundo desenvolvido uma nova licença para gastar”. afirmou Bruno Serra.
“(Aqui no Brasil) a gente rompe o nosso teto de gastos do arcabouço fiscal por qualquer razão. Com os alemães, os mercados, os investidores, o resto da Europa, todos imploravam para eles romperem o teto de gastos. Mas eles não faziam por nada. Fizeram agora”. destacou.
Como resultado, ela projeta, o PIB europeu deve crescer dos antes estimados 0,5%, para perto de 1,5%. “Esse reequilíbrio passou a favorecer investimentos fora do dólar”, disse.
Países emergentes vão se beneficiar
A expansão econômica europeia, nas contas de Bruno Serra, deve aumentar a demanda por commodities metálicas, num perfil de investimento parecido com o chinês nos últimos 20 anos. Isso, segundo ele, é bom para exportadores de insumos correlatos.
“(A Europa) vai precisar atualizar o grid de energia. Vai precisar de cobre. Vai precisar de lítio. Vou precisar de metais básicos em geral”, afirmou.
Para o Brasil, o gestor não vê um impacto grande para a Bolsa para este primeiro momento. Mas, futuramente, sim. As primeiras transmissões positivas já começaram, via câmbio, com a apreciação do real frente o dólar. Isso tende a impulsionar uma melhora no ciclo econômico, com uma afrouxamento no aperto de juros.
131% do CDI
Bruno Serra administra R$ 12,7 bilhões de reais na família de fundos Janeiro, sendo R$ 7 bihões em renda fixa ativa e R$ 5,7 bilhões em multimercado.
O multimercado, por sinal, vai se destacando em um momento bastante difícil para a indústria. Com apostas no fechamento da curva curta de juros de juros no Brasil, posições aplicadas em juros na Inglaterra e nos Estados Unidos, o fundo obteve um retorno forte no começo do ano.
Numa janela de 12 meses, o multimercado do janeiro acumula rentabilidade de 131,93% do CDI, segundo posição antes do fechamento de março.
O Janeiro está dentro da área de multimesas da Itaú Asset, que hoje tem mais de R$ 100 bilhões sob gestão.
Criado em 2020, o multimesas é uma plataforma inspirada em hedges funds americanos como Millenium e Point72.
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