A Vale (VALE3) tem a ação com maior peso no Ibovespa (16,4%), logo atrás vem a Petrobras (PETR3, PETR4), com 11,57% de participação no índice. Além disto, as duas empresas são grandes geradoras de caixa e pagadoras de dividendos. O terceiro Duelo IF coloca essas duas ações frente a frente: em qual papel é melhor investir agora, em Petrobras ou Vale?
Especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira para o confronto deixam claro que as duas são excelentes empresas e não são as maiores da Bolsa brasileira à toa. Neste caso, os riscos são critério de desempate, mas é importante entender os principais pontos positivos também para fazer uma boa escolha.
2016 foi um ano-chave na história da Petrobras. Foi quando a política de preços da companhia mudou para usar o Preço de Paridade de Importação (PPI) para definir os reajustes da gasolina e diesel. Desde então, a gestão da empresa tem sido elogiada.
A petrolífera passa por um forte processo de desinvestimento, se desfazendo de ativos para focar no pré-sal, onde consegue margens maiores. “A Petrobras hoje é operacionalmente muito eficiente e está otimizando portfólio; é uma empresa muito diferente na comparação com 2015”, diz Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos.
Petróleo nas alturas
O conflito entre Rússia e Ucrânia fez com que vários países implantassem sanções que atingem a produção russa de petróleo. Isto favorece a Petrobras, já que o preço do petróleo tipo brent está nas alturas. Com o barril na faixa dos US$ 120, a Petrobras consegue margens maiores.
“Não temos perspectivas de fim da guerra e o ocidente continua apoiando a Ucrânia, a tensão deve permanecer e petróleo deve continuar em patamares elevados”, afirma Matheus Jaconelli, analista da Nova Futura Investimentos.
Números fortes
Na análise fundamentalista, alguns fatores são relevantes. Entre eles, está a relação entre a dívida líquida e ebitda ajustado, que está em 0,62x, o que significa que, se quiser, a empresa consegue pagar suas dívidas em menos de um ano. É o menor valor da história para a companhia neste indicador; a média é de 6,10x, o que indicaria que a empresa precisaria de pouco mais de seis vezes o valor do ebtida para pagar suas dívidas.
O preço/lucro, outro indicador importante, está em 2,55x, o que é considerado barato pelos analistas. “É um ativo muito descontado para uma empresa com margens muito boas e percentual de retorno alto”, comenta Matheus Jaconelli.
Sobre o retorno citado por Jaconelli, o dividend yield, que mostra quanto o investidor teve de retorno em dividendos em um ano na comparação com o preço da ação, está em 39,41%. Já a margem líquida no último trimestre foi de 23,53%, bem acima dos 8,85% na média histórica.
Política nos investimentos
O grande receio de quem investe na Petrobras é a intervenção do governo federal na estatal. A política de preços da empresa é alvo de críticas e, além das trocas de comando, o presidente Jair Bolsonaro já fez várias declarações indicando que pode intervir na empresa.
A volatilidade do papel pode ser um ponto de atenção para o investidor, já que o Brasil vive ano eleitoral e a empresa é assunto frequente nos debates e apresentações de planos de governo.
“O mercado não desconta os papéis da Petrobras à toa, já que a empresa sempre vai carregar o risco de intervenção, assim como acontece com o Banco do Brasil (BBSA3)”, analisa Crespi.
Assim como a Petrobras, a Vale também é líder no seu setor. A exposição ao mercado internacional, principalmente à China é um dos pontos positivos da empresa. “A Vale fornece matéria-prima para uma das coisas que o mundo mais demanda: a industrialização”, diz Sidney Lima, analista da Top Gain.
Com o preço do minério de ferro elevado, assim como o do petróleo, a Vale também consegue entregar bons resultados e precificar com tranquilidade o seu produto, já que a demanda está aquecida.
Menor volatilidade
Uma das vantagens do investimento na Vale é o seu peso no Ibovespa. A grande participação do papel no índice faz com que a carteira de quem investe na ação se aproxime mais do Ibovespa, que geralmente é a referência para o mercado brasileiro de ações.
“Muita gente coloca a Vale na carteira porque tem relação muito forte com o Ibovespa, assim você perde volatilidade”, explica Jaconelli. Na comparação com a Petrobras, a volatilidade passa a ter um peso maior em ano de eleição.
Indicadores positivos
Assim como a Petrobras, a Vale apresenta números atrativos para o investidor. O preço/lucro estava em 3,6x no fechamento do dia 13 de junho. Destaque também para o pagamento de dividendos, com o dividend yield em 17,20%, bem acima da média histórica, de 6,92%.
Os indicadores de endividamento também são muito positivos na Vale. O indicador de Dívida Líquida/Ebitda estava em 0,16x, o que mostra que a empresa pode acabar com sua dívida com facilidade.
China preocupa
A demanda chinesa por minério de ferro é uma das forças da Vale, mas também pode ser motivo de preocupação. Isto porque o governo do país asiático costuma ser rígido na questão sanitária e decretar lockdowns ao perceber surtos de Covid-19 em seu território.
Com os fechamentos, os preços do minério de ferro são diretamente afetados e o preço da ação também com investidores se antecipando a resultados mais fracos que o esperado anteriormente.
Petrobras ou Vale, quem ganha?
Desta vez, a decisão não foi unânime, mas especialistas apontam a ação da Vale como a preferida no cenário atual. Os pontos positivos são parecidos nas duas empresas: liderança no setor, forte geração de caixa e força da commoditie atualmente. Porém, são os riscos que desempatam.
A Petrobras está no centro de um debate sobre inflação perto de uma das eleições presidenciais mais aguardadas no Brasil. “Considerando o contexto local, perspectivas de crescimento e a Covid-19, a melhor opção é partir para o lado da siderurgia, porque não é só o Brasil que tem demanda pelo minério de ferro”, diz Sidney Lima.