Investimento ESG desaparece da agenda da BlackRock, maior gestora do mundo

Pela primeira vez em dez anos, CEO da BlackRock não faz nenhuma menção à agenda ESG em carta a investidores

Depois de quase dez anos empunhando a bandeira da sustentabilidade nos investimentos, a agenda ESG (sigla para boas práticas sociais, ambientais e de governança) desapareceu de vez das preocupações da BlackRock, a maior gestora de recursos do mundo.

Todos os anos, Larry Fink, o presidente da gestora que administra US$ 11,6 trilhões, publica uma carta aberta aos investidores. O material é visto como uma espécie de bússola para o mercado sobre os pontos de atenção e as oportunidades de negócios e investimentos observados pela gigante norte-americana.

A temática ESG esteve presente nessas cartas desde 2016. Sendo que entre os anos de 2017 e 2023, o assunto foi protagonista nas estratégias compartilhadas pelo gestor.

No ano passado, uma surpresa. Larry Fink escolheu um assunto diferente para ancorar a conversa: a poupança dos americanos para aposentadoria.

Mas o ESG estava lá, embora de maneira marginal, presente unicamente na discussão sobre o equilíbrio entre a descarbonização de energia e a manutenção no uso de combustíveis fósseis.

Este ano, não houve comentários sobre diversidade, equidade e inclusão ou estruturas de investimento sustentável. Detalhe, no que tange aos investimentos ESG, ainda fazem parte dos negócios da BlackRock.

Nenhuma menção

Na carta de 2025, portanto, Larry Fink pela primeira vez em dez anos escolheu excluir o tema sustentabilidade nos negócios. Não há menção nem mesmo que indireta.

O mote da carta de 2025 é ampliar o acesso dos investidores de varejo às classes de ativos alternativos, incluindo participação em empresas, crédito e infraestrutura.

Empresas abandonam inciativas

O descompromisso de Larry Fink com o ESG em sua carta anual aos investidores não é uma primazia da BlackRock. Ela segue um movimento hoje do ambiente de negócios americano.

No desejo de se alinhar ao discurso de Donald Trump e sua pauta anti-woke, grandes corporações americanas como Walmart, Google, Microsoft e Meta anunciaram o fim de suas ações para inclusão.

Na virada do ano, Morgan Stanley, Goldman Sachs, Wells Fargo, Citi e Bank of America deixaram uma aliança organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) de combate às mudanças climáticas, a Net-Zero Banking Alliance (NZBA).

Canal do Panamá

No começo de março, a BlackRock liderou um consórcio de investidores comprar o controle dos portos instalados no Canal do Panamá. Tanto o porto do lado do Pacífico, quanto do lado do Atlântico.

A gestora de Larry Fink anunciou desembolso de US$ 22,8 bilhões por 90% da operação, que até então era da chinesa CK Hutchison.

Confira abaixo um histórico sobre as cartas da BlackRock nos últimos dez anos:

2025: expansão em mercados privados

Na última carta., Larry Fink enfatiza a necessidade de democratizar aos investidores de varejo o acesso a investimentos em mercados privados, como infraestrutura e crédito privado.

Ele propõe uma mudança na alocação tradicional de portfólio de 60% em ações e 40% em títulos de renda fixa para 50% em ações, 30% em títulos públicos e 20% em ativos privados.

2024: investimento em infraestrutura

Diante das limitações fiscais dos governos, o CEO da BlackRock destacou a importância de parcerias público privadas para financiar projetos de infraestrutura, especialmente no setor energético.

Ele apontou que o mercado de infraestrutura, avaliado em US$ 1 trilhão, apresenta oportunidades significativas para investidores privados.

No campo do ESG, Larry Fink menciona que a gestora continua investindo em energia e destaca a importância de equilibrar a necessidade de descarbonização com combustíveis fósseis.

2023: pragmatismo energético

Larry Fink abordou a necessidade de equilibrar a transição para energias renováveis com a realidade da dependência contínua de hidrocarbonetos.

Ele destacou que a segurança energética requer investimentos tanto em fontes tradicionais quanto em tecnologias limpas, promovendo uma abordagem pragmática ao investimento energético.

2022: sustentabilidade e ESG

O CEO da BlackRock reforçou a importância dos critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) nas decisões de investimento.

Ele argumentou que empresas com fortes perfis ESG estão melhor posicionadas para o sucesso a longo prazo e que os investidores deveriam considerar esses fatores na alocação de capital.

2021: risco climático

Em plena pandemia, a carta destaca que o risco climático representa um risco de investimento significativo.

O presidente da BlackRock instou as empresas a divulgarem planos claros de transição para uma economia de zero emissões líquidas, sugerindo que investidores deveriam reavaliar exposições a setores com altas emissões de carbono.

2020: sustentabilidade como padrão de investimento

Fink anunciou que a sustentabilidade se tornaria o novo padrão para os investimentos.

Ele enfatizou que mudanças climáticas e questões sociais deveriam ser centrais nas estratégias de investimento, indicando uma mudança significativa na abordagem da BlackRock.

2019: propósito corporativo

O gestor argumentou que empresas devem ter um propósito claro além do lucro, atendendo às necessidades de todas as partes interessadas.

Fink sugeriu que investidores deveriam focar em empresas que demonstram compromisso com a criação de valor sustentável.

2018: responsabilidade social

Aqui, ele enfatizou que empresas precisam contribuir positivamente para a sociedade. Larry Fink sugere que investidores deveriam considerar o impacto social das empresas ao tomar decisões de investimento.

2017: governança corporativa

A carta destaca a importância de uma governança corporativa sólida. O texto sugere que investidores deveriam priorizar empresas com práticas de governança transparentes e responsáveis.

2016: responsabilidade e crescimento de longo prazo

A narrativa trabalhada por Larry Fink na carta para os investidores incentiva empresas a focarem no crescimento sustentável de longo prazo, em vez de resultados trimestrais imediatos.

Ele sugere que investidores deveriam apoiar empresas com estratégias de crescimento duradouras.

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